terça-feira, 16 de junho de 2020

Sou Pastor de uma Seita? - Refutações a Calúnias e Difamações (Parte 4)




Como eu disse no primeiro artigo, muitas das mentiras feitas pelo meu difamador já foram respondidas no próprio site da igreja. Mas muitos não tiveram acesso e a resposta não foi tão direta. Por isso, vamos remetê-los a essas respostas comentando diretamente, ponto a ponto, os artigos difamatórios feito a nós.

NOSSAS SUPOSTAS NEFASTAS CRENÇAS

Ultra-Puritanismo?

Na sequência, o difamador, ciente de que se daria muito mal ao dizer que somos uma seita por adotarmos o Princípio Regulador do Culto (PRC), tenta convergir a questão para uma distorção que supostamente teríamos feito a partir daí. Ou seja, ele nos chama de 'ultra-puritanos' e diz que consideramos apóstatas e idólatras todos os outros cultos que não se enquadram nos moldes que pensamos ser o correto, i. e., que não se encaixam no PRC, de modo que, com isso, acabamos caindo em exclusivismo. É uma mentira engenhosa. Uma daquelas mentiras bem convincentes, pois quem quer que se dê ao trabalho de investigar um pouquinho, verá que realmente defendemos o PRC. E é justamente uma meia-verdade que torna uma mentira tão poderosa. A resposta é ligeiramente simples e rápida: isso é mentira. Não defendemos que as outras igrejas ofereçam cultos apóstatas e idólatras, embora discordemos sim de vários elementos que eles colocam, como um pentecostal poderia considerar que o nosso culto falta algo quando não acrescemos orações em línguas e espaço para exorcismos. Essa postura crítica em relação a outras denominações sempre existiu, sem que elas se excluíssem mutuamente na consideração de irmãos. Falamos sobre isso neste artigo que DEVE ser lido por quem estiver levando a investigação a sério (neste vídeo, que encabeça uma série de palestras sobre a doutrina da salvação conforme o calvinismo, declaramos logo no início que arminianos são irmãos, e. g.). Portanto, embora seja patético ter que dizer isso, mas nunca nos consideramos a única igreja de Uberlândia e região, como o difamador inescrupulosamente alegou. Seu intuito com isso é de colocar contra nós não apenas ímpios, mas as igrejas em geral, principalmente as igrejas com quem temos claras diferenças teológicas. Ele não pode provar isso, ao passo que qualquer dos nossos discursos antigos sempre mostraram uma visão totalmente diferente. Nos verá falando de outras igrejas, considerando outras pessoas de outras denominações como irmãos em Cristo e assim por diante. Até mesmo orientamos os irmãos que se mudam a procurarem um lugar com uma boa igreja. Se nos achássemos a única igreja verdadeira, jamais indicaríamos que procurassem outra igreja que não a nossa.

