quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

RECONSTRUCIONISMO, DIREITA, NAZISMO E FASCISMO - Alguma Relação?




INTRODUÇÃO


Uma forma sofista hoje de argumentar, principalmente no que diz respeito à política, é acusar o mais depressa possível o adversário de nazista ou fascista. Já até ganhou um nome como falácia informal, a saber, o ad hitlerum. Não precisa nem fazer muito sentido. Parece até que se você falar com alguma convicção, basta. Se houver um bom número de pessoas dizendo, então, melhor ainda. Esse é o modus operandi de boa parte da esquerda, dos progressistas. É o suficiente para desqualificar o alvejado por tais impropérios políticos. Mas é apenas mais uma forma covarde de manipulação retórica. O reconstrucionismo não é o primeiro alvo de tais acusações. Conservadores e pessoas de direita, em geral, já foram acusados alguma vez de um ou de outro, mesmo sem fazer sentido algum.

Foquemos nisso, pois. É bem verdade que o Reconstrucionismo, a depender dos cânones de análise, poderia ser localizado à direita. Mas faz sentido qualquer acusação de que o nazismo ou o fascismo foram movimentos de direita ou, mais especificamente, que são análogos ao reconstrucionismo?

Os argumentos que tentam provar algo nesse sentido normalmente levantam pontos de analogia adjacentes, acidentais ou irrelevantes para tentar, por elas, nos fazer pensar que o todo se encaixa, e que uma coisa pode em geral se confundir com a outra. É, na lógica, o argumento da ‘falácia da falsa analogia’. Nela, basicamente, buscando-se provar algo em A, se faz analogia com B, que guarda algumas semelhanças, e, sem qualquer justificativa, passa-se a afirmar os pontos não análogos de B em A. Em termos menos formais, um exemplo vem a calhar. Se algum político de direita sobe ao poder, logo vão tentar aplicar o ad hitlerum. E para ‘provar’, mostram que ambos eram políticos, bebem água, gostam do exército e de ordem. Apontam esses e alguns outros detalhes provavelmente verdadeiros, sem apontar o que é substancioso. É como dizer que alguém está sob suspeita de um crime por ter semelhanças com o bandido visto no local onde foi realizado e, depois de questionado sobre as semelhanças, dizer que o perpetrador tinha duas pernas, pés, dois braços, mãos, cabeça, dois olhos e assim por diante. No caso do reconstrucionismo, chegam à pachorra de dizer que ele é essencialmente a mesma coisa que nazismo ou fascismo por usar mídias para disseminação de ideias! Isso quando simplesmente não mentem dizendo que o Reconstrucionismo preconiza algum tipo de devoção a uma liderança! À liderança de Cristo nos céus, certamente! Mas jamais à liderança de homem algum! É por isso que Deus estabeleceu não apenas uma Igreja, mas também uma Bíblia, para que, no caso da corrupção eclesiástica, não fôssemos reféns de homem algum!

Mas o que distingue, portanto, essencialmente, o Nazismo ou Fascismo das posições de direita em geral, e do Reconstrucionismo especificamente?

Se dissermos que conservadores, liberais e reconstrucionistas são críticos ferrenhos de toda forma de totalitarismo, dirão que não basta, que é fachada, tal como o Nazismo carregar ‘socialismo’ no nome ser mera aparência. Todavia, lançam a favor da posição de que Hitler não era de esquerda ou progressista por ter combatido comunistas. Oras, se ele combater comunistas prova que não era um, então quando os conservadores e reconstrucionistas combatem os nazistas e fascistas não valeria para provar que não se identificam com esses grupos?

É claro que esta é uma simplificação, mas já dá pra vermos como as coisas são tomadas com leviandade no que diz respeito a tais assuntos. Para demonstrarmos a distinção, basta que apontemos as diferenças principais e rapidamente se poderá perceber que as coisas não batem.


1 - DIFERENÇAS EVIDENTES


Nesta seção, mostraremos elementos presentes nas perspectivas de direita que são absolutamente incompatíveis com perspectivas totalitárias e autoritárias (como o nazismo ou o fascismo). Na próxima, mostraremos outras diferenças sutis mas que, bem distinguidas, ainda servem para mostrar o contraste. Por fim, mostraremos os pontos realmente mais parecidos mas destacaremos as diferenças que ainda subsistem.


  1. Estado Mínimo vs Estado Máximo

Para começo de conversa, podemos colocar como análogo para o Reconstrucionista e o Conservador, ou o Reconstrucionista e o Libertário (pois há reconstrucionistas mais partidários de posições politicamente libertárias), o fato de que todos esses adotam uma perspectiva de Estado Mínimo (ou até mesmo nulo!). Essa já é uma gritante diferença tanto em relação ao Fascismo quanto em relação ao Nazismo. Não é possível autoritarismo ou totalitarismo com um Estado Mínimo! Por definição, o autoritarismo só pode ser exercido se o Estado for muito poderoso, a ponto de conseguir ordenar inconteste tudo o que quiser aos cidadãos. E o totalitarismo, igualmente por definição, só é possível se o Estado assumir várias e várias funções, impedindo o cidadão de exercer sua liberdade. Como poderia haver totalitarismo se o Estado não faz outra coisa senão zelar em última instância pela manutenção da ordem e cumprimento da Lei? Claro, se a Lei for totalitária, essa proposição é contraditória. Mas numa perspectiva liberal, o Estado não tem nem mesmo prerrogativa de gerar saúde e educação. Seu ofício é o policial e de julgar e executar as penas.
Só isso bastaria para que o ad hitlerum fosse desacreditado como um enorme engodo. Pior ainda, esta é uma perspectiva muito mais aproximada às visões de esquerda, progressistas, que insistem em tornar o Estado cada vez maior e mais presente. Um Estado para ter poder para redistribuir as rendas, tirar dos ricos e realocar os recursos deve ser poderoso o bastante para enfrentar a qualquer organização. Para isso, tem de ser muito grande e forte para não poder ser resistido pelo levante de quaisquer cidadãos ou conjunto de cidadãos. É o contrário do que todas essas perspectivas de direita propõem.


  1. Livre Mercado vs Economia Planificada

Vale mencionar a relação com o Mercado. Ao passo que o Nazismo, e. g. tenha adotado a pretensa economia racional, ou a planificação econômica, conservadores, liberais e reconstrucionistas advogam o livre mercado. Para quem não está familiarizado às discussões econômicas, esta pode parecer uma diferença acidental. Todavia, a liberdade nas trocas é fundamental para determinar nossa liberdade. É ela que move a maior parte das forças dos indivíduos numa sociedade. A partir dela, os indivíduos escolhem a profissão que quiser, adotam as atividades que bem entenderem para sobreviver e melhorar de vida, têm liberdade de escolher o que querem possuir e consumir e de produzir o que bem entenderem. É evidente que há distinções entre as perspectivas de direita quanto ao grau desta liberdade, i. e., enquanto alguns (libertários e liberais) adotam uma perspectiva de liberdade absoluta, outros (conservadores e reconstrucionistas) colocam um limite mínimo pelo filtro moral e dos costumes - inclusive com argumentos econômicos de ser a cultura e a moral condições para o mercado, não só para as relações de confiança, como para o próprio conhecimento valorativo das coisas. O livre-mercado é adotado pelo Reconstrucionista por estar de acordo com os quinto, sexto e oitavo mandamentos. A economia planificada é mais uma forma de lançar as garras sobre os indivíduos e minorar sua liberdade. Ou seja, é mais um passo no ‘caminho da servidão’.


  1. Armamento Civil x Desarmamento Civil

Ainda parece-nos relevante mencionar outro fator que determina a liberdade individual e distingue a direita e o reconstrucionismo de ser identificado com o nazismo ou o fascismo, a saber, a questão armamentista. Ao passo que as posições de direita são à favor do direito à defesa pessoal e até mesmo de resistir ao Estado quando este se tornar inaceitável - o direito à resistência civil -, temos no Nazismo, claramente, uma política desarmamentista. Uma população desarmada é não só insegura em relação aos criminosos e bandidos que estão no seu meio - dos quais o Estado não tem condição de nos proteger integralmente -, mas também em relação ao próprio Estado. Se os governantes saírem da linha, monopolizando os poderes bélicos, será impossível de ser vacanciado coercitivamente.


Se alguém quer impedir as barbaridades do totalitarismo, deve começar observando esses três aspectos. Sem observá-los, nada poderá ser feito caso um ditador sem escrúpulos se levante. E, particularmente aqui, conservadores e reconstrucionistas estão ainda mais próximos quando dizem que o homem é mau e não confiável, e que é justamente por isso que não podemos deixá-lo com tantos poderes em mãos, que devemos mantê-lo sob vigilância. É brincar de roleta russa inflar um Estado. E, as experiências totalitárias do século XX infelizmente nos provam isso na prática.


