"Ou alguém compreende, em tua opinião, o nome de alguma coisa quando desconhece o que é a coisa?" (Platão, em 'Teeteto')
Aproveitando o debate ocorrido entre o respeitadíssimo Reverendo Ageu Magalhães e o pastor underground Ariovaldo Carlos Júnior, iremos relançar nosso artigo sobre palavrões. Acreditamos que essa seja uma oportunidade excelente para promover a compreensão mútua e atingirmos o verdadeiro inimigo de Cristo e de sua causa, e já antecipamos que não são os irmãos que falam ‘foda’, ‘pra caralho’, e afins. Antes de qualquer consideração, temos que deixar algo bem claro: somos contra palavrões. Todos os textos que são apresentados contra a linguagem obscena e torpe são nítidos: o crente tem que ser boca limpa (Tito 2:8; Efésios 4:29; Efésios 5:4; Tiago 1:26; Mateus 12:34-37; 1 Coríntios 15:33). Nossa discussão não girará em torno da interpretação destes versículos. Concordamos com a análise de Lopes sobre alguns destes textos:
As interpretações destes versículos podem variar
entre si, mas resta pouca dúvida de que o conjunto deles traz uma mensagem
uniforme: o filho de Deus é diferente do mundo, no que pensa e no que fala. A
pureza e a santidade requeridas na Bíblia para os cristãos abrange não somente
seus atos como também seus pensamentos e suas palavras.(LOPES, 2013).
Portanto, elejamos a santidade no falar e no
proceder como ponto pacífico, como 'lugar' entre nós. É Chesterton quem diz: “quem
quer que se disponha a discutir o que quer que seja deveria sempre começar
dizendo o que não está em discussão. Além de declarar o que se quer provar é
preciso declarar o que não se quer provar” (CHESTERTON, p. 19). Portanto, antes
que qualquer um venha a nos importunar, tenha em mente esses dizeres iniciais.
Como o título deste artigo demonstra, usamos
de algumas palavras que são consideradas palavrões. Já nos desfizemos e
retornamos para eles de uma forma semelhante ao que aconteceu com a Norma
Braga, porém, como demonstraremos, sem cair no que entendemos ter sido o erro
dela. Nas suas palavras:
Perdi quase todos os meus amigos não-cristãos,
que de modo natural começaram a se afastar, e por força do meio decidi suprimir
todas as palavras feias de uma vez só, desde as mais simples às mais cabeludas.
No que fui bem-sucedida. Um dia, surpreendi-me comigo mesma quando, conversando
com uma irmã após o culto, ouvi-a dizer m**** em meio a um discurso irritado.
Não deixei que ela percebesse, mas aquele palavrão provocou em mim uma reação
tão forte que não hesitei em classificá-lo como um nada previsível escândalo.
Veio então o escândalo do escândalo: horrorizada por ter ficado tão
escandalizada com um simples m****, resolvi, dali em diante, revogar a decisão
anterior. Recomecei a dizer palavrões normalmente, não com a mesma freqüência
que no período pré-conversão, mas com regularidade quando sozinha e em
companhia de cristãos tão "descolados" quanto eu. (BRAGA, 2013)
Claro, pelo uso das aspas, podemos perceber o
tom irônico de suas palavras. A experiência não ficou muito nítida, pois não
sabemos que tipo de amigos eram estes, e nem se eram realmente crentes. Enfim,
protelemos, por hora, o assunto.
Retomando de onde paramos, acontece que,
compreendendo alguns fenômenos linguísticos que iremos trabalhar adiante, sentimo-nos
livres para usar estas palavras sem conotações pejorativas. Os críticos desta
atitude dizem perceber este fenômeno, mas não conseguimos perceber onde é que
anulam seus argumentos.