Nazismo, Fascismo, Escravidão

Na sequência, 'analisando' nossas doutrinas e expondo o quão malvados nós somos, ele tenta lançar uma imagem de que somos uma espécie de pregadores do totalitarismo que gostaríamos que fossem mortas dezenas de milhares de pessoas. Já escrevemos extensivamente sobre isso e convido os leitores a honestamente considerarem os argumentos. Sobre o que é o Reconstrucionismo e a questão da 'imposição de valores', não deixem de ler este artigo. E sobre sermos nazistas ou fascistas, e nossa posição sobre pena capital, leia cuidadosamente este artigo. Aqui, caberá apenas lidar com um detalhe não acrescido nesses textos, que é a distorção ardilosa que ele faz das minhas falas pra parecer que propomos uma volta à escravidão e assim por diante. Ele, claro, não divulgou o vídeo que eu estava compartilhando. Tratava-se da exposição de um pastor teonomista - que nos pediu para tirá-las do ar -  a respeito do que a Bíblia ensinava, na Lei, sobre a Escravidão.  E o difamador é tão sem dignidade, que ele descaradamente MENTE quando informou que a exposição a qual eu me referia era sobre Êxodo 21:20-21 - quem viu o vídeo percebeu que a exposição era de versos anteriores a esses. O objetivo deste indivíduo, claro, era fazer parecer o mais mau possível. Ele não entende esse verso, por isso o usou. É o pior que achou e atribuí-lo à minha fala recortada era tudo o que, imaginou, precisava para montar sua peça difamatória. Tomado isoladamente, dá a impressão que eu quero que as pessoas sejam escravizadas - da forma que foi colocada, estou propondo a escravidão de negros, pra piorar, porque aí o faria supostamente por racismo - e que se possa agredir tranquilamente a um escravo. Portanto, alguns esclarecimentos cabem ser aqui feitos.
A primeira coisa é que essa 'escravidão' que eu defendo e que é defendida pelas Escrituras não tem nada que ver com a escravidão praticada pelos outros povos, ou que foi praticada no Brasil. Não se trata de algo que diga respeito a raça ou afins. O termo não é muito bom, é verdade - tanto que as traduções em português muitas vezes trocam 'escravo' por 'servo', principalmente no Novo Testamento (cf. Filemon, onde Paulo parece falar de um escravo fugido que deveria ser recebido como irmão; Efésios 6:5 e Colossenses 3:22 dão claras orientações aos 'escravos', e em Gálatas 3:28 não há uma abolição senão em termos espirituais, pois uma tal alegação teria de valer também para a abolição dos gêneros e até da nacionalidade!) -, mas quando compreendemos o que quer ser dito, então, podemos nos tranquilizar e perceber que não tem nada que ver com o que o difamador tentou taxar. Na forma como as Escrituras colocam, qualquer um, independente da cor de pele, poderia ser obrigado ao trabalho forçado. Isso já tira de sobre nós a tentativa de identificação de racismo aí.
A segunda coisa a ser esclarecida é que as Escrituras humanizam tal relação de senhor e servo. Ou seja, o senhor não poderia justamente tratar o escravo como inferior - como era comum aos outros povos da época. Ele deveria ser tratado segundo a dignidade humana que possuía! Portanto, não poderia ser agredido, nem desonrado, nem forçado mais do que seria humanamente possível. Portanto, não dizia respeito à raça e não dava ao servo menos direitos enquanto humano, excetuando o fato de que ele era obrigado a trabalhar - o que nos leva ao próximo ponto.
Além disso, que tipo de escravidão era essa? Eram escravos por dívidas. Pessoas que roubaram e não poderiam ressarcir, ou que contraíram dívidas que não poderiam pagar, eram forçadas a trabalhar para o indivíduo lesado até que quitasse a dívida. Ao invés de um sistema prisional, onde o indivíduo culpado só dá despesas e é inútil, ele era forçado a literalmente pagar pelo seu erro. Uma vez a dívida quitada, ele estava livre. E, claro, não poderia haver nada como um pagamento injusto e pequeno demais para manter o indivíduo por mais tempo escravizado. Tudo deveria ser estabelecido de forma justa, em juízo, para que o encargo fosse devidamente estabelecido. Ao invés de prender as pessoas que cometem esses crimes e deixá-las paradas, com o lesado a ver navios, e o Estado a gastar dinheiro das pessoas honestas para sustentar o criminoso, ele pagaria com seu trabalho - muitas vezes sendo beneficiado com o aprendizado de um ofício - e tudo se acertaria de forma justa. Isso não é belo, justo e moral? Era a isso que eu me referia na imagem recortada por esse imoral difamador. Era um 'click-bait', uma chamada provocativa para que as pessoas se interessassem e fossem olhar. Ele distorce tudo, recorta a fala sem mostrar o vídeo e me faz parecer um tipo de racista querendo a volta da escravidão dos negros - quando meu pai é negro, temos queridos irmãos negros na igreja e tudo o mais. Mas isso é típico de militância progressista: querer dar a pecha de racista e fascista para seus adversários a fim de incitarem o ódio contra eles.
Finalmente, temos condições de explicar o texto de Êxodo 21:20-21, que o difamador achou polêmico o bastante para nos incriminar e de forma mentirosa associou ao meu comentário. Todavia, ele mesmo, dentro de seu contexto, faz todo o sentido. Vejamos. O texto diz:

"Se alguém ferir com bordão o seu escravo ou a sua escrava, e o ferido morrer debaixo da sua mão, será punido; porém, se ele sobreviver por um ou dois dias, não será punido, porque é dinheiro seu."