2 - MEIAS-VERDADES


  1. Imposição Moral


É bem verdade que o fascismo apregoava algum tipo de discurso moralista, tal como o fazem conservadores e reconstrucionista - desde que não tomemos ‘moralista’ no sentido pejorativo de hipócrita. Essa é uma analogia verdadeira. E conservadores e reconstrucionistas não libertários realmente acreditam que o Estado deva impor alguma moralidade. A grande questão é ver como isso é feito. Ao passo que no fascismo havia uma perspectiva totalitária, conservadores e reconstrucionistas entendem que isso se dá debaixo para cima, i. e., que as leis inibidoras de comportamentos refletem a moralidade dos indivíduos, os valores da comunidade, de modo que os transgressores são perturbadores da ordem e da paz - e, no caso do reconstrucionista, rebeldes contra Deus.

Antes de mais nada, é importante notar, ainda que de forma breve, que é impossível não haver uma imposição de moralidade. Em qualquer perspectiva de Estado, há uma prescrição para o outro. Mesmo numa perspectiva totalmente anarquista, há o imperativo moral de que os homens não devem governar sobre os outros e nem lhes ordenar o que fazer, ou interferir em suas vidas. Em qualquer concepção política, pois, haverá uma imposição moral.

E mesmo num acordo de maioria, sempre poderá haver alguém inserido numa sociedade que discorde dos seus valores. Isso pode ser uma minoria com valores distintos, estrangeiros ou mesmo um bandido que julgue ter o direito de roubar, matar ou estuprar. Então, se emergirá a questão moral de ser lícito ou não impor sobre este tais normas da maioria ou se isso não deveria ser feito e, assim, se deveria observar uma lei que contemplasse a todos os valores - talvez uma perspectiva liberal, alguém diria. A questão é discutir moralmente justamente essa questão. Quem determina quando e como interferir? Reconstrucionistas adotam uma perspectiva bíblica. Conservadores tomam os valores culturais como parâmetro, principalmente os valores milenares e testados pelo tempo. Numa cultura cristianizada, conservadores e reconstrucionistas tendem a se harmonizar. Mas é possível um conservador argumentar em função da experiência da cristandade e das influências cristãs. De toda forma, não é o tema para ser ampliado aqui.

Uma questão que ainda precisa ser levantada é que o grau de tolerância é determinado por nossos valores. Por exemplo, para um cristão seria imoral não interferir numa situação em que uma tribo indígena sacrificaria uma criança ou não interferir num casamento de um muçulmano com uma criança de dez, doze anos. Se tivermos poder para impedir o que realmente acreditamos ser maus e não o fazemos não somos moralmente superiores por tolerar, mas covardes!


  1. Nacionalismo


Isso já nos faz ver a diferença entre o nacionalismo dessas vertentes. Ao passo que tanto no conservadorismo - por questão de afinidade, familiaridade - quanto no reconstrucionismo - por questão de ordo amoris, i. e., por questão de graus de proximidade biblicamente estabelecidos, saindo do cônjuge, filhos, pais, irmãos na fé da sua igreja local, das demais igrejas e do mundo todo, vizinhos, pessoas da rua, bairro, cidade, país… - existe uma fundamentação para o nacionalismo, que naquele caso diz respeito à valorização dos conhecidos e dos valores e riquezas culturais do que é nosso, e neste último caso dizendo respeito a um dever moral, sem ignorar o motivo conservador. Mas isso é muito diferente de um nacionalismo ideológico, proposto como projeto de poder e que não emerge naturalmente das afeições naturais ou dever para com o próximo, mas de um discurso político, ou seja, um nacionalismo artificial. Essa diferença sutil faz toda a diferença. O nacionalismo ideológico é compatível e até útil ao totalitarismo. Alguém pode dizer até que é indissociável. Seja como for, não tem nada que ver com os nacionalismos dos conservadores ou dos reconstrucionistas.


  1. Racismo?


Outra confusão muito comum é a relacionada à acusação de racismo da parte de esquerdistas para conservadores e pessoas de direita em geral. Está baseada na confusão entre raça e cultura, como se elas se implicassem mutuamente. Alguém de uma raça pode perfeitamente ser de duas ou mais culturas diferentes, ou até mesmo de uma cultura diferente daquela que sua raça normalmente abraça. Assim, quando acusam qualquer pensamento de direita, pelo prisma dos princípios multiculturalistas, de racismo, estão, na verdade, vendo uma crítica à raça de alguém quando se está criticando uma cultura, alguns valores e coisas do tipo. É só mais uma confusão por semelhança, para tentar fazer a atitude evidentemente racista de Hitler para com os judeus - como raça - parecer ser a mesma daquelas que tecem críticas culturais seja à própria ou a outras culturas. Aliás, essa uma das grandes diferenças entre as perspectivas de direita e os dois movimentos totalitários que intitulam este pequeno texto. 

Esse mesmo multiculturalismo, curiosamente, não raro justifica as barbaridades muçulmanas ou hinduístas como questões meramente culturais, mas está pronto a condenar o reconstrucionismo, não aceitando os valores culturais dos judeus. Está, de fato, no espírito de boa parte dos setores progressistas o ser anticristão e antissemita. Portanto, o tal ‘multiculturalismo’ é só uma fachada para rejeitar o Ocidente cristianizado, para tentar derrubar o que já foi reconstruído pela cristandade - o que deve, sim, ser conservado e, daí, uma associação mais clara entre conservadorismo e reconstrucionismo.


3 - OS PEQUENOS PONTOS DE CONTATO E SUAS DIFERENÇAS


  1. Liberdade de Pensamento


Há, aqui, uma divergência no pensamento das vertentes de direita. Há aqueles que acreditam não haver necessidade do cerceamento de qualquer opinião, e há aqueles que acreditam que algumas são proibidas. Isso, novamente, tange ao aspecto da fundamentação moral, i. e., por qual padrão as pessoas estabelecem isso é uma questão muito significativa. Mas, sem levar logo para este lado, podemos observar que já em nossa sociedade, como apontamos alhures, há uma proibição explícita ao nazismo, e em muitos países há a proibição do comunismo (como a Polônia). Isso pelo fato de considerarmos como moralmente já definido que estas coisas são inaceitáveis. Igualmente, muitos considerariam criminosa a apologia às drogas, ao roubo e a outras coisas que progressistas adoram propagandear, principalmente aos mais jovens - e, assim, menos preparados para se precaver.

Se temos boas razões para considerarmos uma determinada opinião como inaceitável, é legítimo proibir que seja propagada e até mesmo, a depender do seu risco, considerá-la digna de punição pertinente. Portanto, quando o Reconstrucionismo coloca seus parâmetros de proibição, dizer que é uma política de censura e, portanto, é nazista, é simplesmente dizer que nossa própria cultura e todas as demais são nazistas, o que é não dizer nada - afinal, se toda cultura é nazista, ser nazista é simplesmente ser cultura. Dizer que é uma ‘censura’ é apenas artifício retórico. Está censurado tudo o que é inaceitável. A grande questão é distinguir o que é aceitável e o que não é.

Se a fé cristã é verdadeira, todos os homens sabem que Deus existe, e não existe maior impiedade do que a blasfêmia. Igualmente, se o cristianismo é verdadeiro, a pior coisa que poderia ser feito a um indivíduo é corrompê-lo com uma doutrina que o afaste da salvação - i. e., alguma doutrina que negue o pilar do cristianismo. Portanto, é óbvio que, dada a veracidade do cristianismo, essas coisas devem ser vetadas.

É importante observar que essa seria, primeiro, a crença dos homens em geral, não uma imposição autoritária de um Estado-totalitário. Isso só vingaria - e de fato, assim o era no próprio Antigo Testamento - quando o Senhor fosse reconhecido como tal numa dada sociedade.

Além disso, não adiantaria alguém dizer que não acredita nisso. Primeiro, poderia ser refutado pela argumentação pressuposicional - principalmente o Argumento Transcendental - ou por qualquer outro argumento que se queira. O ponto é que, seja como for, as decisões políticas e legais SEMPRE irão se basear em crenças que certamente alguém na sociedade pode discordar. Assim, é impossível não ‘impor as crenças’.