Mas, antes de olharmos para seus argumentos,
queremos falar um pouco sobre estes fenômenos linguísticos para, então,
demonstrar que o ponto nevrálgico não foi tocado pelos opositores, que, diga-se
de passagem, são pessoas respeitadas, cultas e cristãs, e que fizeram críticas,
principalmente, visando a santificação e o bem estar da Igreja, o que devemos
reconhecer.
FENÔMENOS
LINGUÍSTICOS
Para dar início a esta parte, vamos copiar toda uma página
do interessante livro sobre hermenêutica de Roy B. Zuck:
No livro Alice no País do Espleho, Humpty
Dumpty disse para Alice: '_ Existem 364 dias nos quais uma pessoa pode receber
um presente de in-aniversário'. Alice concordou, e ele acrescentou: 'E um dia
só em que possa receber presente de aniversáio, não é? Logo, glória para
você![']
'_Não sei o que quer dizer com esse 'glória'',
objetou Alice.
'Humpty Dumpty sorriu.[']
'_Está claro que não sabe, nem o saberá
enquanto eu não o disser. Glória quer dizer um argumento de escachar.[']
'_Mas 'glória' jamais significou isso, que eu
saiba, senhor![']
'_Quando eu uso uma palavra, replicou Humpty
com superioridade, ela significa o que eu quero que signifique - e nada
mais.[']
'_Mas a questão é se o senhor pode dar
significado diferente às palavras'
Alice estava preocupada porque Humpty Dumpty
tinha redefinido a palavra glória. Sua preocupação provinha do fato de que, em
geral, para comunicar-se, uma pessoa não redefine palavras, dando-lhes sentidos
completamente diversos dos aceitos em geral. No entanto, quando alguém explica
algo diferente que disse, os ouvintes podem entender.
Se lemos a declaração de Humpty Dumpt de que
um aniversário significa 'glória para você', sem uma explicação, ficamos
confusos. Mas, pelo contexto, no qual ele explica a frase, seu sentido fica
claro (ZUCK, 1994, p.87).
Esta ilustração, e as observações de Zuck, nos
trazem muitos esclarecimentos. Podemos pontuar os elementos, os fenômenos, que
o texto trás à baila: Humpty Dumpty entende que o significado de uma palavra
não é intrínseco a ela; por sua vez, Alice percebe que existem usos comuns,
significados convencionais para as palavras, que, se não forem admitidos,
atrapalham a comunicação; por fim, Zuck nota que, se (e somente se) as
reconotações, os novos significados, forem expostos, é possível retomar a
comunicação.
Este fenômeno linguístico não é uma novidade.
Aristóteles já o havia notado no Órganon:
Os sons emitidos pela fala são símbolos das
paixões da alma, [ao passo que os caracteres escritos [formando palavras] são
os símbolos dos sons emitidos pela fala. Como a escrita, também a fala não é a
mesma em toda parte [para todas as raças humanas]. Entretanto, as paixões da
alma, elas mesmas, das quais esses sons falados e caracteres escritos
(palavras) são originalmente signos, são as mesmas em toda parte [para toda a
humanidade], como o são também os objetos dos quais essas paixões são
representações ou imagens (ARISTÓTELES, p. 81).
O fenômeno também é atestado pelos debates
filosóficos do século XX. Adilson Citelli, em sua pequena mas interessante obra
'Linguagem e Persuasão', pode nos elucidar o tema:
"É comum afirmar-se, segundo a orientação
dada por Ferdinad de Saussure, que todo signo possui dupla face: o significante
e o significado. O significante é o aspecto concreto do signo, é a sua
realidade material, ou imagem acústica. O que constitui o significante é o conjunto
sonoro, fônico, que torna o signo audível ou legível. O signficado é o aspecto
imaterial, conceitual e que nos remete a determinada representação mental
evocada pelo significante" (CITELLI, 2005, p.24).
