quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Política Zoonômica: burro, porco, sapo, barata e elefante nos ensinando política


Durante algumas conversas com amigos e familiares notamos uma mentalidade política digna de um energúmeno, ou de um animal. A propósito, há um típico animal que bem caracteriza essa mentalidade estúpida a qual estamos nos referindo: burro. O burro (substantivo) que de burro (adjetivo) não tem nada, é aqui usado de forma um tanto quanto indevida. Não obstante, outros animais podem servir como excelente ilustração para o que intentamos denunciar nesta breve reflexão.

O primeiro animal que chamaremos é o porco. Falamos daquele porco que é levado a engordar para, então, transformar-se num saboroso alimento. E o que tem o porco com a política? Não, não estamos valendo-nos de hipocatástase para uma mera ofensa à 'sujeira' que é a vida da maioria dos políticos de nosso país. O buraco é mais embaixo.
O porco nesse processo de engorda está, em certo sentido, muito contente com sua situação. Ele é tratado muito bem. Tem o que quer. Come coisa boa. Sua saúde é prioridade. Afinal, se ele ficar doente, pode morrer, ou mesmo sua carne ser desvalorizada. Precisamos dele bem forte, saudável e feliz. Quem sabe o pobre porquinho até sugira que o amemos. Que gostamos dele demais. As evidências? É só ver como o tratamos bem... óbvio, quem está 'do lado de cá' sabe muito bem que não é bem assim... Depois de um tempo ele será abatido.
Pois bem, essa mentalidade de porco subjaz às reflexões políticas de muitos (senão a maioria) dos brasileiros. Cada um mira um benefício imediato, particular, e luta politicamente única e exclusivamente em prol desse ponto. Se tal demanda for atendida, temos um candidato considerado razoavelmente bom, ou, pelo menos, bom o suficiente para brigarmos por ele com unhas e dentes. É, nada mais nada menos do que uma política egoísta e vil. Alguns trabalhadores querem um aumento de salário que valha a pena, que não seja subjugado à inflação. Justo. Outros querem que sua classe em especial seja mais valorizada. Em muitos casos (particularmente pensamos em professores e policiais - jamais em vereadores e deputados!), justíssimo. Outros querem a remediação de um problema específico, imediato, como, por exemplo, a construção de um hospital aqui e acolá. Nada mais necessário! Porém, política não pode, de forma alguma, se restringir a isso. E é aqui que nosso porquinho abre a janela da compreensão.
Suponhamos que um governo com projetos nefastos, distópicos até, prometa, com alto grau de confiabilidade (angariado de alguma forma... ei, estamos supondo aqui! hehe), atender à alguma demanda. À sua, em particular, que está lendo esse artigo e (não vá se ofender) pensa como um porco. Suponhamos que você seja um bom e honesto trabalhador que precisa sustentar sua família com a renda de míseros dois salários frente à uma inflação escandalosa. Algo tem que ser feito, não é mesmo? Quem discorda que essa situação é ruim? Ninguém! Mas, alto lá, camarada, as coisas, como acontece com o porco, podem não ser o que parecem. Mesmo que essas demandas a curto prazo sejam cumpridas, o que acontecerá a longo prazo? Já pensou nisso?
Continuemos a supor [qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência...] que o candidato ao cargo político que atenderá à sua demanda tem um projeto muito maior. Ele irá aumentar os salários, controlará a inflação. Economicamente muito agradável. Todavia, ele vai além. Ele irá fomentar a criminalidade através de projetos de vitimização de bandidos* e demonização da polícia. Ele irá aprovar leis que estão nitidamente contra a moral da maioria dos cidadãos, inclusive a sua. Por exemplo, ele irá aprovar o casamento gay; o kit gay nas escolas*; um projeto de lei escabroso como a PL122*; a pedofilia; a zoofilia (comer-se-á animais além do sentido gastronômico); imporá censura (não que você, big pig, vá se importar, já que não tem nada a reclamar, afinal, seu bolso e seu estômago estão cheios, apesar da cabeça vazia); expropriará bens (não os seus, fica tranquilo)*; enaltecerá bandidos; aprovará o aborto; liberará as drogas; perseguirá cristãos que não coadunem com a moralidade moribunda que estão a propor... etc! Ainda que você não se incomode com alguns pontos aqui, não é o caso. O importante é perceber que a satisfação imediata de uma demanda pode sair caro. Pode tratar-se tão simplesmente de uma engorda. Principalmente se, posteriormente, tivermos uma 'maravilhosa revolução' que vá deixar a população numa situação 'paradisíaca' como a de Cuba, China, Coreia do Norte... E se você, pobre miserável, pensa que isso não pode acontecer, é mais ingênuo que um porco.

A propósito, outro bicho pode fazer-nos o favor de ilustrar mais um pouco da ingenuidade da mentalidade política do brasileiro. Vamos falar da mente de sapo*. Dizem que, se colocarmos um sapo na água quente, ele pula fora na mesma hora. Entretanto, se colocarmos o anfíbio na água fria e formos esquentando-a aos poucos, o sapo ficará lá até morrer. Pois bem, essa é a mentalidade complementar à do porco. O porco político não percebe que está sendo engordado para o abate, e nem o sapo político percebe que as coisas estão esquentando e que logo ele será prejudicado. Essa bitolação é amplamente beneficiada com a inserção paulatina, gradual, de políticas que, mesmo que o cidadão não goste, não irá reclamar. E não irá, principalmente, se sua demanda imediata for atingida. Enquanto isso, escondido, um câncer social cresce e, quando ele menos perceber, verá uma sociedade completamente diferente da que aprecia para, na melhor das hipóteses, murmurar saudosista, nostálgico, que no seu tempo não era assim. E isso na melhor das hipóteses.
Na pior, já que estamos falando de bichos, acontece um efeito 'Kafka'. Franz Kafka foi um autor de contos e romances, de originalidade tcheca. Ele escreveu um clássico muito bacana chamado 'A Metamorfose'. Nesse pequeníssimo livro, a personagem principal acorda e descobre-se uma barata gigante! Aos poucos vai perdendo a fala... não queremos revelar todo o enredo aqui. Claro, a família vai à loucura quando o vêem daquele jeito. Mas com o tempo se acostumam àquela aberração, e logo estão a discutir as coisas mais triviais possíveis! E o que isso tem a ver com o que estamos falando? Pois bem, é muito simples. Como se não bastasse a mentalidade de sapo, outros tantos são vítimas do 'efeito kafka'*. As coisas que deprecia são apresentadas aos poucos e constantemente (principalmente em novelas...). Gradualmente vai se tornando cada vez mais cotidiano até virar comum e, pouco depois, cai nas redes politicamente corretas e se torna praticamente compulsório aceitar aquilo que outrora era repugnante. E o mais legal é que, para implantar de vez a nova mentalidade, ela é encarada e anunciada como progresso, ao passo que condená-la é ter uma 'mente medieval', retrógrada, obsoleta...

Mas tudo bem para os planos maquiavélicos de partidos nefastos. Não há problema algum em sua política. Até mesmo as aberrações cometidas são logo esquecidas. No país onde temos porcos, sapos e baratas a única coisa que não tem é um bom elefante...

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* Um exemplo disso está aqui, no que já escrevemos outrora: http://panaceiateoreferente.blogspot.com.br/2014/05/o-que-pensar-sobre-proposta-de.html
* Veja um vídeo denunciando essa patacoada: https://www.youtube.com/watch?v=gNJKJLCPrT4
* Apesar dos palavrões, esse vídeo, por ocasião de uma 'revolta gay' contra o Mackenzie vale a pena ser visto pelos argumentos consistentes: https://www.youtube.com/watch?v=8kzP-MWFiZs
* Para entender como isso poderia acontecer, veja esse vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=CfCJ6WHRlIE
* Essa ouvimos, pela primeira vez, da parte do Danilo Gentilli em entrevista com Ron Paul, com quem, claro, não concordamos em muitos pontos, o que não é matéria de discussão agora. Quem quiser dar uma olhada na entrevista, está no seguinte endereço: https://www.youtube.com/watch?v=QFO_Bg0QVK4
* Tudo bem seu achares meio forçada minha inserção desse exemplo como analogia dos bichos. É que achamos muito propício e pertinente para a ocasião.

domingo, 7 de setembro de 2014

Produção Cultural no século XVI

RESSALVAS E INTRODUÇÃO

Claro, sabemos que o termo 'cultura' é, por demais, delicado. Talvez não haja palavra mais ampla, ambígua e controversa, na língua portuguesa, do que 'cultura'. Ao declarar nosso propósito de esboçar um panorama histórico-cultural do Brasil já fomos logo sendo advertidos por um amigo a nos deter, afinal seus professores gastavam anos em empreitas afins e etc. Mas estávamos falando de coisas diferentes. Enquanto ele queria usava a palavra com a conotação de todo tipo de produção técnica e estética, dentre outras coisas, nos referíamos à produção filosófico-literária. Particularmente nos deteremos na literatura.
O professor Fabiano nota que literatura não é um fenômeno estético avulso, etéreo, engendrado na mente dos gênios em suas torres de marfim, distantes da realidade. Antes, a literatura é um fenômeno cultura, histórico e social. Fabiano nota como a literatura é reflexo do momento histórico*. Pretendemos tornar isso evidente no que se segue.