E, na prática, isso significa que só poderão subsistir os Reconstrucionistas? Este é só mais um espantalho bobo feito contra os reconstrucionistas para tentar indispô-los contra os próprios cristãos. É claro que, mesmo que a fé reconstrucionista esteja certa, ela não é a única ‘forma’ de cristianismo válida. Isso não quer dizer um tipo de relativismo em relação às demais crenças teológicas - como alguns críticos parecem preferir -, mas a percepção que graus menores de equívocos não desabonam a fé dos cristãos em geral. É perfeitamente possível que, mesmo que estejamos corretos, um batista ou metodista não deixem de ser cristãos. Assim, a tolerância se restringirá a formas legítimas de cristianismo, e não será tolerada as blasfêmias públicas. A propósito, esta não é uma perspectiva exclusiva dos reconstrucionistas, mas, em alguma medida, é tal como Calvino, os puritanos e o próprio Kuyper - pra não falar da Igreja Católica - acreditam. Portanto, condenar os reconstrucionistas por isso é condenar uma miríade de cristão de uma vasta gama de matizes teológicos.


  1. A Pena Capital Aplicada a Homossexuais


Este é o ponto, talvez, mais dramático de toda a questão. Principalmente por termos na presente era um tipo de enaltecimento do homossexualismo e demais negações da ordem criacional. Antes de mais nada, é preciso salientar que os cristãos em geral devem amar os pecadores, inclusive os homossexuais. Nosso desejo não é outro senão que Deus os livre de seus pecados tal como livrou e nos tem livrado dos nossos.

É bem verdade que, à primeira vista, esta é uma semelhança real entre reconstrucionismo e nazismo. Mas é evidente que, primeiramente, à luz de tudo o que foi considerado, isso nem mesmo se aproxima de tornar as duas coisas mais iguais do que um cavalo e um homem o são por ambos terem coração e pulmões. Além disso, quando se busca ver alguma semelhança entre algum movimento de direita com essa postura e o nazismo ou fascismo, costuma-se oportunamente se esquecer de mencionar que aquelas experiências que ninguém discute serem alguma forma de marxismo - ou de esquerda, para não entrar no debate -, como a Rússia comunista de Stalin, ou a Cuba comunista de Che Guevara, igualmente matavam homossexuais.

Todavia, mesmo aqui é preciso considerações. Ao passo que, ao que parece, no nazismo o motor de tal pena capital estava vinculado a princípios utilitaristas e evolucionistas - preservação da raça, manutenção dos melhores indivíduos -, i. e.., estava toda a questão vinculada a elementos naturalistas, no reconstrucionismo está vinculada à consideração de que é Deus, não os homens, que diz o que é abominável, ou seja, que determina o que é mesmo mau e o quão mau é.

Se notarmos bem, todas as culturas apresentam valores que são chocantes diante de outras. Hoje mesmo, consideraríamos terrível muitos dos costumes do próprio Ocidente de outrora, como as práticas de doação dos filhos dos romanos, ou a escravidão tão comum. Acontece, pois, que se não tivermos um padrão definitivo e último pelo qual possamos julgar todas as culturas, inclusive a nossa, não poderemos senão expressar o choque emocional diante de algo muito diverso daquilo que estamos acostumados.

Além disso, deve-se dizer que a própria prática da pena capital aqui tem contornos muito diversos. Num mundo reconstruído - uma situação muito distante da que temos hoje -, a imoralidade será altamente minorada, de modo que tanto héteros quanto homossexuais terão menos estímulos lascivos do que em nossa sociedade hedonista e obscena. Isso já facilitará a vida daquela pessoa que tem desejos sexuais por pessoas do mesmo sexo. Estas deverão entender que esses desejos são maus, e que devem contê-los, tal como uma pessoa que tem desejos sexuais por crianças - um pedófilo - deverá se conter sempre. Deverá haver toda assistência pastoral e familiar para que o indivíduo sob tais condições consiga vencer sua situação, viva em castidade ou até mesmo encontre do Senhor a superação desses desejos pecaminosos. Mas ela não comete crime enquanto não praticar o homossexualismo. Assim, tal como com outras pessoas por diversos motivos, esta condição as conduz a privarem-se de satisfazer seus desejos. Serão educadas e instruídas sobre a abominação da prática e não haverá qualquer incentivo ou propaganda. Então, aqueles que caírem são justamente aqueles que estão em franca rebeldia e entregues aos desejos que a sociedade justamente condena. Sociedade esta que amorosamente buscará ajudá-lo de todas as formas a não cair.

A propósito, toda sociedade condena algumas coisas e, segundo seus valores, é correto tais e tais medidas punitivas. Tudo isso tem que ser colocado em questão e demanda justificativa última. Reconstrucionistas justificam com a Bíblia seus valores e medidas punitivas - o que não deveria incomodar a nenhum cristão, mas o humanismo latente de nossa cultura fez com que víssemos a própria Escritura com maus olhos. Assim, nós já consideramos, em nossa cultura, que um bígamo ou polígamo não é justo, nem que alguém poderia ter relações sexuais com uma criança de dez anos, mas há muitas culturas que discordam. Todavia, quem vier a nós para praticá-lo em nossa nação, onde isso é proibido, será devidamente punido. Igualmente, se tivermos o poder de impedir que um desgraçado se case com uma menina de dez anos em qualquer lugar, temos o dever de fazê-lo. Com isso, vemos que toda cultura condena alguma ação - ou mesmo pensamento, como a nossa que, graças a Deus, condena o nazismo - como abominável. A grande questão é saber se há legitimidade para isso. Podemos agir assim por termos um padrão fixo e transcendente pelo qual tudo o mais é avaliado. Assim, esta prática penal só reflete os valores criacionais, bíblicos.

Ainda vale dizer que alguém que cai nesse pecado não está condenado ao inferno. Ela, tal como um assassino, deve ser intimado a se arrepender perante o Senhor antes de sofrerem o devido suplício. Se, de fato, arrependerem-se, poderão encontrar-se com o Senhor assim que a alma abandonar o corpo. Isso está em oposição com os espantalhos que fazem sobre o reconstrucionismo, ao dizerem que dizemos irem para o inferno diretamente os que praticam tai atos. É só mais um artifício retórico para tentar fazer o reconstrucionista parecer o mais malvado possível.

Isso revela outra confusão muito normalmente feita por progressistas, a saber, o de confundir numa mesma categoria homossexuais e judeus - e o desejo de tal bagunça só pode ser o ad hitlerum. Condenam - corretamente - o preconceito contra judeus e, como se fosse o mesmo caso, condenam o juízo negativo em relação aos homossexuais. É evidente que ser da raça judia não é uma ação moral, não tem nada que ver com a vontade e os desejos. Ser homossexual - praticar homossexualismo -, sim, é uma ação moral e diz respeito à vontade. Subsumir as duas coisas sob o conceito de preconceito para, depois, dar a entender que quem condena um pode, pelos mesmos princípios, condenar o outro, é, na melhor das hipóteses, estar desprovido de competências intelectuais.


  1. Morticínio?


Alguém poderia objetar que isso redundaria num vasto número de condenações e que muitas pessoas morreriam. Este é um ad baculum, i. e., uma tentativa de rejeitar a veracidade de algo por conta de alguma implicação que não é do gosto do objetor. Entretanto, mesmo que tivesse alguma procedência, este é um péssimo argumento. O combate ao crime certamente traz muitas mortes, mas somente foucaultianos desvairados e seus séquitos - ainda que sem o saber - ou outros progressistas pensariam que os combatentes ao crime são como nazistas. Igualmente, uma guerra justa pode trazer muitas baixas, mas apenas pacifistas ingênuos pensariam que seria melhor não guerrear, nunca, em situação alguma. Portanto, mesmo que a Reconstrução produzisse mais mortes, não seria ruim em si como a condenação com pena capital para qualquer crime abominável não se torna condenável por produzir mais mortes.

Mas a objeção óbvia é que as pessoas temerão transgredir por medo da espada, por medo da punição. Algumas, por consciência, mas outras justamente por temerem a punição. Além disso, como dito, o próprio incentivo e aplauso cessarão, de modo a diminuir ainda mais os casos. Em todo caso, segue-se o princípio bíblico (Romanos 13) de que a intimidação minora a incidência dos ocorridos e, portanto, evidentemente não haverão tantas penas capitais assim.


CONCLUSÃO


Fica notória a distância entre qualquer pensamento de direita, mesmo o mais radical, como o reconstrucionismo, e o nazismo e o fascismo. Ao passo que possam ser identificadas algumas semelhanças - principalmente com o reconstrucionismo -  (nacionalismo, moralismo, algum tipo de censura e a pena capital a homossexuais), essas são, primeiro, essencialmente distintas e se parecem apenas na superfície, e, em segundo lugar, dada a distinção que têm, somadas às diferenças evidentes (as perspectivas de direita rejeitam o Estado Avantajado; o Cerceamento do Mercado; o Desarmamento - três condições para que se possa implementar alguma forma de totalitarismo -; a perseguição a algum grupo por conta de questões raciais), torna a analogia uma patética, desonesta e desesperada falácia ad hitlerum. Pior ainda, quando olhamos para as ideologias de Esquerda, vemos justamente um Estado poderoso e robusto, tomando conta de todas as atividades humanas - mercado, educação, saúde -, monopolizando absolutamente os poderes bélicos, não raro com discursos nacionalistas ideológicos, fazendo deles sim um terror totalitário.