E o próprio Mortimer Jerome Adler, na sua
preciosa obra ‘Como Ler Livros’, em sua última edição, também admite o mesmo
fenômenos, e talvez seja um dos mais claros ao abordar o assunto:
Um termo não é uma palavra – pelo menos não
apenas uma palavra. [...] ....uma palavra pode ter muitas acepções,
especialmente as palavras importantes. Se o autor usa uma palavra em um sentido
e o leitor a lê em outro, as palavras passaram entre os dois, mas um acordo não
chegou a ser firmado (ADLER, VAN DOREN, p. 111).
Adler está particularmente preocupado com a
comunicação de ideias, e isso demanda a compreensão deste fenômeno linguístico.
Aliás, ele reflete sobre a comunicação nos seguintes termos: “Sua raiz está
relacionada com a palavra ‘comum’. Falamos de comunidade como grupo de pessoas
que têm algo em comum. A comunicação é um esforço por parte de uma pessoa em
compartilhar algo com outra pessoa [...], seu conhecimento, suas decisões, seus
sentimentos” (ADLER, VAN DOREN, p. 111-112). Pois bem, o problema é que a
linguagem encontra o problema da ambiguidade e, por isso, é mister que notemos
o fenômeno supra referido para que haja uma boa e efetiva comunicação:
Se a linguagem fosse um meio puro e perfeito,
esses passos não seriam necessários. Se toda palavra tivesse um e apenas um
sentido, então as palavras nunca seriam usadas de maneira ambígua; se, em suma,
toda palavra fosse um termo ideal, a linguagem seria um meio diáfano [...]. A
interpretação seria totalmente desnecessária (ADLER, VAN DOREN, p. 113).
Podemos avançar na compreensão deste assunto.
Em aulas, que fizemos no Seminário Martin Bucer, de Prepodêutica Teológica, com
o filósofo Dr. Jonas Madureira expondo Agostinho, fomos apresentado a reflexões
semelhantes à de Saussure. Agostinho entendia que há um 'logos endeáthetos, que
consistia na idéia, no conceito, formado em nossa mente; e há um 'logos
proforikós', que consistem em uma forma de externar esta idéia. O endeáthetos
existe independente do proforikós, e não vice-versa. A associação do proforikós
ao endeáthetos é convencional.
Adilson Citelli observa isto, ao notar que não
existe relação necessária entre o significante (proforikós) e o significado
(endeáthetos). O exemplo que ele dá é o da palavra 'cabeça', e da idéia de uma
cabeça que se forma em nossa mente. Então ele conclui que "cabeças
continuariam a existir mesmo se não tivéssemos conhecido processos de linguagem
capaz de nomeá-las, transportando-as, pois, do reindo da natureza para o da
cultura" (CITELLI, 2005, p.25).
E, para não deixar nosso estudo linguístico
incompleto, é bom mencionarmos que Emile Berveniste, embora entendendo que a
relação entre as palavras e as coisas sejam arbitrárias, são necessárias dado a
nossa necessidade de comunicação [e de conhecimento, acrescento eu] (cf.
Citelli, op. cit. pp. 26-27).
O que nos interessa, por hora, é observar que
os linguistas notaram não haver relação direta e necessária entre uma palavra e
o que determinado grupo de pessoas a relacionam. McGrath também nota isto, ao
dizer que a
linguística moderna, de Ferdinad de Saussure
em diante, sempre deu destaque à importância das comunidades para a
determinação do significado de uma palavra. As palavras adquirem significados,
refletindo como são usadas no âmbido de comunidades reais. As definições que
encontramos no dicionário não são ordens divinas, portanto não podem fixar o
sentido permanente e único de uma palavra; em vez disso, são generalizações
sobre as formas pelas quais uma palavra específica é empregada. As definições
do dicionário descrevem os modos pelos quais (o plural aqui é proposital) a
palavra é usada no mundo real dos seres humanos, em vez de prescrever como deveria
ser usada em algum mundo ideal (MCGRATH, 2008, p.103-104).