O SÉCULO XVI E A LITERATURA NO BRASIL: o quinhentismo

A literatura produzida no século XVI, ou seja, dos anos 1500 em diante, é comumente chamada de 'quinhentismo'. Mas o professor Fabiano não está satisfeito com essa denominação, visto que há outros 'quinhentismos' afora que não guardam essas características que aqui havemos de ver. Antes de prosseguir, uma pequena digressão.
Já sabemos o básico do que se passou no Brasil no século XVI. Vimos que nos trinta primeiros anos não temos uma colonização efetiva. Tudo que temos é uma interação inicial entre brancos e índios e, posteriormente, o 'contrato' dos índios para a extração do pau-brasil. Isso durou os 30 primeiros anos. Fabiano nota que, como a extração não era uma atividade agrícola, e como não havia povoamento, não há, pois, o desenvolvimento de uma cultura e, consequentemente, não há um desenvolvimento de uma literatura propriamente dita. A única coisa produzida é uma literatura que fala sobre o Brasil, sobre a terra descoberta.
Essa é, a propósito, basicamente a literatura produzida aqui. Mesmo após a colonização, a situação cultural não mudou muito. Chamamos a este tipo de literatura de 'Literatura de Informação'. Fabiano nota que ela tem mais valor historiográfico do que literário, mas como é a primeira literatura produzida por aqui, temos de nos deter sobre ela.
A característica marcante da Literatura de informação é sua natureza descritiva, precipuamente a respeito da natureza. O professor Fabiano caracteriza este item como Nativismo Descritivo. Havia uma perspectiva toda esperançosa para com o Brasil e as possibilidades exploratórias. Isso nos leva a destacar mais uma característica. Essa literatura guardava uma visão paradisíaca do Brasil. Tinham nossas terras como um paraíso perdido, uma visão edênica do país. A professora Cunha não se furta em notar que havia, evidente, um deslumbramento para com as riquezas naturais.
O primeiro texto desta estirpe é, óbvio, a carta* sobre o descobrimento, de Pero Vaz de Caminha, informando ao rei D. Manoel, sobre a 'descoberta' do Novo Mundo. Mas muitos outros viajantes prestaram seus relatos. Segundo Del Priori e Venancio, "a mais clara informação sobre a natureza e sobre os moradore da terra de Santa Cruz nasceu da pena de um sensível senhor de engenho baiano, Gabriel Soares de Souza" (DEL PRIORI, VENANCIO, p. 98-99), que lançou uma obra documental em 1587. É certo que não teremos condições de mencionar e trabalhar os vários nomes que compõe esse tipo de literatura. Basta sabermos que houve textos variados nesse encalço.
É bom observarmos que na literatura de informação tínhamos tanto descrições ufanistas sobre os recursos naturais e sobre a Natureza de um modo geral; como, relatos históricos, deixando a corte lusitana a par do que se passava por aqui.

Mas logo haveria produção cultural dos próprios brasileiros. E, para provar a tese do professor Fabiano de que a literatura segue e é reflexo da realidade (bem como interage com ela de forma influente, de modo a podermos sugerir uma simbiose), onde mais se plantou a cana de açúcar é onde teremos as maiores proliferações culturais: nordeste brasileiro. Deixemos isso para o século XVII. Por enquanto, além da supra-referida literatura de informação, havia outro tipo de produção cultural aqui na Terra de Vera Cruz: a literatura catequética, religiosa, 'evangelística', dos padres que aqui aportaram com intuito de proclamar a Cristo entre os gentios e pagãos: os indígenas*.
O professor Fabiano nos diz que essa literatura é produzida a partir de 1550, que é, como já vimos, quando Tomé de Souza vem para o Brasil, instala o Governo Geral, e traz uma remessa dos primeiros padres jesuítas. O professor diz que crônicas, poesias e peças são produzidas. Um dos nomes famosos que chegaram nessa primeira remessa, segundo Del Priori e Venancio (p. 29) é o do padre Manoel de Nóbrega, que logo tratou de fundar uma escola que tornou-se base para a missão. Este padre tem um texto famosos sobre a conversão do índio e é interessante de ser pesquisado*.

Entretanto, Fabiano admite, o Padre José de Anchieta é o principal nome no século XVI. "Nascido na ilha de Tenerife, a maior das Canárias, Anchieta veio para cá como noviço em 1553, aos 19 anos, depois de ter iniciado seus estudos na Universidade de Coimbra. Só se ordenou padre treze anos depois, em 1566, aos 32 anos" (CÉSAR, p. 44). Ele está em todos os acontecimentos fundamentais nesse século. A professora Cunha diz que José de Anchieta foi sagaz em sua estratégia. Entrou em contato com os índios, aprendeu sua língua e até fez uma gramática tupi-guarani! Após adentrar-se à sua cultura, ele começa a implantar, segundo a professora, um processo de transformação cultural. Textos teatrais e poéticos foram usados em prol da catequização do índio. O teatro envolvia o índio e era muito eficaz. César complementa as informações sobre sua produção literária: "Além de uma quantidade enorme de cartas, poemas, dramas e sermões, o jesuíta escreeu a Gramática da língua  mais usada na costa do Brasil e o catecismo bilíngui (tupi e português) intitulado Diágolo da fé*, este por volta de 1560, sete anos depois de chegar ao Brasil" (CÉSAR, p. 44).
Del Priori e Venancio nos contam sobre Anchieta "produzindo um dos primeiro livros escritos entre nós e publicado, num impecável latim, em Lisboa em 1563. Tratava-se de um poema épico sobre o governador Mem de Sá com cinematográficas descrições sobre suas crueldades em relação aos indígenas" (DEL PRIORI, VENANCIO, p. 98). A literatura dos padres, como se vê, também não deixou de servir como relato histórico, pois reportavam fenômenos sociais e culturais que viam e que têm grande valor para o conhecimento do que se passou naqueles tempos em nossas terras.
Terminemos com a morte de Anchieta, pois, informada por Elben M. Lenz César: "José de Anchieta morreu no dia 9 de junho de 1597, aos 63 anos, numa pequena colina na cidade hoje denominada Anchieta, no Espírito Santo. Seu corpo foi carregado até Vitória, por seus fiéis, quase todos indígenas" (CÉSAR, p. 48).


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* Haveremos de dissertar com mais cautela sobre isso em outra oportunidade, fora dessa série. Fazê-lo aqui desvirtuaria os propósitos da série que busca apenas tornar nossa história política e literária conhecida ao público.
* Quem quiser lê-la, segue o link: http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=17424
* Isso também prova a tese de Fabiano, e as ações humanas são refletidas na pena e no papel. A literatura de informação também é reflexo dos interesses e da filosofia dos portugueses na época. Fica evidente que a produção literária é produto na realidade sócio-cultural em que se encontram os homens.
* Quem quiser dar uma lida em seu texto, segue o link: http://www.ibiblio.org/ml/libri/n/NobregaM_ConversaoGentio_p.pdf.
* "causa uma desagradabilíssima surpresa a omissão de Anchieta quanto à ressurreição de Jesus. [...] No Diálogo da fé, a história de Jesus termina no túmulo de José de Arimateia, embora na última resposta se diga que 'o Senhor Jesus se preparava para viver de novo'. É claro que Anchieta cria na ressurreição gloriosa de Jesus, mas, de fato, não a mencionou em parte alguma de seu catecismo" (CÉSAR, p. 45). Uma vez que Anchieta foi tão importante e influente no século XVI, pode ter deixado marcas indeléveis no espírito brasileiro, como sugere ainda César: "Talvez essa omissão, muito provavelmente involuntária, explique em parte a preferência que o brasileiro, de modo geral, tem pela morte de Jesus em detrimento de sua ressurreição. Sempre há mais comemoração na sexta-feira da paixão do que no domingo da ressurreição" (CÉSAR, p. 46).

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BIBLIOGRAFIA

CÉSAR, Elben M. Lenz. História da Evangelização do Brasil: dos jesuítas aos neopentecostais. Viçosa: Ultimato, 2000,  192p.

CUNHA, Greice da. Literatura - Aula 01: Quinhentismo, Barroco e Arcadismo. Acessado no dia 02/09/2014 em: https://www.youtube.com/watch?v=PYILDWC_PSI

DEL PRIORI, Mary; VENANCIO, Renato. Uma Breve História do Brasil. São Paulo: Editora Planeta, 2010, 320p.

FABIANO. Literatura do Brasil. Aula 2 - Literatura e Situação Colonial. Acessado no dia 02/09/2014 em: https://www.youtube.com/watch?v=EoxeGMYIbas

FABIANO. Literatura do Brasil. Aula 3 - Literatura de Informação. Acessado no dia 02/09/2014 em: https://www.youtube.com/watch?v=iZzOadlZ5rQ





quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Brasil, Holanda, União Ibérica e o Fim da Economia do Açúcar



Dom Sebastião, louvado rei lusitano, acabara rumando-se para a África e morrera numa batalha e 1578. O problema é que ele não tinha herdeiros, e o trono luso precisava ser ocupado. Um parente próximo, o cardeal Dom Henrique, assume o trono. Entretanto, Dom Henrique vem a falecer em 1580 e o trono fica vago. Felipe II, da Espanha, aproveita e se apossa do trono português.
Claro, não houve resistência. Aliás, como observa Woloski, os burgueses e comerciantes portugueses até almejavam tal união ibérica, visto que, com isso, participariam das empreitas econômicas na América-Latina, explorada pelos espanhóis. E, como se tal perspectiva não bastasse, continua o professor, ainda teriam a proteção da 'invencível armada', o exército naval mais poderoso do mundo, e que pertencia aos Espanhóis.
Assim, Woloski informa, em 1581 Felipe II assinou o Tratado de Tomar, e Portugal foi reconhecido não como colônia espanhola, mas como parte do reino unido da Espanha. Como Espanha e Portugal situam-se na Península Ibérica, temos, pois, essa união sendo denominada de União Ibérica.

Quais as consequências desse fenômeno político para o Brasil? Primeiramente, elimina-se o Tratado de Tordesilhas. Agora toda a América pertencia a um só país. Mas, de negativo, o professor Woloski observa que a Espanha não estava muito interessada na gestão do Brasil, e, agora, sem uma corte lusitana efetiva o país tinha sido entregado meio que à própria sorte. Tanto é que a economia do açúcar despencou. Pirataria e contrabando tornaram-se rotina. Del Priori e Venancio têm um exemplo interessante: "Entre 1602 e 1607, o oitavo governador do Brasil, d. Diogo Botelho, encontrou um tal descalabro na figura de funcionários que lesavam o fisco e exerciam tranquilo contrabando, que efetuou várias demissões na capitania de Pernambuco. A incompetência judicial que então se instalava iria somar-se à distância física entre o centro de decisões administrativas, Lisboa, e as cidades litorâneas brasileiras. [...] O braço da lei não atingia as áreas remotas. As próprias leis eram profusas e confusas. [...] A administração judiciária concentrava-se em algumas vilas e cidades, deixando o resto da Colônia nas mãos da justiça privada e do mandonismo local" (DEL PRIORI, VENANCIO, p. 42). A situação estava bagunçada, afirmam os autores, e cada Governador Geral vinha com um novo Regimento, e situação judicial tornara-se caótica.
A coisa estava tão feia que Woloski sugere que a invasão holandesa se deu, ou foi facilitada, justamente por conta desse desleixo espanhol para com o Brasil.