 

terça-feira, 16 de junho de 2020

Sou Pastor de uma Seita? - Refutações a Calúnias e Difamações (Parte 4)




Como eu disse no primeiro artigo, muitas das mentiras feitas pelo meu difamador já foram respondidas no próprio site da igreja. Mas muitos não tiveram acesso e a resposta não foi tão direta. Por isso, vamos remetê-los a essas respostas comentando diretamente, ponto a ponto, os artigos difamatórios feito a nós.

NOSSAS SUPOSTAS NEFASTAS CRENÇAS

Ultra-Puritanismo?

Na sequência, o difamador, ciente de que se daria muito mal ao dizer que somos uma seita por adotarmos o Princípio Regulador do Culto (PRC), tenta convergir a questão para uma distorção que supostamente teríamos feito a partir daí. Ou seja, ele nos chama de 'ultra-puritanos' e diz que consideramos apóstatas e idólatras todos os outros cultos que não se enquadram nos moldes que pensamos ser o correto, i. e., que não se encaixam no PRC, de modo que, com isso, acabamos caindo em exclusivismo. É uma mentira engenhosa. Uma daquelas mentiras bem convincentes, pois quem quer que se dê ao trabalho de investigar um pouquinho, verá que realmente defendemos o PRC. E é justamente uma meia-verdade que torna uma mentira tão poderosa. A resposta é ligeiramente simples e rápida: isso é mentira. Não defendemos que as outras igrejas ofereçam cultos apóstatas e idólatras, embora discordemos sim de vários elementos que eles colocam, como um pentecostal poderia considerar que o nosso culto falta algo quando não acrescemos orações em línguas e espaço para exorcismos. Essa postura crítica em relação a outras denominações sempre existiu, sem que elas se excluíssem mutuamente na consideração de irmãos. Falamos sobre isso neste artigo que DEVE ser lido por quem estiver levando a investigação a sério (neste vídeo, que encabeça uma série de palestras sobre a doutrina da salvação conforme o calvinismo, declaramos logo no início que arminianos são irmãos, e. g.). Portanto, embora seja patético ter que dizer isso, mas nunca nos consideramos a única igreja de Uberlândia e região, como o difamador inescrupulosamente alegou. Seu intuito com isso é de colocar contra nós não apenas ímpios, mas as igrejas em geral, principalmente as igrejas com quem temos claras diferenças teológicas. Ele não pode provar isso, ao passo que qualquer dos nossos discursos antigos sempre mostraram uma visão totalmente diferente. Nos verá falando de outras igrejas, considerando outras pessoas de outras denominações como irmãos em Cristo e assim por diante. Até mesmo orientamos os irmãos que se mudam a procurarem um lugar com uma boa igreja. Se nos achássemos a única igreja verdadeira, jamais indicaríamos que procurassem outra igreja que não a nossa.

Nazismo, Fascismo, Escravidão

Na sequência, 'analisando' nossas doutrinas e expondo o quão malvados nós somos, ele tenta lançar uma imagem de que somos uma espécie de pregadores do totalitarismo que gostaríamos que fossem mortas dezenas de milhares de pessoas. Já escrevemos extensivamente sobre isso e convido os leitores a honestamente considerarem os argumentos. Sobre o que é o Reconstrucionismo e a questão da 'imposição de valores', não deixem de ler este artigo. E sobre sermos nazistas ou fascistas, e nossa posição sobre pena capital, leia cuidadosamente este artigo. Aqui, caberá apenas lidar com um detalhe não acrescido nesses textos, que é a distorção ardilosa que ele faz das minhas falas pra parecer que propomos uma volta à escravidão e assim por diante. Ele, claro, não divulgou o vídeo que eu estava compartilhando. Tratava-se da exposição de um pastor teonomista - que nos pediu para tirá-las do ar -  a respeito do que a Bíblia ensinava, na Lei, sobre a Escravidão.  E o difamador é tão sem dignidade, que ele descaradamente MENTE quando informou que a exposição a qual eu me referia era sobre Êxodo 21:20-21 - quem viu o vídeo percebeu que a exposição era de versos anteriores a esses. O objetivo deste indivíduo, claro, era fazer parecer o mais mau possível. Ele não entende esse verso, por isso o usou. É o pior que achou e atribuí-lo à minha fala recortada era tudo o que, imaginou, precisava para montar sua peça difamatória. Tomado isoladamente, dá a impressão que eu quero que as pessoas sejam escravizadas - da forma que foi colocada, estou propondo a escravidão de negros, pra piorar, porque aí o faria supostamente por racismo - e que se possa agredir tranquilamente a um escravo. Portanto, alguns esclarecimentos cabem ser aqui feitos.
A primeira coisa é que essa 'escravidão' que eu defendo e que é defendida pelas Escrituras não tem nada que ver com a escravidão praticada pelos outros povos, ou que foi praticada no Brasil. Não se trata de algo que diga respeito a raça ou afins. O termo não é muito bom, é verdade - tanto que as traduções em português muitas vezes trocam 'escravo' por 'servo', principalmente no Novo Testamento (cf. Filemon, onde Paulo parece falar de um escravo fugido que deveria ser recebido como irmão; Efésios 6:5 e Colossenses 3:22 dão claras orientações aos 'escravos', e em Gálatas 3:28 não há uma abolição senão em termos espirituais, pois uma tal alegação teria de valer também para a abolição dos gêneros e até da nacionalidade!) -, mas quando compreendemos o que quer ser dito, então, podemos nos tranquilizar e perceber que não tem nada que ver com o que o difamador tentou taxar. Na forma como as Escrituras colocam, qualquer um, independente da cor de pele, poderia ser obrigado ao trabalho forçado. Isso já tira de sobre nós a tentativa de identificação de racismo aí.
A segunda coisa a ser esclarecida é que as Escrituras humanizam tal relação de senhor e servo. Ou seja, o senhor não poderia justamente tratar o escravo como inferior - como era comum aos outros povos da época. Ele deveria ser tratado segundo a dignidade humana que possuía! Portanto, não poderia ser agredido, nem desonrado, nem forçado mais do que seria humanamente possível. Portanto, não dizia respeito à raça e não dava ao servo menos direitos enquanto humano, excetuando o fato de que ele era obrigado a trabalhar - o que nos leva ao próximo ponto.
Além disso, que tipo de escravidão era essa? Eram escravos por dívidas. Pessoas que roubaram e não poderiam ressarcir, ou que contraíram dívidas que não poderiam pagar, eram forçadas a trabalhar para o indivíduo lesado até que quitasse a dívida. Ao invés de um sistema prisional, onde o indivíduo culpado só dá despesas e é inútil, ele era forçado a literalmente pagar pelo seu erro. Uma vez a dívida quitada, ele estava livre. E, claro, não poderia haver nada como um pagamento injusto e pequeno demais para manter o indivíduo por mais tempo escravizado. Tudo deveria ser estabelecido de forma justa, em juízo, para que o encargo fosse devidamente estabelecido. Ao invés de prender as pessoas que cometem esses crimes e deixá-las paradas, com o lesado a ver navios, e o Estado a gastar dinheiro das pessoas honestas para sustentar o criminoso, ele pagaria com seu trabalho - muitas vezes sendo beneficiado com o aprendizado de um ofício - e tudo se acertaria de forma justa. Isso não é belo, justo e moral? Era a isso que eu me referia na imagem recortada por esse imoral difamador. Era um 'click-bait', uma chamada provocativa para que as pessoas se interessassem e fossem olhar. Ele distorce tudo, recorta a fala sem mostrar o vídeo e me faz parecer um tipo de racista querendo a volta da escravidão dos negros - quando meu pai é negro, temos queridos irmãos negros na igreja e tudo o mais. Mas isso é típico de militância progressista: querer dar a pecha de racista e fascista para seus adversários a fim de incitarem o ódio contra eles.
Finalmente, temos condições de explicar o texto de Êxodo 21:20-21, que o difamador achou polêmico o bastante para nos incriminar e de forma mentirosa associou ao meu comentário. Todavia, ele mesmo, dentro de seu contexto, faz todo o sentido. Vejamos. O texto diz:

"Se alguém ferir com bordão o seu escravo ou a sua escrava, e o ferido morrer debaixo da sua mão, será punido; porém, se ele sobreviver por um ou dois dias, não será punido, porque é dinheiro seu."