Até mesmo na elaboração teológica é mister que
compreendamos o fenômeno. Charles Hodge também percebe isto. Falando sobre
argumentos contra a morte eterna, Hodge lida com uma questão linguística.
"Mr. Constable [...] estabelece o
princípio de que a linguagem das Escrituras, especialmente a do Novo
Testamento, deve ser interpretada segundo o 'usus loquendi' dos escritores
gregos. Temos de recorrer a nossos dicionários clássicos a fim de aprender o
significado das palavras que eles usam. À luz deste princípio, ele infere que,
uma vez que a palavra ζωη, vida, em grego ordinário, significa existência
contínua; e θανατοσ [não consegui colocar o sigma correto], morte, a cessão de
existência, tal é seu significado nas Escrituras" (HODGE, p.1660-1661).
Para responder, Hodge observa que "o 'usus loquendi' de cada idioma varia
mais ou menos em diferentes épocas e como falado pelas diferentes tribos e
nações. Cada um admite que o grego heleno tem um uso distinto do idioma dos
clássicos. A linguagem da Bíblia deve explicar a linguagem da Bíblia. Ela tem
seu próprio 'usus loquendi'. Entretanto, não é verdade que as palavras vida e
morte são em qualquer língua usadas somente no sentido limitado que o argumento
Mr. Constable lhe designaria. Quando o poeta [Sófloces?] disse 'dum vivimus
vivamus', ele seguramente não quis dizer: 'enquanto continuarmos existindo,
continuamos existindo'. As escrituras no idioma dos homens usam palavras como os
homens costumam usá-las, literal ou figuradamente, e em sentidos adaptados à
natureza dos sujeitos a quem elas se aplicam. A palavra vida significa uma
coisa quando usada para falar de plantas, outra quando aplicada aos animais, e
outra ainda quando expressa em referência à alma humana" (HODGE, p.1661).
É óbvio que
Hodge percebe este mesmo fenômeno linguístico que estou observando. As
palavras, em contextos diferentes, sofrem oscilações semânticas.
É interessante notar que o reverendo Augustus
Nicodemus está ciente deste fenômeno: "Eu sei que muitos vão dizer que o
problema é a definição de palavrão. Entendo. Sei que palavras que ontem arrepiavam
os cabelos de quem as ouviam, hoje viraram parte do vocabulário normal. Sei
também que palavras que são palavrão numa região do Brasil não são em
outra" (LOPES, 2013).
O problema pra ele é o seguinte: ". Mesmo
considerando tudo isto, ainda há muitos cristãos que usam palavrões no sentido
geral e normal." (LOPES, 2013). Quanto a isto, estamos plenamente de
acordo com a censura e repreensão. Se em determinado contexto sabe-se do
significado de uma palavra, não se pode usá-la e querer que as pessoas a
compreendam de forma diferente. Mas é uma via de mão dupla. Não se pode querer
importar para todo contexto um significado universal.
Assim, quando empregamos palavras como 'foda',
'pra caralho', e afins, não estamos valendo-nos de palavrões para nos
expressar. Estamos usando palavras que não têm seus significados originais
mais, e, no contexto em que o autor desse artigo vive, quando proferimos estas
palavras, as pessoas não evocam em suas mentes cenas de sexo e afins.
E, se alguém perguntar se há outro exemplo
deste fenômeno, podemos citar pelo menos dois. A palavra 'bacana'. O reverendo
Salvador Moisés da Fonseca, em aulas no Ibel, nos informou sobre a origem desta
palavra, referindo-se ao deus Baco, vindo de 'bacanal' [o dicionário Aurélio
nas as relaciona], e a festas em sua homenagem, regadas de muito álcool e
orgias. Contudo, a palavra, com o tempo, passou a conotar simplesmente algo
legal, interessante, ou algo do tipo. Quem as usar em nosso contexto cultural
não pode estar sendo acusado de valer-se de palavras torpes para se expressar,
uma vez que tal termo sofreu oscilação semântica.