INVASÃO HOLANDESA

Precisamos fazer uma digressão. Fábio Costa nos lembra que a Holanda era colônia espanhola. Entretanto a Holanda já gozava de prestígio, e estava plenamente desenvolvida como nação. Dentre outras coisas, gozava de muitos benefícios com o comércio do açúcar brasileiro. Mas fora reivindicar independência justo quando a Espanha detinha a posse de Portugal e, com isso, de todas as suas colônias. O resultado, claro, foi um embargo comercial entre Holanda e Brasil. Renato Venancio e Mary del Priori ressaltam: "a empresa do açúcar era complexa e envolvia terras, técnicas e homens. No século XVII, ia de vento em popa. Isso tudo eera alvo de grande cobiça por parte dos holandeses. Sobretudo porque, durante a Unificação Ibérica (1580-1640), encontravam-se interditados de realizar negócios no Brasil. Afinal, a luta pela independência das Províncias Unidas [Holanda] era uma luta contra os Felipes espanhóis, o que, automaticamente, tornava os flamengos inimigos dos portugueses. Felipe II dera ordens expressas a respeito deste particular: 'Nenhuma nau, nem navio estrangeiro' poderia comerciar em portos do Reino ou das Conquistas sem licença expressa e assinada pelo rei. Se, durante anos, holandeses comerciaram em nosso litoral, alguns deles tendo se tornado senhores de engenhos [...] agora viam a possibilidade de tomar conta da empresa do açúcar como um todo. E isso sem ter que pagar tarifas ou licenças à Coroa portuguesa (ou espanhola, a partir de 1580) e passando, além do mais, a controlar o refino e o comércio colonial do produto" (DEL PRIORI, VENANCIO, p. 53).
Tal situação era prejudicial demais para a Holanda. Agora, como país independente, ela precisava de suas colônias para seguir no encalço das duas grandes potências da época, que agora eram uma só nação. Então os flamengos resolvem envolver-se na expansão marítima com duas empresas: a Companhia das Índias Orientais e a Companhia das Índias Ocidentais*. A segunda ruma para o Brasil para tentar uma colônia por aqui.
Segundo Boris Fausto, não era apenas o interesse no açúcar, mas também no controle do comércio de escravos, tanto que a invasão no nordeste brasileiro progredia em paralelo às invasões na costa africana. Era quase uma investida simultânea, nos dá a entender o historiador.
César faz a seguinte observação, que vale a pena ser mencionada: "A ocupação do Nordeste brasileiro fazia parte de uma guerra contra a Espanha, uma guerra chamada então de guerra religiosa, guerra justa e guerra mundial. [...] A guerra entre Holanda e Portugal terminou, como diz o historiador e pastor Frans Leonard Schalkwijk [uma das maiores autoridades brasileiras sobre o assunto], 'com uma vitória holandesa na Ásia, um empate na África e uma vitória portuguesa no Brasil'" (CÉSAR, p. 51).
Pelo açúcar e pelos escravos, aqui aportaram os holandeses em 1624, na Bahia. Dominando a terra, cobraram impostos e proibiram o catolicismo. Claro, sem o apoio dos nobres, fatigados pelos impostos, e da igreja, logo tinham o povo todo contra si, e, junto aos portugueses, esses criaram uma revolta e expulsaram os holandeses em 1625. A investida holandesa estava perdida! Muito recurso havia sido gasto nessa empreita e agora a Holanda voltava com o 'rabinho entre as patas'.
Mas algo espetacular aconteceu! Um navio carregado de ouro, espanhol, fora interceptado (em 1627, segundo Fábio Costa)! Ali a Holanda retomara os recursos para uma nova investida que vai acontecer em 1630. Dessa vez, em Pernambuco. E aqui obtiveram sucesso.

Fábio Costa nos conta sobre uma divisão em etapas da conquista flamenca. Na primeira etapa, de 1630 a 1637, temos a 'Conquista Rápida'. Antes de falar dela, precisamos observar uma subdivisão proposta por Venancio e del Priori, que, paradoxalmente é chamada de 'guerra lenta': "Entre 1630 e 1632, os flamengos ficaram à mercê da guerra lenta: uma guerra feita, de emboscas e assaltos, levados a termo por esquadrões compostos por negros, índios e soldados da terra, que os mantinham nas praças fortes do litoral, mas que deixavam os engenhos e a produção de açúcar fora de seu alcance" (DEL PRIORI, VENANCIO, p. 53-54). Bom, afora esses dois primeiros anos, temos a já mencionada 'conquista rápida'. Segundo Fábio Costa, os senhores de engenho não estavam satisfeitos com as destruições das lavouras e acharam interessante a proposta de empréstimo dos holandeses para o replantio. Logo contribuíram para que os holandeses se estabelecessem.
Se a Espanha não fez nada para ajudar? Até que fez, porém sem muita eficiência, como Venancio e del Priori nos mostram: "Enfraquecida pela Guerra de Trinta Anos (1618-48), que trava contar os protestantes, a Espanha, por meio do protegido de Felipe IV, o conde duque de Olivares enviou para a colônia minguados reforços. Lisboa pouco podia interferir, fazendo-se a resistência à custa e nas costas dos lusos-brasileiros" (DEL PRIORI, VENANCIO, p. 54).

A segunda fase é a da Acomodação, onde temos o governo de Maurício de Nassau, de 1637 a 1644. A propósito, Maurício de Nassau foi enviado pra cá justamente com o propósito de consolidar a dominação holandesa, como nos informam Venancio e del Priori: "Preocupados em consolidar o domínio da terra e reconstruir a economia, os dirigentes da Companhia das Índias Ocidentais enviam para cá João Maurício, conde de Nassau-Siegen, com o título de governador-geral do Brasil [1637], apressando-se em esmagar os últimos focos de resistência" (DEL PRIORI, VENANCIO, p. 54).
E como terá sido a administração de Nassau por aqui? O professor Fábio Costa, ciente das loas que se lhe tecem, resolve contrariar as informações da mainstream, e diz ter sido um momento de crise econômica devido aos conflitos religiosos e questões mercadológicas concernentes a importação de itens. Entretanto, não é o que os relatos nos dizem e aqui sentimos ter de discordar do professor Costa. Primeiramente, os engenhos abandonados foram logo ocupados: "Os vazios criados pelo abandono dos engenhos foram preenchidos por holandeses, judeus e luso-brasileiros, graças ao financiamento providenciado pela Companhia. Criou-se, assim, um grupo de novos proprietários interessados no sucesso da empreitada flamenga" (DEL PRIORI, VENANCIO, p. 55).
Woloski anda na mesma entoada para observar que ele pacificou os rebeldes insatisfeitos pela gestão luso-espanhola, mui conturbada e desleixada; propôs empréstimos para a recuperação das lavouras, angariando o favor dos senhores de engenho; promoveu melhorias urbanas e, por fim, promoveu, também, as artes, trazendo importantes artistas do renascimento holandês (Woloski cita Franz Post).

Outro item importante mencionado pelo professor Woloski é o fato de que Nassau concedeu liberdade religiosa, embora sendo protestante, permitindo o catolicismo.
O judaísmo também encontrava mais espaço por aqui, como informam Del Priori e Venancio: "os judeus que iriam se instalar em Pernambuco quando da invasão holandesa, de 1630 a 1654, encontraram melhores condiç~eos para exercer sua religiosidade" (DEL PRIORI, VENANCIO, p. 37), chegando a construir sinagoga! Adiante os autores deixam claro: "Nesse governo, a liberdade religiosa era para todos. Católicos eram livres para exercer seu culto e manter relações com a sede episcopal da Bahia. Sinagogas e escolas hebraicas funcionavam no Recife e foram as primeiras da América. O protestantismo, considerado a verdadeira religião, lutava para instalar-se no Brasil. A chave para sua compreensão era a subordinação de todos os aspectos da vida aos sagrados mandamentos. A formação de paróquias protestantes estendeu-se pela conquistas territoriais, com a catequese e o ensino ocupando muitos pregadores*" (DEL PRIORI, VENANCIO, p. 38). Claro, nesse aspecto, como era de se esperar, César é mais completo: "No Brasil holandês, dava-se muita importância à fé e à conduta dos fiéis. Era o reflexo da Reforma Protestante de 100 aos atrás e de um movimento mais recente conhecido como puritanismo holandês. A Bíblia era a norma credenti et agendi, isto é, norma de fé e comportamento. Era preciso tratar os escravos com mais humanidade, era preciso cuidar das viúvas e dos órfãos, era preciso proteger o meio ambiente, era preciso observar o domingo, era preciso conhecer de perto os dez mandamentos da lei de Deus, era preciso consolar os doentes, era preciso dar alguma liberdade de culto aos não-protestantes, era preciso controlar a taxa de juros, era preciso ter momentos de lazer (pois 'trabalhar demais era roubar a si mesmo'), era preciso aproximar-se da Mesa do Senhor prévia e devidamente preparado etc." (CÉSAR, p. 52). Esses fato não nos permite concordar de maneira alguma com Fábio Costa, que colocou como motivo para sua especulação sobre a existência de um fracasso econômico na Holanda Americana de Nassau os conflitos religiosos.
Nesse ínterim ministrava no Brasil o padre Antônio Vieira, sobre quem falaremos outrora. O professor Fabiano nos relata que em 1640 ele faz um belo sermão chamado “Sermão para o Bonsucesso das armas de Portugal contra as de Holanda”, conclamando os brasileiros a lutarem contra os Holandeses, dizendo que se estes dominassem o Brasil, as coisas ficariam muito ruins por aqui. Entretanto, mesmo ele, depois, veio a reconhecer a boa administração, inclusive pacífica, de Nassau no nordeste. De fato, Nassau foi figura mui carismática: "O período áureo do Brasil holandês, tanto para os holandeses como para os lusos-brasileiros, durou oito anos e está compreendido entre janeiro de 1637 e maio de 1644. Coincide com o governo do Conde João Maurício de Nassau-Siegen, membro e frequentador assíduo da Igreja Reformada. Quando Nassau se retirou, até os portugueses pediram a sua permanência. [...] Se ele tivesse ficado, talvez o Nordeste brasileiro viesse a falar holandês e a maioria da população se tornasse cristã reformada. Até o jesuíta padre Antonio Vieira era a favor do parecer que entregava Pernambuco aos holandeses" (CÉSAR, p. 51).