Quando olhamos para isso de primeira, tendemos a enxergar um tipo de desumanização no trato com o escravo, não é mesmo? Supostamente, a vida do escravo vale menos do que a de uma pessoa livre. Mas o texto não está falando nada disso! Depois de entender todo o contexto da escravidão por dívida, o que texto está falando é de uma briga entre servo e senhor, um duelo. Veja o contexto. Verso 18 e 22 falando sobre justamente isso - briga, duelo. Com efeito, dos versos 18 a 27 há várias situações de brigas. Isso já tira toda a imagem de um escravo apanhando no tronco, não é mesmo? E há de se observar que uma situação dessas seria extrema, pois normalmente o senhor não queria ferir seus escravos, já que eram sua fonte de renda. Iria querê-los sempre fortes e saudáveis. Por isso, o duelo se deu por alguma questão muito complicada. Já para o servo, não havia muito o que perder em entrar numa briga. Se ele se ferisse, tudo que conseguiria seria uma justa 'folga' ou até mesmo ganharia libertação (cf. v. 26-27)! Portanto, um juiz deveria analisar considerando essas questões. Seriam raras as vezes que o senhor realmente desejaria a morte do seu servo. Além isso, aqui se trata de uma situação em que ambos os lados entram culposamente em conflito.
Pois bem, em relação ao verso 21 em si, há algumas interpretações distintas e muito interessantes. Não precisamos resolver em absoluto qual delas é a melhor. Basta observar que são possibilidades lógicas que se diferem da interpretação sugerida pelo difamador e coadunam com outros princípios dados nas Escrituras a respeito do trato geral para com os homens.
Numa briga dessas, se o senhor ferir o escravo e ele morrer, cometeu um homicídio e será punido como homicida. Isso coloca uma distinção entre a Lei e os outros povos, como romanos, que davam ao senhor direito sobre a vida do escravo, como nota Calvino no comentário desta passagem.
Mas se ele sobreviver por um ou dois dias, não será punido e terá sofrido o prejuízo pelo escravo, pois não terá mais sua dívida quitada. O que se presume aí, num caso específico pelo qual derivamos o princípio, é a suposição de que uma morte ocorrida depois de dois dias, após um mero ferimento por um bordão, não poderia ter se dado por isso. É preciso notar que muitas vezes essas leis eram dadas retratando casos específicos da época para traduzirem um princípio geral baseado no Decálogo. Essa é uma intercessão entre o sexto e o oitavo mandamentos. Considera-se primeiro a questão da possibilidade de um crime de homicídio e constata-se que bordoadas não poderiam ferir o indivíduo mortalmente se não o matasse no primeiro dia. Portanto, a morte que veio depois foi uma fatalidade da qual o senhor não tem dolo. Se for outra situação, como um golpe de espada ou, para os dias de hoje, um tiro, é claro que haveria dolo depois de dois dias. A grande questão é saber se há ou não dolo. Se não houver, haverá uma lamentável morte e o prejuízo do senhor.
Uma segunda interpretação (com endosso de Calvino, e. g.), ligeiramente diferente da anterior, entende o  termo עָמַד (amad) como se referindo à integridade do indivíduo. Ou seja, se houvesse um ou dois dias que ele se apresentasse sem ferimentos ou afins e então viesse a falecer, não teria nada que ver com a briga entre ele e o seu senhor. Mas se houvesse alguma ferida, ele então seria culpado e condenado como assassino. Portanto, se houvesse feridas em uma briga sem armas letais, e o indivíduo morresse na hora da briga ou pouco depois, o senhor seria condenado por homicídio (culposo ou doloso, o caso haveria de ser avaliado). Mas se passasse alguns dias, não poderia ser responsabilizado.
Por fim, uma terceira interpretação toma os dois dias 'sobrevivendo' como um ou dois dias sem trabalhar, como que internado. O termo (עָמַד - amad) pode significar 'permanecer' e, pela sequência, seria 'permanecer ferido'. Ou seja, segundo essa interpretação, não se trata de um servo que morreria, por conta do duelo, um ou dois dias depois. Tratar-se-ia justamente de um servo que ficasse um ou dois dias se recuperando de uma bordoada - tempo suficiente para se recuperar de uma briga como essa, tal como descrevemos no último parágrafo (esta é, inclusive, a interpretação de Rushdoony em seu comentário a Êxodo).


Psicologia Diabólica?

Em seguida, ele passa a atacar o nouteticismo. Só esse ponto demandaria um artigo inteiro para refutá-lo. Ainda o faremos, tal como fizemos na sua acusação de que somos 'cristofascistas' e nazistas. Mas, por agora, basta colocarmos algumas coisas que devem ser consideradas. A primeira é que se isso nos configura como seita, então uma gama muito extensa de pastores brasileiros devem ser considerados hereges. E não só pessoas desconhecidas, mas também pessoas muito famosas. Quem concordar com o difamador, deverá considerar Jay Adams, Rushdoony, Bahnsen, John F. MacArthur Jr. e tantos outros grandes nomes como igualmente heréticos. Mais do que isso, as teses têm respaldo mesmo fora do círculo reformado, como na pessoa do dr. Anthony Daniels (Theodore Dalrymple) e até mesmo Chesterton e, em alguma medida, Plantinga (no que diz respeito à filosofia da mente)! Nos valemos, inclusive, de Agostinho, Pascal, Kierkegaard, Lavelle e outros tantos clássicos para lidarem com os problemas da alma. Todos esses têm que ser considerados sectários e hereges perigosos. Se não tiverem coragem de fazer isso em relação a eles, por que têm coragem de fazer comigo? É porque atacar um pastor de uma pequenina igreja é mais fácil, não é mesmo?
Pois bem, sim, acreditamos que a maioria das chamadas psico-patologias são, na verdade, condutas morais sendo consideradas como doenças, ou efeito dos pecados. Embora evidentemente existam danos cerebrais que causem disfunções cognitivas e coisas do gênero - o que o próprio Jay Adams admite prontamente -, da mesma forma uma série de condutas, acompanhando uma agenda política, passaram a ser desculpadas como doença para depois nem mesmo isso ser consideradas mais. Para que nossa posição a respeito do assunto pudesse ser suficientemente considerada, e uma discussão mais prolongada viesse à tona, seria preciso que uma boa noção de filosofia da ciência - incluindo aí as leituras de Kuhn, Polanyi - estivesse em dia. Pois só assim poderiam entender como fazemos todas as ciências segundo os nossos pressupostos. Por agora vale apenas desmentir que consideramos todos os problemas psicológicos como pecados. Na verdade, isso é uma petição de princípio, que já assume todos as supostas patologias como patologias. Além disso, o próprio Adams acredita que muitas delas existem e que surgiram POR CAUSA de pecados, e não que elas sejam, em si, pecaminosas. Essa guerra contra a transmutação em patologia das condutas morais não é uma guerra que nós encabeçamos ou somos pioneiros. Ela ultrapassa muito as fronteiras dos arraiais reformados e é encetada até mesmo por não-cristãos e ateus. Tentar fazer a teoria parecer coisa de maluco e perigosa foi apenas um apelo ao público, dada o estatuto mainstream da teoria alternativa, e uma tentativa de terrorismo psicológico barato como se fôssemos tratar a coisa da forma mais leviana.
O que o difamador nos acusa, em seguida, de proporcionarmos um ambiente que agrava transtornos psicológicos, só ganha força, a essa altura, depois de se acreditar em toda a ladainha de fazermos lavagem cerebral nas pessoas, não permitirmos que leiam outras coisas e outros autores, de dar crédito à acusação de que não permitimos questionamentos e tudo o mais. Isso é simplesmente falso! E é uma acusação muito normalmente feita contra cristãos em geral. Quando falamos de pecado e como ele é detestável a Deus; que as pessoas devem se arrepender e buscar ajuda no Senhor para vencerem seus ídolos; que os pecados dos que não estão em Cristo serão julgados pelo Senhor no último dia  e coisas assim - que são normais (ou deveriam ser) nas igrejas, não faltarão progressistas dizendo que é um discurso inaceitável, que estamos julgando as pessoas e etc. Vejam as pregações! Corram ao nosso canal e verifiquem se há algo que não está na própria Bíblia! Cuidem para que, dando eco às acusações desse difamador, não seja contra a própria pregação de vocês e de suas igrejas que vocês estão se colocando como opositores!
Uma última palavra. Pensem por um instante em como um ímpio impenitente lidaria com sua expulsão. Pensem se fosse o caso de um ímpio ressentido, amargurado e vingativo. Já consideraram a possibilidade desse ser exatamente o caso? O que um ímpio diria numa boa igreja? Que ela é opressiva e malvada. Colocar a culpa dos próprios erros nos outros está na moda. A culpa é da sociedade, dos seus pais, dos seus neurônios, menos sua. Um rapaz homossexual assumido, que alega em público suas promiscuidades, acharia o quê de uma igreja cristã e bíblica? O que acham que faria na sua igreja? Acredito que a igreja de boa parte dos irmãos que o ouviram e deram crédito o teriam expulsado como o fizemos e estariam passando por boa parte dessas acusações.

