Uma vez que eliminamos as barreiras psicológicas para o momento devocional (inclusive, pela escolha do texto de maneira responsável, o obstáculo da busca por somente aquilo que nos interessa), temos que aprender a nos voltar para o texto escriturístico. Esta reflexão trará mais algumas dicas úteis para que qualquer leitor interessado consiga fazer leituras bíblicas efetivas, e produza suas próprias devocionais. Nos deteremos na seleção do texto a ser meditado.
Pois bem, uma vez escolhido o livro que faremos nossas devocionais, devemos ir para o seu início. É preciso selecionar uma porção a ser lida por dia. Esta porção é escolhida de acordo com o tempo que cada um tem disponível para meditar. É preciso ter bom senso aqui. O texto deve ser lido; analisado; deve-se meditar nele (talvez até mais do que na hora); e, por fim, devemos orar, falar com Deus a respeito do que lemos. Portanto, separe somente uma parte do tempo para a leitura, e não ele todo.
Vamos supor que dispomos-nos de quinze minutos para as devocionais. Sugerimos, então, a leitura de, no máximo, três versículos como proposta. Porém, é bom ressaltar que estas considerações são apenas métodos para se organizar. Não são regras inflexíveis, como pretendemos mostrar.
Com a proposta de três versículos, devemos nos voltar para o texto. É nele que veremos, de fato, quantos versículos iremos ler. O importante é apanhar uma idéia completa. Se dois versículos forem suficiente para transmitir uma idéia, e os versículos posteriores mudarem o assunto, então devemos parar naqueles dois versículos. Porém, se a idéia completa estiver contida em sete versículos, leremos os sete sem problema algum. Mas devemos ter atenção aqui. Não queremos apanhar um número excessivo de informações, de modo que a meditação fique confusa num turbilhão de idéias. Para exemplificar, permitam-nos apresentar nossa própria experiência.
Estamos meditando, diariamente, como dissemos alhures, no texto de 1 Timóteo. No capítulo 6, versículos 6 a 10, Paulo trata de um tema geral único: a relação do crente com os bens materiais. Porém, ao invés de olharmos para todo esse texto, que trás uma miríade de conceitos, resolvemos nos deter com mais cuidado nos versos de 6 a 8. Ali ele fala sobre contentamento, e no verso 9 e 10 já começa a falar sobre amor ao dinheiro. Preferimos deixar os versos 9 e 10 para a próxima devocional. Os versos 6, 7 e 8 já bastam para meditarmos num dia.
Falaremos um pouco mais de nossa experiência, a título de ilustração. Quando meditamos em 1 Timóteo 3, se não nos falha a memória, olhamos os versos 1 a 7! Embora estejamos meditando em porções menores, este texto exigiu que pegássemos uma porção maior. Não há problema algum nisto.
Há, ainda, outra questão que não podemos deixar de mencionar. Lembremo-nos, como dito em reflexão anterior, que Pedro mesmo admitiu haver passagens difíceis de serem compreendidas (2 Pedro 3:15-16, especialmente verso 16). Às vezes nos depararemos com textos difíceis. Devemos, em oração, buscar fazer o máximo para compreendê-los. Esta empreitada é válida. Pode ser que fiquemos em dúvida sobre seu significado, ou sobre sua relação com outras questões que conhecemos*¹. Quando o texto não nos é decifrado de maneira alguma, nem conseguimos extrair qualquer reflexão sobre ele, devemos, sem receio, postergá-lo, pulá-lo por hora. Certamente não estamos aptos para entendê-lo ainda. Na medida que formos lendo mais a Bíblia e estudando mais doutrinas (nas Escolas Dominicais temos uma oportunidade singular para tal empreitada) teremos mais condições de interpretar e entender textos difíceis*². O autor deste texto mesmo já experimentou tal fenômeno. João 1:1-18 nos era obscuro por demais. Hoje, com um certo amadurecimento, já nos é um texto de deleite.
Mas, atenção, insistimos para que haja esforço para entender o texto justamente para evitar que pulemos textos que digam coisas que não gostamos e que, talvez, sejam justamente o que precisamos ouvir.
O grande lance é destacar alguma idéia, alguma informação bíblica que possa fazer parte de nossas reflexões e meditações. É isto que Deus tem pra nos dizer. E é a isso que devemos nos apegar e 'mastigar bem', para 'digerir' e crescer espiritualmente. Que Deus nos ajude na compreensão de sua Palavra!
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*¹ Em reflexão posterior, trabalharemos esta questão num tópico chamado 'interpretação teológica'.
*² Perguntar para alguém não faz mal. Em uma próxima reflexão, ensinaremos a busca por ajuda em comentários bíblicos. É interessante ficar atento às pregações dominicais para, quem sabe, ser iluminado quanto ao texto numa delas...
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