Antecipamos nosso próximo ponto. A próxima etapa foi a da retirada de Nassau e uma crise na colônia holandesa. Primeiramente temos que nos voltar para a Europa. Em 1640 temos a reivindicação de Portugal de independência. Rodrigo Woloski nota que os burgueses não viram, durante a União Ibérica, a prosperidade prometida pelos espanhóis que, por sua vez, cobravam altos impostos deles e isso lhes fez movimentar uma revolta. A partir daí, de 1640 a 1688 temos a Guerra da Restauração, onde os lusitanos limpam suas terras dos vestígios espanhóis. Mas já em 1640 temos o rompimento da União Ibérica. Segundo Fábio Costa, Portugal, em 1640, pediu ajuda para a Holanda para se livrar do domínio espanhol. Claro, a Holanda, em franca oposição à Espanha, aceitou. Principalmente porque Portugal prometeu, segundo Costa, que deixaria os flamengos livres no nordeste brasileiro. Entretanto, Portugal não cumpriu para com sua promessa. Logo, logo estavam financiando grupos para combater os holandeses em terras brasileiras.
Del Priori e Venancio ainda nos falam de uma crise no preço do açúcar que culminou em problemas na economia colonial: "O colapso do preço do açúcar na bolsa de mercadorias de Amsterdã entre 1642 e 1644 destruiu o otimismo que Nassau encorajara em sua verdejante Maurícia. Enquanto o recém-instalado governador-geral incentivava o financiamento e a melhoria dos engenho , estimulando, entre outros aspectos, a implementação de uma polítrica e livre comércio na qual a Companhia ficava restrita ao monopólio do pau-brasil, de escravos e de munição, na Europa, o açúcar se desvalorizava. Com [...] infernal cadeia de mazelas, seguiu-se a bancarrota. Em 1642, com Nassau ainda no comando, começaram a chover notícias sobre a ruína de comerciantes do Recife, ruína que empurrara para a falência grandes mercadores flamengos. [...] Para culminar, as ações da Companhia despencaram" (DEL PRIORI, VENANCIO, p. 55-56).
Então Nassau é convidado a partir: "em 1640, d. João IV assumira o trono e [..com a perda dos territórios no Oriente, o Brasil ganhava importância. Enquanto isso, na Holanda, insatisfeitos com as despesas e prejuízos, os diretores da Companhia exigiram o retorno de Nassau. Ele regressou em 1644" (DEL PRIORI, VENANCIO, p.56). A partir daí a coisa piorou cada vez mais. Woloski nos conta que os novos governadores da Companhia das Índias Ocidentais não seguiram as políticas de Nassau, e passaram a cobrar os empréstimos feitos, a cobrar impostos e a militar contra a liberdade religiosa."Em junho de 1645, um ano depois da retirada de Nassau, mais de 200 soldados holandeses e índios potiguares mataram o padre André de Soveral e outros setenta fiéis durante a missa dominical realizada na Capela Nossa Senhora das Candeias [...]. Três meses depois ocorreu outro martírio, desta vez a dezoito quilômetros de Natal [...]. Algumas dessas vítimas foram beatificadas pelo papa João Paulo II mais de 350 anos depois em março do ano 2000" (CÉSAR, p. 51-52). Claro, pois, a colônia foi ficando cada vez mais conturbada.
 As tropas organizadas dos portugueses, somados aos devedores aos holandeses que passaram para o lado deles organizava-se e acabara forçando os holandeses à guerra. "Encontraram pela frente soldados enfraquecidos pela partida de seu chefe militar, Nassau, e desestimulados pelo atraso no pagamento de soldos. Multiplicavam-se as deserções. A guerra foi declarada em 1646. Duas batalhas campais, em Guararapes,selaram, entre 1648 e 1649, o destino dos holandeses" (DEL PRIORI, VENANCIO, p. 56-57).

Para quem pensa que não podia piorar, veja isto. "Portugal resolveu intervir num momento em que os holandeses confrontavam a Inglaterra de Cromwell. Uma guerra iniciada em 1652 absorveria todas as forças, armas e esquadras das Províncias Unidas. Lá, não apenas discordâncias haviam enfraquecido a Companhia, como um grupo de burgueses interessados na via pacífica ocupava o governo. E percebera-se, com rapidez, que o Brasil ocupado era pior negócio do que enquanto colônica portuguesa. Através do comércio com Portugal, muito ainda se poderia lucrar" (DEL PRIORI, VENANCIO, p. 57). Logo, em 1654, o Recife está tomado de volta, contam-nos os historiadores.
Como é que a história terminou? Bom, a entre Inglaterra e Holanda vai terminar em 1660. Os conflitos entre os holandeses e portugueses acabam cessando também. E até que não ficou ruim para os flamengos: "A resolução do conflito passou por interferência inglesa. Recém-reconduzido ao trono, em 1660, Carlos II Stuart casou-se com Catarina de Bragança. O tratado de paz firmado com a Holanda, em Breda, deixava a totalidade do Brasil a Portugal, mediante largas concessões no Oriente, uma importante indenização e a possibilidade para os flamengos de seguir fazendo comércio nas costas brasileiras" (DEL PRIORI, VENANCIO, p. 57).

CONSEQUÊNCIAS DA UNIÃO IBÉRICA E INVASÕES HOLANDESAS

Schiavone nos conta que, os holandeses, expulsos, foram plantar cana de açúcar nas Antilhas. E, segundo Del Priori e Venancio, não foram só eles: "comerciantes judeus e agricultores holandeses transferiram para as Antilhas o conhecimento de técnicas agrícolas aprendidas no Brasil. A tendência foi acompanhada por franceses e ingleses, e a presença de um maior número de produtores no mercado mundial empurrou a economia da Colônia para uma grande crise" (DEL PRIORI, VENANCIO, p. 57-58).
 A coroa portuguesa retoma a produção açucareira, precipuamente a região mais rica, o nordeste açucareiro. Porém a crise continua pois o açúcar holandês é mais barato e melhor que o nosso(Woloski nos conta que os holandeses sabiam refinar o açúcar, ao passo que os luso-brasileiros, não) e é nosso concorrente direto. Além disso, salienta Costa, eram, antes, eles quem negociava e revendia na Europa. Portanto, até nisso estavam mais preparados. Pra piorar a situação, a condição das terras não estava das melhores, conforme Del Priori e Venancio: "As guerras do açúcar tiveram sérias consequências para o Nordeste.  Em curto prazo, deixaram ruínas. Colheitas destruídas, gado capturado, escravos aquilombados. Foram necessárias dezenas de anos para que Pernambuco voltasse a integrar a empresa do açúcar" (DEL PRIORI, VENANCIO, p. 57). Eles tinham um açúcar melhor; preços melhores; melhor 'departamento de venda'; terras em melhores condições... era óbvio que Portugal não podia mais depender do açúcar.

E a Igreja Reformada que os holandeses trouxeram? "Embora tenha desenvolvido um trabalho missionário principalmente entre os indígenas, a Igreja Reformada Holandesa se estabeleceu no Nordeste brasileiro não como resultado do anúncio do evangelho. Ela foi transpalntada para cá por ocasião da ocupação holandesa, em 1630, e desapareceu em seguida à expulsão dos invasores em 1654" (CÉSAR, p. 50).

 Assim, a coroa lusa busca uma nova fonte de riqueza, a exploração de um novo recurso a ser explorado. Surgem então, como exploradores, os Bandeirantes.Os bandeirantes eram aventureiros, e comerciavam escravos capturados e produtos exóticos. Receberam investimento para buscar o tão sonhado ouro brasileiro. Já no final do século XVII encontraram ouro na região central do Brasil, particularmente onde hoje chamamos de Minas Gerais. Há, assim, um deslocamento da economia do litoral para o centro do Brasil.

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*"Fundada em julho de 1621, a Companhia das Índias Ocidentais [...] era irmã mais nova da Companhia das Índias Orientais, nascida 19 anos antes. Um dos seus mentores [...] defendia a formação de colônias agropecuárias de evangélicos no Novo Mundo [...] a exemplo da sonhada Nova Genebra de João Calvino. Os holandeses já haviam fundado a Nova Armsterdam em 1614 e os peregrinos ingleses do Mayflower, a Nova Inglaterra em 1620, ambas ao norte de onde ficam hoje os Estados Unidos. Porque não fundar também a Nova Holanda aqui no Nordeste? [...] A companhia das Índias Ocidentais não era uma companhia religiosa e missionária, como a Companhia de Jesus [...]. Era uma companhia secular, com o propósito de enriquecer os seus sócios. Mas à semelhança dos navegadores e colonizadores dos países católicos (Espanha e Portugal), havia também propósitos acentuadamente religiosos e missionários" (CÉSAR, p. 50).
* Duas citações de César valem a pena ser mencionadas aqui. Dizem respeito às investidas protestantes no Brasil-Holandês. Primeiro, quanto às igrejas e ao número delas por aqui ele notifica-nos que, "por considerarem cristãos os templos católicos já existentes, os reformados quase não construíram templos em Recife e na zona ocupada. Usavam os templos católicos depois de retirarem deles as imagens, os altares e o paramentos sacerdotais. [...] Estima-se em 22 o número de igrejas no Brasil holandês, todas jurisdicionadas, a princípio, ao Presbitério de Amsterdam" (CÉSAR, p. 53).