[Parte 3]


quarta-feira, 10 de junho de 2020

Sou Pastor de uma Seita? - Refutações a Calúnias e Difamações (Parte 3)




Corrigindo a História Distorcida que o Difamador Contou


Ele já começa mentindo. Ele diz que sempre tive um histórico conflituoso com a Igreja Presbiteriana do Brasil. Isso não é verdade e basta que se procure as igrejas onde trabalhei antes da última, quando saímos da denominação - inclusive com o apoio de muitos pastores da própria denominação, amigos meus e que acompanhavam de longe toda a história. Entrei na Igreja Presbiteriana do Brasil no final de 2008. Fiz o Instituto Bíblico e trabalhei em vários lugares, incluindo cidades circunvizinhas. Guardo enorme carinho e amizades dos irmãos dessas igrejas. Não vou mencioná-las para livrá-las do patrulhamento virtual, mas qualquer que vier conversar comigo em amor poderá ser recomendado a irmãos desses lugares que testemunharão a meu favor. Os conflitos começaram apenas em 2015, por conta de estranhamentos com cristãos progressistas na Universidade e, posteriormente, por conta de conflitos com pastores continuístas e pentecostais na igreja, o que é contrário aos seus símbolos de fé. Mas esse conflito não partiu de mim. Muito posteriormente eu descobri que eles tinham uma série de acusações contra mim e tudo que fizemos foi nos defender. Enquanto o fazíamos, estávamos no seio de uma igreja presbiteriana que estava totalmente ciente desse conflito e nos apoiava, dada a postura ainda mais tradicional do pastor de tal igreja local. Portanto, é mentira que sempre tive um relacionamento conflituoso com a Igreja Presbiteriana. Inclusive, o mesmo conflito que tive, muitos pastores amigos meus e homens condecorados na denominação vivem o mesmíssimo conflito que eu vivia. Nunca houve tal rebeldia e insubmissão na minha vida. Pelo contrário, excetuando o conflito pelo qual preferimos sair, a atitude sempre foi de apaziguamento na igreja local e de luta na igreja nacional, dividindo a luta com tantos outros irmãos e pastores. Mas nada disso implicava em o mínimo traço de rebeldia e insubmissão. Nenhuma ordem foi desrespeitada. Nem mesmo recebida para que houvesse rebeldia e insubmissão! Isso não passa de uma distorção dos fatos, e das mais baixas.

Destaco qual era a guerra dentro IPB. Na época, subscrevia os símbolos de fé da igreja. A igreja apresenta um corpo de doutrinas que os pastores devem acreditar, no qual são instruídos. Qualquer um pode contestá-los e levar a questão para uma discussão conciliar, ou, se não quiser, pode sair da denominação. Por defendê-los, modéstia à parte, com alguma competência, quando vim para Uberlândia, acredito que se incomodaram com a minha presença. Então, alguns pastores evidentemente não-confessionais - cometendo perjúrio com isso, inclusive - passaram a alertar suas igrejas contra a minha pessoa. Eu não sabia de nada disso, e transitava nessas igrejas tranquilamente, enquanto escolhia alguma para congregar. Depois que achamos uma igreja de cunho mais tradicional, permanecemos lutando pela confessionalidade da igreja. Haviam e há na cidade pastores presbiterianos praticamente pentecostais. A questão da teologia da prosperidade é outra distorção do difamador, pois só houve um pastor específico, na igreja local e o motivo pelo qual saímos, que acusei de pregador da teologia da prosperidade. Os outros não foram acusados disso. E quanto às suas práticas e crenças não-reformadas, o declaravam publicamente, a céu aberto, em pregações ou escolas dominicais. Portanto, eu não estava falando nenhum segredo. Essa luta, a despeito da minha saída, ainda existe dentro das igrejas presbiterianas. Para mim, no entanto, ficou inviável, dado o meu baixo poder político, então, na denominação. Caçariam a minha cabeça por não concordar em aceitar um pastor que pregava teologia da prosperidade no púlpito. Como era evidentemente uma discordância teológica da qual não queriam arredar o pé, preferimos sair.

A questão sobre o meu divórcio é mera bravata e uma baixíssima tentativa de me desmoralizar. Isso, com efeito, aconteceu. Muitos irmãos me ajudaram na época e fui devidamente disciplinado, tendo inclusive feito tudo que estava à minha disposição para consertar as coisas. Um erro pelo qual já paguei biblicamente e estou tanto eclesiasticamente quanto diante de Deus, limpo. Apelar para tal evento lamentável em minha vida só mostra o nível e o espírito do indivíduo. Ele não quer expor uma seita. Quer vingança. Está meramente ressentido e quer me destruir a todo custo. Espanta-me que tal informação completamente irrelevante para o argumento não tenha alertado a muitos irmãos que leram esse texto.

Voltando à história, ele diz que após doutrinar uma certa quantidade de jovens, eu teria já como que me visto nas condições de 'montar minha própria igreja'. Tanto é que diz que usamos como falso pretexto a acusação de luta contra um pastor herege. O indivíduo pregou mesmo um sermão clara e explicitamente fundamentado na Teologia da Prosperidade. Não me lembro de momento algum em que isso foi contestado nem mesmo pelos objetores do conselho da igreja da qual saímos. O próprio difamador estava conosco no momento da saída e poderia apresentar qualquer prova sobre ter sido esse um falso pretexto. Mas não o fez. Afirmou que era tal falso pretexto pra nos fazer parecer meros jovens rebeldes, daqueles que brigam por qualquer picuinha na igreja e a divide. Este não foi o caso. Tentamos conversar por mais de dois anos com o Conselho, que sempre nos prometia que o indivíduo não mais pregaria, para então sermos pegos de surpresa, ao ir ao culto, com o próprio lá, no púlpito, pregando ou alguma besteira, ou falando nada com nada. A situação foi ficando cada vez mais tensa na medida em que o próprio grupo passou a estudar o Princípio Regulador do culto e a me questionar sobre a legitimidade de tudo aquilo. Esse era, inclusive, um conflito que eu passava, pois eu sabia que estava errado e me acovardei justamente para evitar conflitos. Mas, então, no próprio roteiro das aulas, chegamos ao Segundo Mandamento e agora eles mesmos poderiam ver que as coisas estavam erradas. E para que ninguém diga que o ensino que dei do Segundo Mandamento era peculiaridade minha, os próprios símbolos de fé estavam ali para atestar quase todos os pontos, e outros teólogos eram apresentados para endossar outras questões, como a brilhante exposição do decálogo por Charles Hodge, em sua Teologia Sistemática. Portanto, depois de descobrirmos que estavam mentindo pra nós quanto a ter uma obrigação de colocar esporadicamente aquele pastor para pregar, alegando que era uma imposição do presbitério, a indignação se alastrou inevitavelmente. Não mentiríamos para as pessoas para manter a paz. Não era possível esconder essa informação de muitos que estavam sempre questionando sobre essas coisas. Houve até mesmo uma tentativa de dialogar, numa acareação, que foi interrompida pelos presbíteros e pelo pastor que simplesmente não nos deu o tempo de fala prometido - nem perto disso - que apenas vociferavam ofensas à minha pessoa, para o espanto dos presentes, ou reivindicavam autoridade total para decidir absolutamente tudo no culto público, sem prestar contas ou esclarecimentos. O pastor chegou a dizer que era ele quem interpretava os símbolos de fé e que, portanto, não era correto escorarmos nossas interpretações nele. Diante de tudo isso, fomos ordenados a aceitar não levantar mais críticas ao Conselho, e a aceitar suas decisões - inclusive de quem quer que fosse que escolhessem pra pregar. Isso nos pareceu inaceitável, e a postura beligerante que manifestaram na reunião foi o estopim. Resolvemos que seria melhor, então, simplesmente sair - o que era um direito nosso -, uma vez que as divergências teológicas sobre o culto e a responsabilidade dos ministros não encontraram nem mesmo ocasião de harmonização. É claro que o indivíduo ou mesmo alguém daquela igreja poderia contestar e, mentindo, dizer que não foi assim. Mas então teriam que dizer que todos nós mentimos a esse respeito. Que todos que estavam lá e saíram o fizeram pelos pretextos mais sórdidos ou já eram, supostamente, manipulados por mim. Se alguém chegar a tal nível absurdo, temos uma prova final. Esta reunião foi gravada em áudio e tudo pode ser perfeitamente provado.

