Muito já se tem dito a respeito da ignorância de Dawkins a respeito de assuntos filosóficos e teológicos*¹. Muitos blogs existem para demonstrar a falta de honestidade intelectual que este senhor lida com questões tão importantes como a existência de Deus. Permitam-me apenas um pequeno acréscimo a todo o mar de evidências, num apontamento que a tempos já havia percebido.
Dawkins está a analisar a quarta via para a existência de Deus de Tomás de Aquino. Esta via diz:
“Encontra-se nas coisas algo mais ou menos bom, mais ou menos verdadeiro, mais ou menos nobre etc. Ora, mais e menos se dizem de coisas diversas conforme elas se aproximam diferentemente daquilo
que é em si o máximo [...] Existe em grau supremo algo verdadeiro, bom, nobre e, conseqüentemente o ente em grau supremo, pois, como se mostra no livro II da Metafísica, o que é em sumo grau verdadeiro, é ente em sumo grau [...] Por outro lado, o que se encontra no mais algo grau em determinado gênero é causa de tudo o que é desse gênero (...) Existe então algo que é, para todos os outros entes, causa de ser, de bondade e de toda a perfeição: nós o chamamos Deus”*²
Richard Dawkins diz que este argumento é ruim, pois, faz com que todo adjetivo, mesmo os pejorativos, tenham que encontrar um superlativo em Deus. Suas palavras são: "as pessoas variam quanto ao fedor, mas só podemos fazer comparação pela referência de um máximo perfeito de fedor concebível. Tem de haver, portanto, um fedorento inigualável, e a ele chamamos Deus" ('Deus, um delírio', p. 90, no e-book).
A isto Sproul já nos havia advertido: "Pode ser contra-argumentado que, se isso é verdade, Deus também teria de ser máxima ou perfeitamente mau - para explicar os graus relativos de maldade no mundo. Por isso foi fundamental que Tomás, seguindo Agostinho, tenha definido o mal em termos de privação e negação. O padrão fundamental pelo qual temos de julgar o mal não é o mal máximo, mas a perfeição máxima" ('Filosofia para iniciantes', p. 75).
As, Dawkis vacila por não perceber que os graus de fedores existem como negações dos graus de bons aromas. Um vacilo digno de alguém nada versado em filosofia... e o pior, um vexame para alguém que publica um livro sem conhecer sobre o assunto.
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*¹ Dentre eles temos A. Flew e Alvin Plantinga.
*² Tirei as citações deste artigo: http://filosofante.org/filosofante/not_arquivos/pdf/Cinco_Vias.pdf
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