Quanto ao trabalho evangelístico propriamente dito é interessante observar isto: "Pelos cálculos de Frans Leonard Schalkwijk, 17% do trabalho pastoral no Brasil holandês era dedicado aos indígenas. [...] A maior parte dos tupis havia sido cristianizada e batizada pelos jesuítas, mas eles geralmente 'não podiam dar a razão de sua fé nem o fundamento da sua salvação'. Os ministros reformados não os batizavam outra vez. Todavia exigiam dos adultos não batizados uma profissão de fé em Jesus Crisot antes do batismo" (CÉSAR, p. 54).

BIBLIOGRAFIA

CÉSAR, Elben M. Lenz. História da Evangelização do Brasil: dos jesuítas aos neopentecostais. Viçosa: Ultimato, 2000,  192p.

COSTA, Fábio. História do Brasil - Aula 1: Navegações Portuguesas e Período Pré-colonial. Acessado no dia 23/07/2014, em: https://www.youtube.com/watch?v=5tuK1c_51rw.

DEL PRIORI, Mary; VENANCIO, Renato. Uma Breve História do Brasil. São Paulo: Editora Planeta, 2010, 320p.

FAUSTO, Bóris. A História do Brasil por Bóris Fausto. Acessado no dia 23/07/2014 em: https://www.youtube.com/watch?v=pSyE82yRaKU

NARLOCH, Leandro. Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil. São Paulo: Leya, 2009, 320p.



SCHIAVONE, Alexandre. História - Aulo 1: Período Colonial Brasileiro. Acessado no dia 01/09/2014, em: https://www.youtube.com/watch?v=ouq9tU5DUOc&list=PL-5888xShjYp6bkqJ9Ro5Z6h_LH8P4kkm&index=2


WOLOSKI, Rodrigo. História do Brasil - Aula 2 Período Pré-Colonial. Acessado no dia 01/09/2014, em: https://www.youtube.com/watch?v=iP99XK83Kzk&list=PLF2J-8QoLzYG93_TqdDCoJnPspo0ds7q3&index=21

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Franceses, Índios, Negros e Escravidão... alguns fenômenos do século XVI que não podem ser omitidos

[eis o pano de fundo onde os seguintes eventos se deram]

GUERRA DOS TAMOIOS E PROTESTANTISMO BRASILEIRO

Vimos que Tomé de Souza logo trouxe os jesuítas para evangelizar o Brasil e "o primeiro grupo era composto por seis missionários da recém-fundada Companhia de Jesus, entre os quais estava Manuel de Nóbrega" (DEL PRIORI, VENANCIO, p. 29). Os mesmos historiadores ainda nos contam da incumbência que tinham de aprender as línguas indígenas para evangelizá-los, a começar pelas crianças.
Ao mesmo tempo, ou melhor, pouco tempo depois, aportava no Brasil os primeiros protestantes. Nas palavras de César as informações correm graciosas: "Pouco mais de meio século depois da descoberta do Brasil, 38 anos depois da proclamação da reforma Protestante e apenas 6 anos depois da chegada dos jesuítas à Bahia, aportou no Brasil uma caravana ecumênica procedente da França. Eram nobres, artesãos, soldados, criminosos e agricultores, alguns católicos e outros protestantes, sob o comando do navegador e aventureiro Nicolau Durand de Villegaignon, de 45 anos, ora católico ora protestante" (CÉSAR, p. 37).

Que empreita é essa? Por que os franceses para cá vieram? Del Priori e Venancio nos contam que a França era um lugar perigoso para os protestantes, e, portanto, apoiados pelo influente Gaspar de Coligny, alguns franceses rumaram para as bandas de cá próximo a 1555: "quando chega à baía de Guanabara o vice-almirante francês Nicolau Durand de Villegaignon para fundar no hemisfério sul uma colônia, a França Antártica, com calvinistas (huguenotes) franceses, hostilizados em sua terra. [...] Com o auxílio de Gaspar de Coligny, nobre protetor dos huguenotes, Villegaignon estabeleceu-se na Guanabara com quatrocentos homens atraídos pela promessa de liberdade religiosa" (DEL PRIORI, VENANCIO, p. 37). César reforça os dizeres dos historiadores supramencionados: "Os franceses queriam construir aqui a França Antártica, por razões econômicas e religiosas. Em nenhum canto da França, então com 15 milhões de habitantes, havia segurança para os protestantes, lá chamados de huguenotes. Um deles, o almirante Gaspar de Coligny, de 36 anos, era muito influente e deu total apoio à empreitada de Villegaignon" (CÉSAR, p. 37). Portanto, aqui estavam alguns franceses que vieram para morar!
Ao que parece logo se associaram aos índios locais, os tamoios, e tudo corria bem. Mas Villegaignon se nos apresenta um tanto quanto paranóico, conforme descrição de Mary e Renato: "Suspeitas e insegurança, porém, logo perturbariam o governo da França Antártica. Villegaignon desconfiava de seus próprios homens e dos índios tamoios, seus aliados" (DEL PRIORI, VENANCIO, p. 37).
Piorando um pouco a situação, conturbando (mais ainda?) a mente de Villegaignon, acontece outro fenômeno: a vinda de pregadores, ministros calvinistas.  Há, contudo, aqui, uma divergência entre nossas fontes. Venancio e del Priori dizem que "aqui chegou um contingente de 238 religiosos calvinista vindos de Genebra, onde haviam sido ordenados. Ao que parece, os missionários recém-chegados traziam cartas de recomendação de importantes líderes religiosos e nobres, que fizeram Villegaignon temer por seu prestígio na França" (DEL PRIORI, VENANCIO, p. 37), ao passo que César diz "No dia 7 de março de 1557, um ano e três meses depois da primeira expedição, chegou a segunda leva de franceses: cerca de 3000 colonos católicos e sem religião em sua maioria. Com eles vieram quatorze huguenotes [...] de Genebra, enviados por João Calvino, a pedido do próprio Villegaignon. Entre estes estavam o doutor em teologia Pierre Richier, de 50 anos, o pastor Guillaume Chartier, o historiador Jean de Léry e dez aresãos" (CÉSAR, p. 38). 14 ou 238 religiosos? Seja como for, vieram pregadores e teólogos calvinistas para essas terras.
Venancio e del Priori nos conta sobre a recepção calorosa inicial que logo foi substituída por divergências doutrinárias."Na chegada, o líder os recebeu com gestos de obediência, passando, logo depois, a criticá-los por não usarem pão comum e vinho não misturado com água na celebração da Santa Ceia. As polêmicas se multiplicaram. Villegaignon questionava as posição calivnistas sobre a transubstanciação [...], a invocação dos santos, o Purgatório" (DEL PRIORI, VENANCIO, p. 37).
Aqui encontraremos nova divergência entre as fontes. Primeiro, Venancio e Del Priori nos contam que o ministro enviado por Calvino, Pierre Richier, foram proibido de pregar quando as controvérsias se intensificaram, e diz que ele, então, resolveu voltar para a Europa: "Por fim, proibiu Pierre Richier, um dos pastores credenciados por Calvino, de pregar. Diante de tantos conflitos, Richier partiu par a Europa com seus auxiliares" (DEL PRIORI, p. 37-38). Já César diz que, primeiro, os calvinistas foram exilados (o que é compatível com as informações dos historiadores) e depois foram expulsos: "O namoro do vice-almirante com os huguenotes durou muito pouco tempo. Em outubro de 1557, sete meses depois de ter tomado a Ceia do Senhor em duas espécies (pão e vinho), Villegaignon os expulsou da ilha para um local chamado La Briqueterie, hoje Olaria, no continente. Menos de três meses depois, em janeiro de 1558, Richier e outros genebrinos foram obrigados a voltar para a Europa e lá contaram o que havia acontecido e chamaram Villegaignon de 'o Caim da América'" (CÉSAR, p. 39), o que dá ares mais nobres a Richier, pois ele, dessa forma, não teria desistido do trabalho por conta das dificuldades.
Consenso também é o que aconteceu depois: "Devido às más condições de travessia marítima, alguns resolveram voltar. Foram recebidos por um desconfiado Viellegaigon que rejeitara publicamente o calvinismo. Obrigados a redigir uma declaração sobre algunspontos doutrinários - intitulada Confessio Fluminensis -, caíram numa armadilha: acusados de traição, foram condenados e executados. Tonaram-se os primeiros mártires do credo protestante na América" (DEL PRIORI, VENANCIO, p. 37-38) e César:
"Nesse mesmo ano, no dia 9 de fevereiro, o homem forte da França Antártica mandou estrangular e lançar ao mar os quatro signatários de uma confissão de fé reformada" (CÉSAR, p. 38), que foi a mencionada acima. O autor ainda menciona que um voltou atrás e foi poupado. Os demais huguenotes fugiram e há um relato de um deles, anos mais tarde, que foi para São Vicente, foi preso e levado para a Bahia e, depois, acabou sendo "enforcado no Rio de Janeiro por ordem de Mem de Sá e com a assistência de José de Anchieta" (CÉSAR, p. 39), em 1567.