Doravante, o difamador sem escrúpulos segue dizendo que acusávamos os cultos de todas as demais igrejas de idólatras e apóstatas e, por isso, não fomos para elas. Isso é descaradamente outra absoluta distorção dos fatos. Com efeito, nós não conhecemos outra igreja em Uberlândia que adote o Princípio Regulador do Culto. Essa é uma crença puritana que nos parece bem fundamentada nas Escrituras. É adotada por muitos e muitos reformados e defendida por muitos reformadores. Esse nos parece o culto mais bíblico, mas o fato de outros não o adotarem nunca foi motivo para falarmos que são prestados por igrejas apóstatas e idólatras. Consideramos que estão equivocados, como consideram que o nosso está equivocado em muitos pontos. Mas continuamos a considerá-los irmãos em Cristo e suas igrejas como legítimas igrejas em Cristo. Só não compartilham com nossas crenças. É como se um pentecostal chegasse a uma cidade em que não houvesse igrejas pentecostais. Com isso, pode ser que pensasse não haver uma igreja boa o suficiente para suas crenças. Se fosse alguém suficientemente instruído, acompanhado de um grupo de cristãos pentecostais, provavelmente cogitariam se reunir entre eles mesmos e, a depender da sua eclesiologia, poderiam considerar a oportunidade de se reunirem entre eles mesmos.

Como é de praxe no relato, há na sequência mais mentiras. Ele tenta alegar que já havíamos como que formado a igreja antes mesmo da divisão. Prova disso seria que já formalizávamos processos de disciplina e marcávamos cultos alternativas no mesmo horário do culto da igreja. Isso é uma deslavada mentira! Não houve um processo de disciplina. Nem mesmo um! Não que não deveria ter tido. Nós passávamos as coisas para o pastor e para o conselho. Não era responsabilidade nossa, embora o próprio pastor me colocava para aconselhar os jovens. Nós ajudávamos os alunos como amigos e irmãos, como deve ser mesmo o caso.

Além disso, a única reunião alternativa foi no fatídico dia em que descobrimos que mentiam para nós e que iriam colocar aquele pastor novamente pra pregar, sob todos os protestos possíveis. Então, nos reunimos e assistimos um sermão em vídeo. Se estávamos certos - o que ninguém se dignou a nos explicar o contrário - e aquele não era um pregador bíblico, aquilo não seria um culto. Estávamos no nosso direito de consciência. Isso aconteceu uma única vez por ocasião da saída. Quando ele coloca que fazíamos isso, tão pura e simplesmente mente. Estava lá. Sabe que não acontecia nada disso, que nunca aconteceu!

Depois, igualmente sabe que está mentindo ao disponibilizar a carta - e o pior, a carta é um tiro no pé, pois mostra indivíduos conscientes do que estavam fazendo, argumentando os motivos pelos quais estávamos saindo, mostrando que não era um mero ‘falso pretexto’, como ele alegou -, dizendo que a decisão já estava tomada. Todos que ali estavam sabiam que tentaríamos discutir a questão na acareação. Se não nos convencessem do contrário e impusessem algo absurdo, o documento já estaria pronto e quem quisesse assinar, que assinasse. Foi lido publicamente no final, depois que ficou evidente que não haveria qualquer tentativa de diálogo racional sobre as questões controversas. Eu mesmo me retirei para longe para orar e só quando voltei houve o término da reunião. Portanto, a decisão não estava tomada e os presentes sabiam disso. Uma decisão foi pré-realizada para caso as coisas desandassem. Mas muitos foram para a reunião crentes de que eles, ao ouvirem nossos argumentos, poderiam ceder, poderiam ser razoáveis. Tamanho foi o choque para tantos quando viram que não seria assim.

Ele diz que não nos importamos com o mal causado à congregação. E o mal causado a nós? Nós éramos as vítimas, não os algozes. Estávamos sem lar. Sem um lugar para nos reunir. Nós amávamos aquela igreja e trabalhamos muito pelo seu crescimento. Trabalhávamos com as crianças e com os adolescentes, visitávamos os idosos e tentávamos servir o máximo que podíamos. Aquilo foi muitíssimo doloroso pra nós. Por isso que tantos tentaram insistir tanto para que não acontecesse o cisma. Pessoas me procuravam aos prantos perguntando se não haveria outra solução. Contavam-me todos os problemas que aquilo lhes acarretaria. Eu mesmo me atolaria de problemas. Mas quando eu perguntava o que sugeriam fazer, ficavam sem palavras. Viam que não havia nada a ser feito que fosse nobre, correto, honesto e piedoso. Nós saímos arrasados e destruídos. Fomos forçados a isso. Não foi uma decisão fácil e tentamos por muitos e muitos meses buscar consertar as coisas.

No fim, ressentido e mentiroso, diz que nós saímos por rebeldia e revolta, por insubmissão a QUALQUER autoridade, para depois devolver a pecha de seguidores cegos do líder - eu. Mas, nesse caso, eu não seria a autoridade? Isso não soa contraditório? Além de ser tudo absolutamente mentiroso, é ainda tolo do ponto de vista lógico.

Ainda há uma última coisa a ser dita aqui, neste ponto. Ele diz nós nos sentíamos autoridades a enfrentar lideranças religiosas de maneira agressiva e prepotente. Pois bem, quais são as lideranças religiosas legítimas? Ele considera as igrejas históricas, que condenam abertamente seu modo de vida homossexual, detentoras dessas verdadeiras lideranças religiosas? Ou ‘liderança religiosa’ é só a que ele gosta e aprova? Porque se eu for uma liderança religiosa, esta acusação não reflete, na verdade, o que ele faz? Tanto para comigo quanto para com os presbíteros da igreja que pastoreiam junto a mim não há qualquer respeito. Ele foi rebelde e insubmisso. A descrição é quase que uma projeção pessoal. E, mais, é simplesmente falso que houve tal prepotência, arrogância e agressividade. Na dita reunião, somente sete pessoas de quarenta jovens se manifestaram. Houve vozes exaltadas, mas todas reativas, i. e., foram os presbíteros e o pastor que começou a gritar e até a me ofender de forma vil. Foram eles que simplesmente tiraram nossa fala que prometeram. E mesmo nesses momentos em que alguns reagiram falando no mesmo tom, não houve desrespeito para com as palavras. Apenas um dos jovens reagiu com palavrão e foi logo convidado por nós mesmos a se retirar. No final, ainda abraçamos os presbíteros e o pastor e nos desculpamos por qualquer excesso. Eles mesmos não se desculparam por nada que fizeram ou falaram.

Depois ele diz que eu me declarei um ‘novo Lutero’. Isso chega a ser cômico. A tentativa é claramente a de me fazer parecer um lunático. A época era mesmo a da Reforma e isso inegavelmente nos inspirou, pois estávamos sendo encurralados a negar nossas claras convicções bíblicas para que as coisas ficassem em paz. Foi esse o nosso discurso. Em momento algum me declarei um novo Lutero. Nem nós nos declaramos, que eu me lembre, novos luteros. Só disse que a situação dele foi bem mais complicada do que a nossa, mas que ele preferiu ser fiel a Deus e enfrentar todos os prejuízos dessa fidelidade. Ainda instruí a todos os presentes que se não tivessem convicções bíblicas do que fizemos, não deveriam nos seguir pelo mero entusiasmo. E não é que Lutero foi considerado sectarista por muitos? E que é difamado até os dias de hoje? A semelhança, pois, era apenas em termos de fidelidade a Deus e à consciência. Não que estávamos saindo de uma igreja apóstata. Mas, sim, acreditamos que as igrejas presbiterianas de Uberlândia - ao menos as que conhecíamos, e teríamos uma grata surpresa se algumas se mostrassem diferentes - havia perdido sua identidade confessional. Mas tal como não consideramos igrejas não-reformadas como apóstatas e não-cristãs, não consideramos as igrejas presbiterianas de Uberlândia que abandonaram a confessionalidade como seitas (para mais sobre isso, ler este artigo).