Quando olhamos para isso de primeira, tendemos a enxergar um tipo de desumanização no trato com o escravo, não é mesmo? Supostamente, a vida do escravo vale menos do que a de uma pessoa livre. Mas o texto não está falando nada disso! Depois de entender todo o contexto da escravidão por dívida, o que texto está falando é de uma briga entre servo e senhor, um duelo. Veja o contexto. Verso 18 e 22 falando sobre justamente isso - briga, duelo. Com efeito, dos versos 18 a 27 há várias situações de brigas. Isso já tira toda a imagem de um escravo apanhando no tronco, não é mesmo? E há de se observar que uma situação dessas seria extrema, pois normalmente o senhor não queria ferir seus escravos, já que eram sua fonte de renda. Iria querê-los sempre fortes e saudáveis. Por isso, o duelo se deu por alguma questão muito complicada. Já para o servo, não havia muito o que perder em entrar numa briga. Se ele se ferisse, tudo que conseguiria seria uma justa 'folga' ou até mesmo ganharia libertação (cf. v. 26-27)! Portanto, um juiz deveria analisar considerando essas questões. Seriam raras as vezes que o senhor realmente desejaria a morte do seu servo. Além isso, aqui se trata de uma situação em que ambos os lados entram culposamente em conflito.
Pois bem, em relação ao verso 21 em si, há algumas interpretações distintas e muito interessantes. Não precisamos resolver em absoluto qual delas é a melhor. Basta observar que são possibilidades lógicas que se diferem da interpretação sugerida pelo difamador e coadunam com outros princípios dados nas Escrituras a respeito do trato geral para com os homens.
Numa briga dessas, se o senhor ferir o escravo e ele morrer, cometeu um homicídio e será punido como homicida. Isso coloca uma distinção entre a Lei e os outros povos, como romanos, que davam ao senhor direito sobre a vida do escravo, como nota Calvino no comentário desta passagem.
Mas se ele sobreviver por um ou dois dias, não será punido e terá sofrido o prejuízo pelo escravo, pois não terá mais sua dívida quitada. O que se presume aí, num caso específico pelo qual derivamos o princípio, é a suposição de que uma morte ocorrida depois de dois dias, após um mero ferimento por um bordão, não poderia ter se dado por isso. É preciso notar que muitas vezes essas leis eram dadas retratando casos específicos da época para traduzirem um princípio geral baseado no Decálogo. Essa é uma intercessão entre o sexto e o oitavo mandamentos. Considera-se primeiro a questão da possibilidade de um crime de homicídio e constata-se que bordoadas não poderiam ferir o indivíduo mortalmente se não o matasse no primeiro dia. Portanto, a morte que veio depois foi uma fatalidade da qual o senhor não tem dolo. Se for outra situação, como um golpe de espada ou, para os dias de hoje, um tiro, é claro que haveria dolo depois de dois dias. A grande questão é saber se há ou não dolo. Se não houver, haverá uma lamentável morte e o prejuízo do senhor.
Uma segunda interpretação (com endosso de Calvino, e. g.), ligeiramente diferente da anterior, entende o  termo עָמַד (amad) como se referindo à integridade do indivíduo. Ou seja, se houvesse um ou dois dias que ele se apresentasse sem ferimentos ou afins e então viesse a falecer, não teria nada que ver com a briga entre ele e o seu senhor. Mas se houvesse alguma ferida, ele então seria culpado e condenado como assassino. Portanto, se houvesse feridas em uma briga sem armas letais, e o indivíduo morresse na hora da briga ou pouco depois, o senhor seria condenado por homicídio (culposo ou doloso, o caso haveria de ser avaliado). Mas se passasse alguns dias, não poderia ser responsabilizado.
Por fim, uma terceira interpretação toma os dois dias 'sobrevivendo' como um ou dois dias sem trabalhar, como que internado. O termo (עָמַד - amad) pode significar 'permanecer' e, pela sequência, seria 'permanecer ferido'. Ou seja, segundo essa interpretação, não se trata de um servo que morreria, por conta do duelo, um ou dois dias depois. Tratar-se-ia justamente de um servo que ficasse um ou dois dias se recuperando de uma bordoada - tempo suficiente para se recuperar de uma briga como essa, tal como descrevemos no último parágrafo (esta é, inclusive, a interpretação de Rushdoony em seu comentário a Êxodo).


Psicologia Diabólica?