Neste ínterim há outro evento que merece ser mencionado. É a Guerra dos Tamoios. O tupinambás, também conhecido como tamoios, logo se associaram aos franceses. Outros índos também se associaram. Claro, índios e estrangeiros unidos eram um terror para os portugueses. Se já eram indesejáveis em separado, quanto mais juntos e livres.
Del Priori e Venancio  mencionam uma guerra que ocorreu quando os franceses por aqui estiveram, na Guanabara, e relatam o evento como a primeira união entre os índios: "Em meados do século XVI, a Confederação dos Tamoios, primeiro movimento de resistência a reunir vários povos indígenas, como tupinambás, goitacases e aimorés, teve o apoio de huguenotes franceses, terminando com milhares de índios mortos e escravizados" (DEL PRIORI, VENANCIO, p. 26). Claro, coloca a coisa de modo a parecer um massacre exclusivamente lusitano, e ainda apoiado pelos malvados calvinistas. Mas Narloch está constantemente a contar o que foi omitido. Os portugueses aproveitaram que os índios tupiniquins e temiminós tinham rixas com os índios associados aos franceses e partiram para o que ficou conhecida como "Guerra dos Tamoios, entre 1556 e 1567. Os tupiniquins e os temiminós ajudaram os portugueses a expulsar os franceses do Rio de Janeiro. Ao mesmo tempo, lutavam contra antigos inimigos: os tupinambás, também chamados de tamoios. Depois de vencerem, os nativos aliados dos portugueses ganharam terras e uma posição privilegiada de colaborados do reino português" (NARLOCH, p. 38). Portanto, era um conflito de interesses. Os portugueses queriam garantir suas terras, e os índios queriam apenas a cabeça dos índios das outras tribos. Talvez os outros índios tenham se unido para enfrentar seus inimigos indígenas em comum, e certamente para retirar os lusitanos escravizadores que tanto lhes agrediam. Parece-nos possível, também, concluir que os franceses não exploraram ou escravizaram os índios. De qualquer modo, "enfraquecido e já sem a proteção de Coligny, Villegaignon retornou à França em 1558, pouco antes de os portugueses recuperarem a Guanabara" (DEL PRIORI, VENANCIO, p. 38).
Elben Magalhães Lenz César conclui assim as considerações sobre este evento (e tomamos suas palavras para concluir): "Sob todos os pontos de vista, a França Antártica ou a invasão francesa foi um fracasso. A aventura de Villegaignon durou menos de 11 anos: no dia 20 de janeiro de 1567, os franceses foram expulsos do Rio de Janeiro por Mem de Sá. Villegaignon morreu em 1575, aos 67 anos, três anos depois de Coligny, que foi uma das vítimas da matança de São Bartolomeu, na França, em 24 de Agosto de 1572" (CÉSAR, p. 39).

ESCRAVIDÃO

Vejamos que a situação política mudou. Já notamos que nos primeiros momentos os brancos dependiam dos nativos para sobreviver, e acordos e alianças eram constantemente feitas. Mas "a partir de 1534, aproximadamente, tais relações começaram a se alterar. Chega ao fim a fase em que os brancos se mantiveram dependentes dos nativos. [...] Ao substituir o escambo pela agricultura, os portugueses começavam a virar o jogo. O indígena passou a ser, simultaneamente, o grande obstáculo para a ocupação da terra e a força de trabalho necessária para colonizá-la. Submetê-los, sujeitá-los, escravizá-los, negociá-los tonaram-se a grande preocupação" (DEL PRIORI, VENANCIO, p. 24). E assim se deu. Na verdade, a escravidão do indígena surge como uma necessidade econômica. Boris Fausto nota que era preciso trabalhadores para os canaviais, mas onde encontrá-los? Haviam condenados que acabaram vindo para o Brasil*, mas esses eram muito poucos. Sem precisar mais dos índio, passaram a usá-los na grande empresa açucareira, e logo vieram os negros: "Começava, assim, a rendosa empresa de caça ao indígena, e com ela o tráfico de negros da terra - termo utilizado para diferenciá-los dos negros africanos, que, aliás, começaram a chegar em profusão por volta de 1550 -, a fim de abastecer os núcleos de colonização" (DEL PRIORI, Venancio, P. 25).
 Portanto, negros até que haviam, mas eles começaram a vir de maneira mais volumosa em meados do século XVI, e é com Mem de Sá, como já vimos, que o tráfico negreiro é intensificado, compondo o quadro miscigenado de nossa nação*.
Mas, afinal de contas, por que raios os negros foram trazidos pra cá? Já não se tinham os índios? Não eram suficientes? Alguns fenômenos, entretanto, acabaram por minorar a quantidade de índios aptos para o trabalho, e os negros foram a alternativa: "A importação de africanos cobria a falta de mão de obra, uma vez que as epidemias e a mortalidade ligadas ao trabalho forçado, associadas à fuga de tribos inteiros para o interior, acabaram por inviabilizar o trabalho cativo dos índios. [...] a percentagem de escravos índios envolvidos na produção do açúcar foi [...] baixando à media que os senhores enriqueciam e podiam importar africanos. Isso começou a acontecer, principalmente na Bahia e em Pernambuco, a partir da segunda emtade do século XVI" (DEL PRIORI, VENANCIO, p. 51).
Temos de nos lembrar que o segundo Governador Geral, Duarte da Costa, enfrentou a fúria dos jesuítas contra a escravidão indígena. Dizem que os jesuítas recomendaram os negros, visto entenderem que estes não tinham alma, ao passo que os índios, sim, e, portanto, precisavam ser evangelizados e não tratados como animais*. Segundo Schiavone, a escravidão indígena perdurou até o século XVII, quando, pois, foi substituída pela escravidão do negro, que trabalharemos mais particularmente noutra oportunidade.
Incoerência à parte, a própria Igreja Católica tinha seus escravos, como nos conta Mary Del Priori e Renato Venancio: "Tratá-los como 'coisa' era natural, regra, aliás, seguida pela Igreja Católica, que os possuía às centenas em seus conventos e propriedades. O castigo físico exagerado era, contudo, condenado" (DEL PRIORI, VENANCIO, p. 51).

ÍNDIOS BONZINHOS?

Por um lado, ninguém duvida que houve muita chacina em relação aos índios. Temos de nos lembrar que eles eram um dos obstáculos para a falta de sucesso da empresa lusitana no Brasil. As Capitanias eram constantemente atacadas pelos dominadores portugueses. Então a ira da metrópole se acendeu contra eles, e, ouvido os relatos, Tomé de Souza é enviado para causar o caos entre os índios e Mem de Sá não fica atrás, conforme os historiadores Renato Venâncio e Mary del Priori: "Já em 1548, o regimento do governador Tomé de Souza instruía o governo para dobrar os índios hostis aos portugueses, dando-lhe carta branca para destruir aldeias, matar e punir rebeldes como castigo exemplar. A política de 'grande terror' recomendada por d. João III consistia, inclusive, em amarrar o índio que praticara algum delito à boca de um canhão, fando-o explodir. Mem de Sá que assumiu o governo-geral em 1557*, foi, sem dúvida, o campeão da violência" (DEL PRIORI, VENANCIO, p. 26). Entretanto, Norloch é, mais uma vez, bem sucedido em reformular as perspectivas tradicionais sobre o índio. Essa que mencionamos não é toda a história, e precisamos ter mais cautela antes de declarar 'pobres indiozinhos, inocentes, maltratados pelos gananciosos exploradores lusitanos'.
Temos de nos lembrar que os índios que aqui residiam tinham suas próprias 'políticas'. Viviam em guerra uns com os outros, e a guerra parecia seu apanágio*. A vinda dos Europeus foi vista por eles, a princípio, como um adendo a seus próprios 'movimentos políticos'. "Com a vinda dos europeus, que também gostavam de uma guerra, esse potencial bélico se multiplicou. Os índios travaram entre si guerras duríssimas na disputa pela aliança com os recém-chegados. Passaram a capituar muito mais inimigos para trocar por mercadorias. [...] Os portugueses, interessados em escravos, compravam os presos com o pretexto de que, se não fizessem isso, eles seriam mortos ou devorados pelos índios" (NARLOCH, p. 34-35). Portanto, ao adotar o sistema escravocrata, tal como sucede com os negros na África, os próprios índios eram, muitas vezes, os responsáveis pela escravidão de outro índio. Narloch colhe relatos de índios vendendo familiares a troco de quinquilharias, ou mesmo nas disputa entre tribos (se antes era importante capturar índio de maior 'qualidade social', agora quantidade estava na 'moda'). Isso, por si só, já nos faz ficar extremamente céticos quanto à figura bonitinha do índio amoroso e cordial que sempre ouvimos falar. Em outras palavras, resumindo a lição, "as tribos não apoiavam os colonos por alguma obediência cega. Seus líderes, que também particpavam das bandeiras e das batalhas, estavam interessados na pareceria para derrotar outras tribos" (NARLOCH, p. 38)*.

E quanto à questão da morte dos índios por conta das doenças transmitidas pelos portugueses (e, no ensino tradicional, a que Boris Fausto é fiel, dá-nos a impressão de que os portugueses quase que transmitiram intencionalmente essas doenças), Narloch é igualmente 'revolucionário'. Ele conta o que não nos contaram para manter a faxada de que os índios são o ápice da ética civilizatória humana: "Na verdade, quando chegaram ao Brasil, os portugueses pensavam que eles é que ficariam doentes. Era isso o que acontecia aos navegadores no resto do mundo. Os habitantes da África e da Ásia eram muito mais resistentes a doenças que os portugueses. [...] Para piorar, depois de meses de alimentação precária nas caravelas, o sistema imunológico ia para o chão. Quando voltavam das viagens novas doenças apareciam em Portugal" (NARLOCH, p. 57). Portanto, é mui certo que os índios também transmitiram muitas doenças para os portugueses, tanto os que aqui estavam quanto os que estavam em sua terra Natal, e o autor relata várias evidências.