A outra palavra é o termo 'piedade'.
Normalmente o termo é associado a dó, pena, compaixão. Mas o próprio dicionário
reconhece uma conotação diferente, mais restrita aos primeiros séculos da era
cristã, referindo-se à consideração para com Deus. O homem piedoso é
compassivo. Com o tempo o termo passou a se referir, em muitos círculos, à compaixão
apenas. É fácil conjecturar sobre como isto aconteceu.
Assim, a nosso ver, os críticos não visaram
aqueles que valem-se do que eles entendem serem palavrões como os que reconotam
estas palavras. Ninguém tocou a fundo nesta questão. E o fenômeno antropológico
e linguístico foi preterido...
OS ARGUMENTOS
DOS OPOSITORES
Primeiramente, destacaremos o alvo das
críticas de Braga, Lopes, Portela e Baggio. Percebam que não estão criticando
quem usa os termos dentro de uma cultura onde eles não tem o significado
referente ao significado original da palavra.
Depois de algum tempo, porém, comecei a me
sentir incomodada com o recurso freqüente aos palavrões. Sozinha, bastava ficar
irritada, que lá vinha um bem cabeludo, e em voz alta [...] ... o ato de
praguejar, longe de servir como vazão à raiva, apenas contribuía para confirmar
a disposição errada de espírito. (BRAGA, 2013)
Em seu contexto cultural tinha uma
"associação de seu uso a um espírito de espontaneidade e rebeldia"
(BRAGA, 2013). Ela valeu-se destas palavras para expressar sua indignação e
para praguejar. Logo associou-se seu uso com atitudes pecaminosas. O que se
deve eliminar, aqui, é o espírito reclamador.
O reverendo Augustus Nicodemus Lopes, pensador
que muito admiramos, diz deparar-se "com murais compartilhando fotos
meio-eróticas, palavrões, para não falar de comentários cheios de palavras
chulas e palavrões do pior tipo [...] estou me referindo aos que se identificam
como crentes, que postam tanto declarações de fé e amor a Jesus quanto material
chulo" (LOPEZ, 2013). Aqui, pode ser que o reverendo se depara com pessoas
que lhe são familiares, inclusive os são seus contextos culturais. Mas, e se
ele visse um texto em que eu e um amigo nos referimos a ele como um exegeta
muito 'foda'? É possível perceber o termo como um adjetivo sem maldade alguma,
embora eu consiga perceber como, com outros óculos, se enxerga este termo de
forma pejorativa. E, um dos grandes problemas desta colocação é que, ao colocar
tudo num só patamar (toda expressão verbal com conotação, segundo seu campo
semântico, perniciosa e divulgações pronográficas), Lopes nos faz pensar que,
ao eliminar e rejeitar um (a pornografia e afins), temos que rejeitar o outro.
Certamente pornografia não pode ser relativizada como tendo uma conotação
diferente. Sexo (ou melhor, o ato sexual) não sofre 'oscilação semântica'.
O mesmo pensador se depara com algumas
justificativas ruins: "Os argumentos a favor do uso de palavrões pelos
crentes podem parecer bons: todo mundo usa, trabalho ou estudo num ambiente de
descrentes e não quero parecer um ET, não tenho nenhuma intenção maligna ou
pornográfica, etc." (LOPES, 2013). Percebam que estes também são
considerados, por nós, argumentos ruins, falsos. O que fazemos não tem nada a
ver com adequação ao meio ou o uso impróprio de uma expressão escorado na boa
intenção. Simplesmente, segundo nosso campo semântico, não estamos falando
palavrão algum!