Em seguida, ele passa a atacar o nouteticismo. Só esse ponto demandaria um artigo inteiro para refutá-lo. Ainda o faremos, tal como fizemos na sua acusação de que somos 'cristofascistas' e nazistas. Mas, por agora, basta colocarmos algumas coisas que devem ser consideradas. A primeira é que se isso nos configura como seita, então uma gama muito extensa de pastores brasileiros devem ser considerados hereges. E não só pessoas desconhecidas, mas também pessoas muito famosas. Quem concordar com o difamador, deverá considerar Jay Adams, Rushdoony, Bahnsen, John F. MacArthur Jr. e tantos outros grandes nomes como igualmente heréticos. Mais do que isso, as teses têm respaldo mesmo fora do círculo reformado, como na pessoa do dr. Anthony Daniels (Theodore Dalrymple) e até mesmo Chesterton e, em alguma medida, Plantinga (no que diz respeito à filosofia da mente)! Nos valemos, inclusive, de Agostinho, Pascal, Kierkegaard, Lavelle e outros tantos clássicos para lidarem com os problemas da alma. Todos esses têm que ser considerados sectários e hereges perigosos. Se não tiverem coragem de fazer isso em relação a eles, por que têm coragem de fazer comigo? É porque atacar um pastor de uma pequenina igreja é mais fácil, não é mesmo?
Pois bem, sim, acreditamos que a maioria das chamadas psico-patologias são, na verdade, condutas morais sendo consideradas como doenças, ou efeito dos pecados. Embora evidentemente existam danos cerebrais que causem disfunções cognitivas e coisas do gênero - o que o próprio Jay Adams admite prontamente -, da mesma forma uma série de condutas, acompanhando uma agenda política, passaram a ser desculpadas como doença para depois nem mesmo isso ser consideradas mais. Para que nossa posição a respeito do assunto pudesse ser suficientemente considerada, e uma discussão mais prolongada viesse à tona, seria preciso que uma boa noção de filosofia da ciência - incluindo aí as leituras de Kuhn, Polanyi - estivesse em dia. Pois só assim poderiam entender como fazemos todas as ciências segundo os nossos pressupostos. Por agora vale apenas desmentir que consideramos todos os problemas psicológicos como pecados. Na verdade, isso é uma petição de princípio, que já assume todos as supostas patologias como patologias. Além disso, o próprio Adams acredita que muitas delas existem e que surgiram POR CAUSA de pecados, e não que elas sejam, em si, pecaminosas. Essa guerra contra a transmutação em patologia das condutas morais não é uma guerra que nós encabeçamos ou somos pioneiros. Ela ultrapassa muito as fronteiras dos arraiais reformados e é encetada até mesmo por não-cristãos e ateus. Tentar fazer a teoria parecer coisa de maluco e perigosa foi apenas um apelo ao público, dada o estatuto mainstream da teoria alternativa, e uma tentativa de terrorismo psicológico barato como se fôssemos tratar a coisa da forma mais leviana.
O que o difamador nos acusa, em seguida, de proporcionarmos um ambiente que agrava transtornos psicológicos, só ganha força, a essa altura, depois de se acreditar em toda a ladainha de fazermos lavagem cerebral nas pessoas, não permitirmos que leiam outras coisas e outros autores, de dar crédito à acusação de que não permitimos questionamentos e tudo o mais. Isso é simplesmente falso! E é uma acusação muito normalmente feita contra cristãos em geral. Quando falamos de pecado e como ele é detestável a Deus; que as pessoas devem se arrepender e buscar ajuda no Senhor para vencerem seus ídolos; que os pecados dos que não estão em Cristo serão julgados pelo Senhor no último dia  e coisas assim - que são normais (ou deveriam ser) nas igrejas, não faltarão progressistas dizendo que é um discurso inaceitável, que estamos julgando as pessoas e etc. Vejam as pregações! Corram ao nosso canal e verifiquem se há algo que não está na própria Bíblia! Cuidem para que, dando eco às acusações desse difamador, não seja contra a própria pregação de vocês e de suas igrejas que vocês estão se colocando como opositores!
Uma última palavra. Pensem por um instante em como um ímpio impenitente lidaria com sua expulsão. Pensem se fosse o caso de um ímpio ressentido, amargurado e vingativo. Já consideraram a possibilidade desse ser exatamente o caso? O que um ímpio diria numa boa igreja? Que ela é opressiva e malvada. Colocar a culpa dos próprios erros nos outros está na moda. A culpa é da sociedade, dos seus pais, dos seus neurônios, menos sua. Um rapaz homossexual assumido, que alega em público suas promiscuidades, acharia o quê de uma igreja cristã e bíblica? O que acham que faria na sua igreja? Acredito que a igreja de boa parte dos irmãos que o ouviram e deram crédito o teriam expulsado como o fizemos e estariam passando por boa parte dessas acusações.

[Parte 3]


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