Em seguida, após uma série de impropérios vazios, com validade apenas no seu pensamento, o difamador diz que fui revelando minhas posturas autoritárias. Quais? Como é que um autoritário é colocado sobre escrutínio nas assembléias solenes? Como é que tenho que prestar contas das minhas ações à igreja? Como é que me submeto aos presbíteros? Que sou, tantas vezes, voto vencido nas reuniões do Conselho? Isso parece autoritário?

Disse que sou incapaz de mudar de ideias. Pois ele mesmo me viu mudar de ideia quanto à teonomia, oras! Quando saímos, não éramos teonomistas. Eu estava estudando o assunto por anos, sem coragem - confesso - para admiti-lo, para enfrentá-lo, dada a evidente hostilidade que se seguiria. Mas, mudei de ideia. Instigado por um dos presbíteros, inclusive. E já mudei de ideia quanto a tantas outras questões. Já adotei a apologética clássica, tendo lido Sproul, Geisler, Moreland e Craig, passei a adotar a escrituralista, com leituras e Clark, Nash e Cheung, e finalmente me tornei pressuposicional lendo Van Til, Bahnsen e Rushdoony. Não pareço tão intransigente assim, não é mesmo? Também deixei de ser amilenista e me tornei pós-milenista enquanto pastoreava, e também sob influência dos irmãos.

O difamador disse que sou pronto a condenar, demonizar e expulsar qualquer um que discorde. Isso é parcialmente uma verdade. Mas não qualquer um que discorde de mim, mas qualquer um que discorde da Bíblia. A parte falsa é que não há qualquer ‘prontidão’ para isso. Não no sentido de que somos intransigentes ou inflexíveis. Há outros doutrinados entre nós, e todos podem testemunhar do cuidado e dedicação que lidamos com seus problemas. Essa prática de disciplina pode ser estranha aos ouvintes do cristão moderno brasileiro, cujas igrejas abandonaram a prática que é marca distintiva das igrejas, segundo os reformadores. Sem entrar nos méritos, essa é simplesmente uma acusação falsa. Mas é justamente a acusação que impenitentes rebeldes fazem quando são expulsos de qualquer igreja. Depois de toda a bagunça, falta de piedade e tudo o mais, quando expulsos, mesmo sob ultimatos para tentar contê-los, como recurso final, sempre culpabilizam a igreja que os expulsou e se vitimizam. A não ser que Deus os conceda arrependimento, ou que já comecem a se voltar para o Senhor depois do baque da expulsão. Há prontidão para lidar com os pecados graves, com certeza! Mas ela envolve literalmente dezenas de reuniões, acompanhamentos, orações e lágrimas. E o objetivo é sempre ajudar os indivíduos a se recuperarem e voltarem a ter uma vida santa, em luta contra o pecado. Alguns, no entanto, como o próprio dito cujo que não aceitou participar nem mesmo das reuniões em que eu estaria, são simplesmente ímpios miseráveis que se recusam a ouvir qualquer orientação e, apaixonados por seus pecados, optam pelo caminho da rebeldia contra o Senhor.

Novamente, na sequência, entra no tema de minhas ‘ideias radicais’ terem sido aceitas sem qualquer questionamento. Já falamos sobre isso na seção anterior, mas vale mencionar mais um aspecto. Sem qualquer questionamento? Foram adotadas com todos os questionamentos possíveis. Tive que me virar para estudar sem parar, dúzias de dezenas de horas, para poder dar aula e provar os pontos que estavam sendo defendidos. Se fossem adotados tão facilmente, porque eu sequer daria aulas a respeito? Não me seguem cegamente? Há muitos irmãos inteligentes na igreja, que não se dobram tão facilmente. E muitos, ainda hoje, não adotaram todas as nossas ideias. Seria ótimo se o fizessem mas, surpresa, os não-oficiais (pastores, presbíteros, diáconos, professores) não precisam ser reconstrucionistas. Claro que muitas vezes ensinaremos conforme essas crenças, mas muito do que pensamos não tange o assunto! Isso pode ser facilmente visto bastando acessar o canal do Youtube e escolher a esmo algumas pregações (acesse clicando aqui). Em muito poucas o tema é mencionado.

Em seguida, antes de terminar a seção, mais mentiras. Ele diz que colocamos os membros sob forte cobrança moral e intelectual. É verdade. É a Bíblia que faz isso. Todos têm que buscar ser corretos, e oramos e nos dedicamos para nós mesmos ser o máximo. Mas estamos cientes de estar lidando com pecadores principalmente por nós mesmos sermos contados entre eles. Portanto, não é uma ‘cobrança moral’ que se distinga de uma igreja puritana de outrora. Alguns pecados mais graves cobram disciplina eclesiástica. Outros não, mas cabem reprimendas. E nós mesmos, na liderança da igreja, nos repreendemos mutuamente. Quanto aos estudos, é certamente mais do que em muitas igrejas. Nós orientamos a leituras bíblicas diárias e as escolas dominicais poderão cobrar umas duas horas semanais de estudos - ideais para as tardes de domingo, para um sábado de manhã para os que não trabalham ou para serem distribuídos durante a semana. Há, ainda, para quem quer ir mais longe, recomendações complementares opcionais. Estou tentando ver qual é o crime nessas nossas super exigências, mas honestamente não consigo ver nada. Quanto à suposta “fidelidade e dedicação exclusiva à seita” já respondemos alhures. Isso é simplesmente uma acusação sem pé nem cabeça. Ratifico: dedicação ao Senhor, à família, ao trabalho ou estudos, e à igreja nos dias de programação oficial. Nada mais do que isso. À igreja não se pede mais do que o que é prometido na profissão de fé de uma Igreja Presbiteriana que segue o diretório de culto prescrito a ela.

Na sequência, volta a mentir sobre não aceitarmos questionamentos, o que já foi refutado. Volta a mentir que expulsamos os que discordam, ou que consideramos inimigos todos os que não estão na igreja. Repetir as refutações seria enfadonho pra quem está seguindo nosso raciocínio desde o início. Vale apenas mencionar um ponto delicado para agora, mas que haverá de ser esclarecido doravante. A de que as crises das pessoas que pra cá vieram foram causadas por nós. Na verdade, nós recebemos mesmo pessoas com muitos problemas, e geralmente as ajudamos a superá-los. Vimos e cremos sim que muitas das supostas patologias surgiram por conta de pecados. Ansiedades pecaminosas, depressão que não passava de tristeza por conta das escolhas erradas na vida ou por vazio na alma por conta de uma espiritualidade baixa e muitos pecados cometidos, culpa e afins. Nunca dissemos nada sobre esquizofrenia não existir ou ser pecado, e nem mesmo lidamos com algo assim. A não ser que o difamador acredite que quando escreveu esses textos também, ou quando fez vídeos ou tentou me difamar sistematicamente por meses, estava também sob ataque esquizofrênico. Assim, está montado a arena pra que ele se desculpe, sempre que for conveniente, de qualquer erro cometido. Quanto a adotarmos ‘medidas de punição’, ele poderia relatar melhor os casos. Estamos seguros quanto aos métodos adotados serem bíblicos. Essas acusações que ele está fazendo a nós são muito semelhantes às que foram feitas ao Pr. John MacArthur Jr., pra quem tiver ciência do caso. Mas, como eu disse, esse ponto será tratado no devido lugar. Por agora, basta dizer que todo o relato dele é distorcido, exagerado, repleto de mentiras e terrorismo psicológico barato, regado a retórica vitimista.

A última coisa dita nessa parte histórica é hilária. Ele disse que adotamos o nome de Presbiteriana Confessional para atrair o apoio de pastores presbiterianos confessionais, e depois passou a se chamar Reformada Reconstrucionista pra agradar a um pastor reconstrucionista famoso (essa parte ele editou e alterou por algum motivo… mas temos o print do texto original para prová-lo). Isso dito por outra pessoa e noutro lugar nos arrancaria gargalhadas. Mas o contexto torna a coisa deprimente. Os pastores confessionais que são meus amigos sabem de minhas posições pontuais de discordância da Confissão de Fé. E é por estarmos sendo confundidos com os grupos confessionais mais beligerantes que resolvemos mudar de nome, bem como para não sermos confundidos com a Igreja Presbiteriana do Brasil. Quanto a agradar o pastor reconstrucionista famoso, é uma mera tolice. Negociávamos entrar na denominação do nosso nobre irmão, mas acabou não dando certo. Foi depois disso que decidimos por esse nome. Tal afirmação mostra a desonestidade e a vontade de nos atacar a todo custo.

Assim, encerramos mais uma seção, desmentindo sequencialmente cada uma das invenções, distorções e maluquices ditas por ele até aqui. Convido o leitor, outra vez, a considerar paralelamente os dois relatos. Seguir parágrafo por parágrafo do que ele disse e do que dissemos e julgar os argumentos.

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