E o que enfrenta o respeitado presbítero
Solano Portela? Certamente não lida com a questão semântica: "...o pastor
responde com uma ode ao palavrão. Indicando que quase morreu de rir, com o
vídeo, não somente grafa o monossílabo várias vezes em seu texto, como acusa os
que não o utilizam de hipócritas" (PORTELA, 2013). Portela fala de um
pastor que viu um vídeo onde um médico vale-se de um monossílabo (que todos nós
sabemos qual é) para palestrar sobre higiene pessoal na Igreja. Um determinado
'líder cristão', o tal pastor mencionado, vê o vídeo, ri, e incentiva o uso de
palavrões, chamando os que não os usam de hipócritas. A isto Baggio responde
muito bem:
Algumas pessoas argumentam que xingar é ser transparente
e honesto. Todavia, o próprio bom senso nos diz que não devemos ser
transparentes em tudo exatamente. Ainda que não exista nada em nossa vida que
esteja oculto aos olhos de Deus – não há áreas privadas diante de Deus – há
todavia, áreas e coisas que fazemos que não deveriam se tornar públicas. Por
exemplo, o exercício de nossas necessidades físicas. Ninguém que tenha um bom
senso ira advogar que, em nome da transparência, deve-se abaixar as calças em
público e se aliviar na frente de todos. Isso seria indecoroso na maioria das
culturas e sociedades do nosso mundo hoje. Ou seja, a tal de transparência
neste caso me parece mais uma desculpa para obscenidade do que algo sincero.
(BAGGIO, 2013).
Tais pessoas conotam pejorativamente os
termos, e defendem este uso como apropriado. Como já dissemos no começo do
artigo, somos totalmente contra!
Portanto, a crítica de Portela não nos atinge.
Não achamos que o recato e a moralidade são itens anacrônicos; não barateamos a
graça e nem a usamos como desculpa para libertinagem. Estas coisas, que o
referido pensador critica, tem nosso aval.
Olhemos, pois, para quem Baggio está
criticando:
Quando você manda alguém ir se f**** ou chama
uma pessoa de filho da p***, você está demonstrando amor? Você consegue ver a
atitude de Cristo nisso? Imagino que não. Não importa o quão transparente você
diga que está sendo, a única coisa que sua atitude transparente está
demonstrando é a ira e falta de domínio próprio. (BAGGIO, 2013).
Deus do céu! Não estamos defendendo este tipo
de atitude. É óbvio que são xingamentos. Não é esta a questão. Não somos a
favor do uso inadequado da língua. Não somos a favor de ofensa alguma, nem
mesmo as recatadas, camufladas por belas palavras, com muita pompa, onde os
termos usados não conotam ofensa, mas o conceito, a intenção, sim. Aqui, as
palavras usadas têm, nitidamente, uma conotação pejorativa, que logo captamos
pelo tom e pelo significado facilmente dedutível da expressão completa. Nos são
conhecidas estas palavras. Certamente, repudiamos isso como pecado!
Também já nos deparamos com outras críticas
que as pessoas já nos fizeram, ou que nós mesmos formulamos. Alguns dizem sobre
falar estas palavras diante de Deus. Embora sintamo-nos um pouco amedrontado,
uma vez que corro o risco de estar errado, percebemos que é possível que usemos
algum termo que uma cultura poderia considerar pejorativo! Além disso, nem tudo
que se faz cotidianamente nos é cômodo fazer diante de Deus. Por exemplo,
embora 'aliviemos o ventre' (#eufemismomodeON) diariamente e na presença de
Deus, muitos se sentem constrangidos ao tentarem orar nestes momentos
'críticos', e talvez realmente seja falta de reverência, em situações normais.
Mas isto não faz esta necessidade biológica algo pecaminoso. Usamos termos como
'foda' e 'pra caralho' em situações cotidianas, e não em situações solenes e
sublimes.
Outro argumento interessante que nos fizeram é
o de que parece haver um reconhecimento universal de certos termos, o que fica
evidenciado nas censuras que vemos na televisão. A isso formulamos respostas
também. Primeiramente, não podemos garantir que os ouvintes, e mesmo os
editores dos programas, conheçam esse fenômeno linguístico. A bem da verdade, a
maioria dos leitores deste artigo não o conheciam. Além disso, o programa
insurge-se em uma certa cultura dominante, e a ela se comunica, e dela tira
suas conotações, o que explicaria o uso de expressões particulares ao grupo
cultural vigente.