Outro fator interessante de se relatar é o da miscigenação cultural (e posteriormente genética) entre índios e brancos. "Nas primeiras décadas do Brasil, tantos portugueses iam fazer festa nas aldeias que os representantes do reino português ficaram preocupados. Enquanto tentavam fazer os índios viver como cristãos, viam os cristão vestidos como índios, com várias mulheres e participando de festas no meio das tribos" (NARLOCH, p. 30). Portanto, os brancos adentravam-se às tribos e envolviam-se integralmente com os índios, aprendendo seus costumes e tomando suas índias por mulheres. Posteriormente, como havemos de ver, os índios também adentraram-se às cidades e aculturaram-se. Seja como for, há um fenômeno decorrente dessa inter-relação que merece destaque. Narloch nos conta sobre os índios logo adotarem o costume da bebedice com os portugueses, e tal fato é amplamente contado com propósito de denunciar a corrupção que os europeus causaram nos pobres e nobres índios. Entretanto, outro igualmente vexatório nos é encoberto: "É muito comum atribuir aos brancos a responsabilidade pelo alcoolismo entre índios. Em diversas tribos, os homens se tornam alcoólatras com muita facilidade, o que desestrutura a sociedade indígena. Ninguém, no entanto, culpa os índios por um hábito tão trágico quanto o álcool: fumar tabaco. Até os navegadores descobrirem a América, não havia cigarros na Europa nem o costume de tragar fumaça. Já os índios americanos fumavam, cheiravam e mascavam a folha de tabaco à vontade. A planta significava uma ligação com os espíritos e era usada em cerimônias religiosas. Entre os tupis, os caríbas ( um tipo de líderes espirituais) pregavam em transe, exaltados com o fumo muito intenso de tabaco. Em outras tribos, fumava-se antes de guerras, para aliviar dores e também por prazer" (NARLOCH, p. 60).
.Não é atoa que o Brasil logo tornou-se grande exportador de Tabaco! Novamente Leandro Norloch é nosso informante, e nos conta sobre possível e provavelmente ter sido feita no Brasil a primeira plantação em larga escala de tabaco no mundo: "Os primeiros carregamentos de tabaco consumidos entre os nobres europeus vieram do Brasil. É provável que a primeira plantação de tabaco para exportação do mundo tenha sido uma roça paulista de 1548. Por quase três séculos, a planta foi o segundo maior produto de exportação do Brasil, atrás apenas da cana-de-açúcar" (NARLOCH, p. 61).

Todos esses fatos, somado ao que já foi observado sobre os índios causarem incêndios nas matas, devem nos fazer repensar se devemos comemorar com tanto entusiasmo o 'dia do índio', para não falar nas políticas em prol dos mesmos...

[segunda tentativa do protestantismo brasileiro]
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* "Também vinham degredados, alguns condenados pela justiça secular, outros pela Inquisição, instituída em 1536. [...] Eram os 'indesejáveis do Reino', sobretudo bígamos e feiticeiras. Vir sentenciado para a América portuguesa era considerado pena árdua, era destino malfadado" (DEL PRIORI, VENANCIO, p. 25).
* "Deve-se lembrar que desde o século XV, no Sul de Portugal e posteriormente nas ilhas do Norte da África, a escravidão de negros em associação com engenhos de açúcar era comum. Intensificou-se ao longo dos séculos XVI e XVII, graças ao tráfico para o Brasil" (DEL PRIORI, VENANCIO, p. 51).
* Não conseguimos, em nossas fontes, identificar quem teria dito isso.
* Estamos seguindo as datas com aproximadamente um ano de diferença para mais.
* José de Anchieta notou algo em 1565. "Os tupinambás, tradicionais adversários dos colonos, de repente se mostraram dispostos a deixar de guerrear com os portugueses. O real motivo dessa aliança surpreendente era 'o desejo grande que têm de guerrear com seus inimigos tupis, que até agora foram nossos amigos, e há pouco se levantaram contra nós', acreditava o padre (NARLOCH, p. 38).
* Outra citação interessante, feita por Narloch, de Maria Regina Celestino de Almeida, é a seguinte: "Se os europeus se aproveitaram das dissidências indígenas para fazerem suas guerras de conquistas por território, também os índios lançaram mão desse expediente para conseguir seus próprios objetivos" (ALMEIDA apud NARLOCH, p. 38).


BIBLIOGRAFIA

CÉSAR, Elben M. Lenz. História da Evangelização do Brasil: dos jesuítas aos neopentecostais. Viçosa: Ultimato, 2000,  192p.

DEL PRIORI, Mary; VENANCIO, Renato. Uma Breve História do Brasil. São Paulo: Editora Planeta, 2010, 320p.

FAUSTO, Bóris. A História do Brasil por Bóris Fausto. Acessado no dia 23/07/2014 em: https://www.youtube.com/watch?v=pSyE82yRaKU

NARLOCH, Leandro. Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil. São Paulo: Leya, 2009, 320p.

SCHIAVONE, Alexandre. História - Aulo 1: Período Colonial Brasileiro. Acessado no dia 01/09/2014, em: https://www.youtube.com/watch?v=ouq9tU5DUOc&list=PL-5888xShjYp6bkqJ9Ro5Z6h_LH8P4kkm&index=2

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Panorama Político dos Séculos XVI e XVII e Panorama Histórico das Primeiras Décadas até a União Ibérica


[para conhecer o período pré-colonial, clique aqui]

Schiavone sugere que é preciso que entendamos que houve, nesses dois séculos açucareiros, pelo menos mais três situações distintas na política brasileira no que concerne à sua relação com seu colonizador. Entre os anos de 1580 a 1640 Portugal passou a ser propriedade da corte espanhola, onde o mesmo rei espanhol regeria toda a península Ibérica. Chamamos tal união de União Ibérica. E, claro, há, pois, nesse período, alterações políticas. Há, pois, um quadro antes da União Ibérica; um durante e, finalmente, um posterior. Vamos, neste artigo, observar um panorama político que perpassa todo esse período e nos concentrar nos eventos básicos que ocorreram a

A NOVA EMPRESA

Finalmente os portugueses estão, de fato, residindo aqui. Vieram pra ficar. Colonizaram, de fato, o Brasil e logo implantaram a indústria açucareira em solos brasileiro. Schiavone observa que fora adotada a terceirização, ou seja, a coroa portuguesa não queria investir grandes fortunas nesta nova empresa e, então, resolveram ser assistidos por parceiros, e logo os holandeses foram procurados. Daí, nos dois primeiros séculos, teremos a presença massiva de flamengos atuando em solo tupiniquim. Mas antes de falar de holandeses temos de falar da própria terceirização portuguesa. Não antes de mencionar a nova empresa lusitana no Brasil.
Schiavone retrata para nós que o sistema econômico adotado na colônia fora o plantation açucareiro, caracterizado por quatro elementos: latifúndio*, escravismo, monocultura e produção para exportação. O instrumento de produção é o engenho, caracterizado pela Casa Grande, pela Senzala, uma Capela e o Engenho, propriamente dito, onde se processava a cana*. Portanto, nos próximos quase 200 anos será o Açúcar o grande motor econômico desta colônia no novo mundo.
Boris Fausto e Rodrigo Woloski observam que a opção pelo açúcar se deu por conta de já terem experiência com tal. Eles haviam colonizado as ilhas da costa africana e já dominavam o comércio açucareiro. Era, pois, uma ótima opção, principalmente por, como observa Woloski, haver clima propício na costa brasileira para tal cultura.


CAPITANIAS HEREDITÁRIAS

Portugal estava em uma séria crise. O professor Fábio Costa nos dá o background português para esse momento na história do Brasil. D. Manuel, que era o rei no período do descobrimento e no período pré-colonial, expulsara os judeus de Portugal para que se prevalecesse o catolicismo. Entretanto, os judeus eram os responsáveis pelo comércio, e este foi entregue nas mãos dos inábeis nobres. O resultado foi uma crise em Portugal, onde o Brasil pareceu, agora, uma boa aposta. Além disso, era uma terra mui chamativa, e Portugal precisava cuidar para que o Brasil não acabasse sendo reivindicado por outros países. Martim Afonso de Sousa, pois, como já vimos, foi encarregado da primeira expedição colonizadora.
Costa nota que, para fazer o Brasil uma empresa rentável era preciso investimento, Portugal, pois, resolve terceirizar a empreita. Surgem as capitanias hereditárias*, que não eram, também, nem de longe, uma novidade: "O sucesso da fórmula aplicada nas ilhas do Norte da África, Madeira e Cabo Verde, fez com que d. João III optasse pela divisão das terras em capitanias. Uma vez demarcadas, cada uma com cinquenta léguas de costa, foram distribuídas entre fidalgos" (DEL PRIORI, VENANCIO, p. 40). Esses fidalgos são os homens que chamamos de donatários, capitães ou chefes das capitanias, e Del Priori e Venancio nos ajudam mais uma vez: "Esses donatários eram selecionados entre funcionários da Coroa, veteranos ou negociantes, que tinham feito fortuna no Oriente" (DEL PRIORI, VENANCIO, p. 25). Portanto, eram comerciantes que se enriqueceram no comércio com as Índias. Aqueles bem sucedidos senhores que se deram bem com a antiga empresa. "Vinham para cá com seus parentes e afins, como foi o caso de Duarte Coelho, em Pernambuco" (DEL PRIORI, VENANCIO, p. 25).
É importante o destaque que Woloski dá aqui que nos servirá de ressalva. O investimento em cada capitania era uma empresa privada, ou seja, eram os capitães que ficaram incumbidos dessa tarefa, e não o Estado lusitano. Mas o donatário tinha compromissos particulares com a metrópole. Portanto, estava tudo muito bom para Portugal. Pouco recurso estatal, e possibilidades de lucro à vista.

Mas é bom nos lembrarmos que a coisa não era bagunçada. Pelo contrário. O processo de transformar o Brasil em Capitanias (15 capitanias, para ser mais exato) deu-se por trâmites burocráticos bem pontuados. Dois documentos, particularmente, foram elencados.
O primeiro era a 'Carta de Doação', onde os professores nos informam que havia a transferência legal das terras para os nomes dos donatários que teriam a posso mas não a propriedade das terras, i. é., iriam usufruir delas, mas elas ainda pertenceriam a Portugal.
O segundo documento foi a 'Carta do Foral', com os direitos e deveres dos donatários. Mary Del Priori e Renato Venancio nos são úteis novamente: "Dentre seus direitos e deveres, constava não lesar a população, aceitar impostos em espécie, pagar à Coroa o quinto sobre pedras preciosas encontradas* e pertencer à religião católica. Deviam prover prosperidade para suas capitanias, beneficiando, ao mesmo tempo, a Coroa" (DEL PRIORI, VENANCIO, p. 25) e, adiante, "Como donatários, cabia-lhes criar vilas e povoações, exercer justiça, nomear juízes e oficiais, incentivar a instalação de engenhos, marinhas de sal e moendas de água, arrendar terras do sertão" (DEL PRIORI, VENANCIO, p. 40-41).
Woloski nos lembra que as capitanias eram Hereditárias. Claro, estava no próprio nome. O donatário passaria a capitania para seu herdeiro. Era, também, intransferível, ou seja, o donatário não poderia vender ou trocar a terra. Woloski também observa que, nas capitanias, havia uma descentralização política, pois cada capitania gozava de autonomia em relação umas às outras e, portanto, não havia a necessidade de prestar qualquer conta às demais capitanias.
Sobre a administração, temos de nos lembrar que a característica própria da agricultura era o latifúndio. Para isso, os donatários também concediam a outros terras para produzir, as chamadas Sesmarias (que no final das contas é uma fragmentação dentro das capitanias com vistas a divisão da tarefa de produção).

Parece um plano de governo muito bom, não é? E é mesmo. Mas a história não nos deixa mentir quando notamos um fator que não pode ser ignorado: a maldade humana. Se fossem máquinas operando, tudo bem. Mas não eram. Os donatários não eram exatamente fiéis à Carta do Foral, e contrabandeavam, minorando significativamente o lucro da metrópole. Além disso, como apontam Mary e Renato, "O sistema malogrou, contudo, devido ao tamanho do território colonial assim como em razão de ferozes ataques indígenas" (DEL PRIORI, VENANCIO, p. 41). Grandes terras, dificultando a fiscalização, e ataques indígenas ferozes, resistindo à colonização e imposições dos invasores, querendo-os fora de suas terras, acabaram por frustrar os planos da coroa lusitana. Woloski, além desses motivos, ainda aponta outro. Ele observa que havia uma carência econômica, visto que o investimento era particularmente do donatário, e muitos viam-se isolados em meio às suas capitanias sem todos os recursos suficiente para fazerem a empreita dar certo.
Entretanto as capitanias de São Vicente (que seria, hoje, São Paulo) e Pernambuco deram muito certo. Fábio Costa nos conta o porquê. Elas deram certo porque seus donatários vieram financiados, ou seja, fizeram algo semelhante a venda de ações de empresa com suas capitanias e angariaram bons recursos, o suficiente para manterem de pé suas capitanias e fazerem-nas prosperar.
Seja como for, algo precisava ser feito, pois os dois objetivos almejados com as capitanias, ampliar os lucros e proteger o território, não foram alcançados. Portugal resolveu tomar outra medida, chamada 'Governo-Geral'.

GOVERNO GERAL

As capitanias vão funcionar de 1534 a 1759, quando são extintas pelo Marquês de Pombal. Entretanto, em 1548 D. João III elabora um novo plano, visto que somente as Capitanias Hereditárias em si não davam conta do recado. Não que elas não tenham surtido qualquer efeito. Transformaram o Brasil numa grande empresa e erigiram a sociedade escravocrata em nossas terras (o que havemos de olhar com mais cuidado adiante). "Como grande parte das capitanias foi destruída por ataques de índios e vários donatários nem sequer vieram ao Brasil, a Coroa criou, em 1549*, o governo-geral, estrutura administrativa que incluía um governador-geral, um punhado de magistrados e funcionários dependentes do rei" (DEL PRIORI, VENANCIO, p. 25). Em suma, observam Woloski e Costa, o Governo Geral veio para fazer as Capitanias atingirem seu objetivo, ou seja, para fiscalizar os colonos e levar a cabo os planos traçados ao implantar as Capitanias Hereditárias. Ele continua existindo, segundo Costa, até 1808, e é sucedido apenas quando termina a fase de colônia do Brasil, tornando-se 'Império'.
Portanto, os governadores gerais iriam combater o contrabando e desvios de verbas, como também iriam fazer imperar as leis e a justiça, sem deixar, também, de combater os índios e tomar as medidas necessárias para fazer o Brasil prosperar.
Woloski, pois, conclui que, com o Governo Geral, a política na colônia tornou-se mais 'profissional'. A própria justiça agora seria exercida. Não seria mais uma 'lei da selva', ou conforme o donatário quisesse. Alguns cargos oficiais surgiram no Governo Geral. Tínhamos capitães-mor como comandantes dos exércitos na defesa do interior e das costas; tínhamos o 'ouvidor-mor', que seria responsável pela aplicação das leis; o 'provedor-mor' seria o responsável pelas negociações nas fazendas; e o alcaiate-mor, que seria o chefe da polícia. Costa acrescenta que o governador geral agia sob o Regimento, que era como o Foral para os donatários.
Rodrigo Woloski observa a hierarquia política na colônia do Governo-Geral: Primeiro está o Rei de Portugal, representando a Metrópole; depois o Governador-Geral, como o poder central da colônia; depois os Capitães Donatários, como poderes regionais; depois as Câmeras Municipais como poderes locais.

Vamos trabalhar os três primeiros Governadores Gerais. Tiveram papel de destaque e devem ser mencionados. O primeiro governador geral enviado por Portugal foi Tomé de Sousa, que, segundo Woloski, governou de 1549 a 1553, e Mary e Renato nos informam que "quando se fundou o governo-geral e Tomé de Souza foi enviado para cá, apenas três das quinze capitanias distribuídas haviam sobrevivido. Chegado em 1549, o primeiro governador-geral ergueu a primeira vila com foros de cidade, São Salvador, na Bahia, e deu início a um violento combate contra os tupinambás, matando e castigando parte deles para dar exemplo, como registra um documento do período. Trouxe consigo os padres jesuítas e o plano para a instalação urgente de uma estrutura político-administrativa que evitasse o naufrágiio competo da colonização: o governo-geral" (DEL PRIORI, VENANCIO, p. 41). Agora o poder já não estava descentralizado, antes estava detido nas mãos de uma espécie de vice-rei.
Claro, os índios podiam, ao invés de serem combatidos, abraçarem a fé cristã... tanto que, embora houvesse, desde o começo, algum envolvimento da Igreja católica nesta empreita, é com Tomé de Sousa, de fato, que os jesuítas aportam-se aqui.
Portanto, Tomé de Sousa implanta o governo geral; erige Salvador; combate os índios e traz os jesuítas.

Em seguida, informa Woloski, temos Duarte da Costa (e o professor Fábio Costa nos adverte a não confundi-lo com Duarte Coelho, o donatário de Pernambuco) que vai até 1558. Duarte da Costa teve de enfrentar a fúria dos jesuítas  contra a escravidão indígena, ao passo que os colonos enfureciam-se com os jesuítas. Foi no governo de Duarte da Costa, também, que os franceses aportaram-se no Brasil, na baía de Guanabara, e fizeram uma colônia, como ampliaremos doravante. Ele teve de lidar com isso também. Finalmente, José de Anchieta funda São Paulo em seu governo.

Depois, Mem de Sá, até 1572. Ele consolidou o Governo-Geral e o Brasil estava realmente dando lucro. Ele também intensificou a vinda de africanos para o Brasil. Foi Mem de Sá (mais necessariamente seu irmão quem fundou o Rio de Janeiro. Tal fundação estava ligada à expulsão dos franceses que se instalaram no governo de Duarte da Costa.

Costa nos conta que o Governo Geral ainda padecia de uma dificuldade que as Capitanias tinha. A extensão de terras ainda era grande demais para os portugueses fiscalizarem e administrarem. Woloski nos lembra que Portugal era (e é) um país bem pequenininho, e, portanto, sua população não teria condição de povoar o Brasil ainda que viesse em peso pra cá, ainda mais naquela época! Portanto, mesmo com algum sucesso, o Governo Geral ainda assim não atingiu a todas as expectativas de Portugal.

Esse é o panorama histórico básico do que se passou praticamente nos dois primeiros séculos. Mas, claro, há muito a ser dito sobre eventos particulares, e temos de nos deter a vários desses fenômenos importantes que aqui ocorreram, o que faremos nos próximos artigos.



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* O professor Schiavone dá a entender que a questão da má distribuição de terra é herdada desse momento colonizador.
* Woloski também nos conta que, na Casa Grande estavam a elite, os portugueses, ao passo que na Senzala estavam os escravos como base da sociedade.
*  Costa percebe uma certa semelhança entre o sistema e os feudos da Idade Média, o que é uma sugestão muitíssimo interessante pois trata-se da fragmentação do poder e, pelo menos aqui, há uma semelhança inegável.
* O professor Fábio Costa nos dá a impressão de que nem esse imposto havia, mas, antes, na verdade, que o donatário só poderia desfrutar do que produzisse sobre o solo, e não do que já houvesse na terra. Em prol desta interpretação ele destaca que, no século XVIII, o século do ouro, foi preciso lavrar novo documento permitindo extração ou participação da propriedade do ouro.
* Não sabemos o porquê, mas alguns dizem 48 e outros 49.
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BIBLIOGRAFIA

COSTA, Fábio. História do Brasil - Aula 1: Navegações Portuguesas e Período Pré-colonial. Acessado no dia 23/07/2014, em: https://www.youtube.com/watch?v=5tuK1c_51rw.

DEL PRIORI, Mary; VENANCIO, Renato. Uma Breve História do Brasil. São Paulo: Editora Planeta, 2010, 320p.

SCHIAVONE, Alexandre. História - Aulo 1: Período Colonial Brasileiro. Acessado no dia 01/09/2014, em: https://www.youtube.com/watch?v=ouq9tU5DUOc&list=PL-5888xShjYp6bkqJ9Ro5Z6h_LH8P4kkm&index=2

WOLOSKI, Rodrigo. História do Brasil - Aula 2 Período Pré-Colonial. Acessado no dia 01/09/2014, em: https://www.youtube.com/watch?v=iP99XK83Kzk&list=PLF2J-8QoLzYG93_TqdDCoJnPspo0ds7q3&index=21