POR QUE
LUTAR POR ESTA QUESTÃO?
Há um interesse em particular que deve ser
salientado. Poderíamos muito bem abrir mão desta briga e parar de usar as
palavras que têm incomodado alguns de nossos irmãos. Mas este seria um desfavor
com a minoria e com a verdade. Particularmente interessado em missões urbanas,
percebemos que alguns grupos se escandalizariam ao serem repreendidos por
usarem expressões que, à luz do decálogo, não são pecaminosas. É colocar um
peso a mais na vida destes irmãos. É desnecessário. Como dissemos, é um ditame
da antropologia missionária descobrir o campo semântico de determinada cultura
antes de buscar redimi-la com o evangelho.
CONCLUSÃO
Também somos terminantemente contra o uso de
palavrões. A questão é: SE VOCÊ ENTENDE QUE UMA DETERMINADA PALAVRA É PALAVRÃO, NÃO A USE. Se para você e para seus ouvintes é palavrão, não use. Também não
pragueje; não promova a promiscuidade; não seja boca suja! Por outro lado, não
importe seus significados para uma cultura alheia. Isto é um quesito
fundamental para a antropologia missionária. Só causará confusão e briga
atoa...
Concluímos, pois, que toda crítica ao meu
palavreado não passou de confusão. Conseguimos conceber como se dá tal mal
entendido. Porém, acreditamos que a publicação deste artigo poderá iluminar e
contribuir um pouco mais com a questão. E, se alguém nos mostrar que estamos
errados, não tardaremos a mudar de atitude. Que Deus nos conduza!
__________________________________________________________________
REFERÊNCIAS
ADLER, Mortimer J; VAN DOREN, Charles. Como
Ler Livros. Tradução de Edward Horst Wolff e Pedro Sette-Câmara. São Paulo:
É Realizações, 2010, 432p.
ARISTÓTELES. Organon. Tradução, textos
adicionais e notas de Edson Bini. São Paulo: EDIPRO, 2ª ed., 2010, 608p.
BAGGIO, Sandro. Crente boca suja. http://www.sandrobaggio.com/2009/09/23/crente-boca-suja/
acessado em 30/07/2013.
BRAGA, Norma. Reflexão óbvia sobre os
palavrões. http://normabraga.blogspot.com.br/search?q=palavr%C3%B5es
acessado em 30/07/2013
CITELLI, Adilson. Linguagem e Persuasão. São
Paulo: Editora Ática, 16ª ed., 2005. 104p.
CHESTERTON, G. K. Ortodoxia. Tradução
de Almiro Pisetta. São Paulo: Mundo Cristão. 2008, 264p.
HODGE, Charles. Teologia Sistemática. Tradução
de Valter Graciano Martins. São Paulo:Editora Hagnos, 2001. 1777p.
LOPES, Augustus Nicodemus. Palavrão?
@#%*!!!! Como assim?! http://tempora-mores.blogspot.com.br/2012/02/palavrao-como-assim.html
acessado em 30/07/2013
MCGRATH, Alister. Apologética para o século
XXI. Tradução de Antivan Guimarães e Emirson Justino. São Paulo: Editora
Vida, 2008. 368p.
PORTELA, Solano. Palavrão - só pra garantir
esse refrão? http://tempora-mores.blogspot.com.br/2010/03/palavrao-so-pra-garantir-esse-refrao.html
acessado em 30/07/2013
ZUCK, Roy B. A interpretação bíblica. Tradução
de Cesar de F. A. Bueno Vieira. São Paulo: Vida Nova, 1994. 360p.
ResponderExcluirEssa Freestyle underground . lixo
Opa falei um palavrão 🙊
Huauahuahuahuhuaha
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