Sproul faz uma ousada asseveração (já observada no texto sobre os sofistas): “Dois gigantes da filosofia da era pré-socrática foram Heráclito e Parmênides. Algumas pessoas dizem que toda a filosofia nada mais é que notas de rodapé ao pensamento de Platão e Aristóteles; também poderíamos dizer que Platão e Aristóteles foram apenas notas de rodapé ao pensamento de Heráclito e Parmênides” (SPROUL, p. 21). Lembramo-nos quando um amigo, filósofo, Reverendo José Carlos Piacente Jr., nos disse que compreender Parmênides e Heráclito é essencial para o entendimento dos projetos filosóficos que os sucederam. Depois de algum tempo fomos compreender o que o reverendo Piacente Jr. e Sproul queriam dizer. O grande problema da filosofia estava justamente em conciliar o imutável e eterno de nossa razão (Parmênides) com o mutável de nossos sentidos (Heráclito). Os dois pré-socráticos haviam confundido a cabeça das pessoas. Pareciam ter lançado um enigma insolúvel. Mas algumas mentes brilhantes surgiram para criar sistemas de pensamento, cosmovisões, que lidassem com esses problemas. O primeiro que iremos estudar será Platão e o próprio Sproul viria a observar isso adiante, no mesmo livro: “O paradigma de Platão tinha o propósito de resolver a tensão entre Parmênides e Heráclito, a tensão entre movimento e permanência, entre ser e vir a ser. Usando os termos hegelianos posteriores da dialética, podemos dizer que o pensamento de Herálicto (vir a ser, movimento) era uma tese, e o pensamento de Parmênides (ser, permanência) era sua antítese; Platão procurou uma síntese que explicasse tanto mudança como permanência, que incorporasse ser e vir a ser, como pólos de uma dialética que parece ser exigida por uma visão abrangente da realidade” (SPROUL, p. 35).
Antes, porém, de conhecer
esse magnífico edifício filosófico, conheçamos, primeiro, o filósofo, e as tenções
históricas que o levaram às reflexões que fez.
QUEM FOI PLATÃO?
“Platão (428? – 348? a. C.)*1 também era ateniense, filho de Aristo e Perictona, que provinham de uma antiga
família pertencente à nobreza da cidade” (CHALITA, p. 52). Assim, Durant diz que
“ele tinha sido criado com conforto e, talvez, em meio à riqueza” (DURANT, p.
32). Nash complementa dizendo que “seus pais eram ricos aristocratas
atenienses” (NASH, p. 63). Sproul ainda traz uma informação relevante sobre
Aristo, o pai de Platão: “Membro da aristocracia ateniense, o pai de Platão
descendia dos primeiros reis de Atenas” (SPROUL, p. 34). Portanto, estamos
falando de um mauricinho, filho de aristocratas, de descendência real.
Nash nos informa sobre seu
nome: “Seu nome de nascimento foi Aristocles, e Platão parece ter sido um
apelido referente à sua aparência assaz robusta” (NASH, p. 63). Segundo a
descrição de Durant, ele se enquadra naqueles mauricinhos dedicados aos esportes,
como os playboys americanos: “era um jovem belo e vigoroso – chamado de Platão,
dizem, devido à largura dos ombros; distinguira-se como soldado e por duas
vezes ganhara prêmios nos jogos ístmicos. Uma adolescência dessas não costuma
produzir filósofos” (DURANT, p. 32). Sproul expressa-se um pouco diferente:
“Uma tradição reza que seu nome significa ‘ombros largos’, apelido que recebeu
quando jovem, por evidenciar talento como lutador” (SPROUL, p. 34). Juntando
tudo temos um belo jovem, nobre, musculoso, bom soldado, bom lutador, e bom
esportista. Como conclui Durant, não é do tipo que se espera grande apreço pelo
saber, pela filosofia.
ELE SE ENCONTROU COM SÓCRATES, E ISSO MUDOU TUDO...
Entretanto, não era um total
ignorante, um brutamontes que só pensa em seus músculos. Sproul nos informa que
ele se envolveu com poesia antes de conhecer Sócrates: “Antes de conhecer
Sócrates, Platão se interessava por poesia, interesse que manteve e que pode
ser visto em seu estilo literário” (SPROUL, p. 34).
De repente, provavelmente na
ágora, lá estava aquele baixinho um tanto quanto cheinho, de olhos esbugalhados
e nariz pontudo, pulverizando a pretensa sabedoria de célebres figuras. Era,
assaz, alguém interessante [caso você ainda não conheça Sócrates, clique aqui]. E o interesse de Aristocles, vulgo Platão, por
aquele homem ia se intensificando gradativamente, até que se tornar seu aluno:
“Platão descobrira um novo prazer no jogo ‘dialético’ de Sócrates; era uma
delícia ver o mestre esvaziando dogmas e perfurando presunções com a afiada
ponta de suas perguntas. Platão [...] passara do simples debate para a análise
cuidadosa e a discussão proveitosa. Tornara-se um muito apaixonado amante da
sabedoria e um grande admirador de seu professor” (DURANT, p. 32-33). Segundo
Sproul, tornou-se aluno de Sócrates quando já contava com mais de vinte anos
(SPROUL, p. 34).
Nash nos traz outra
informação: “Platão mostrou pouco interesse por filosofia até a execução de
Sócrates, em 399 a. C.” (NASH, p. 63). Como Nash diz que ele não estava tão
interessado assim em filosofia, acreditamos que tenha se tornado um seguidor
não tão dedicado, incialmente, e, com o tempo, foi sendo seduzido pelo amor à
sabedoria de forma paulatina.
A morte de Sócrates
repercutiu na alma de Platão. Aquele excelente homem, morto, assassinado como
um criminoso! Aquilo não estava certo. “Muitos crêem que a coragem e a honra de
Sócrates, demonstradas na ocasião de sua morte, afetaram enormemente Platão,
resultando na busca do conhecimento filosófico de maneira semelhante à modelada
por Sócrates” (NASH, p. 63-64). Gaarder tem as mesmas impressões: “Platão
(427-347 a. C.) tinha vinte e nove*2 anos quando Sócrates teve de beber o cálice
de cicuta. Por muito tempo ele havia sido discípulo de Sócrates e acompanhou de
perto o processo movido contra seu mestre. O fato de Atenas ter condenado à
morte seu filho mais nobre não só lhe deixou marcas para toda a vida como
também determinou a direção de toda a sua atividade filosófica” (GAARDER, p.
96).
Chalita diz que Platão
“assistiu inconformado à sentença de morte do grande mestre...” (CHALITA, p.
52). Entretanto, como observamos alhures, Platão não pôde estar presente no dia
da morte do mestre, conforme nos notifica Maria Lacerda de Moura:
“Ausentando-se durante esse espetáculo de beleza e grandeza ética que deve ter
sido a morte serena, imperturbável, desse gênio e desse santo, enviando os seus
emissários. Platão achou meio de acrescentar mais uma coroa de glórias à sua
vaidade” (PLATÃO, p. 76). Alceu Amoroso Lima é ainda mais preciso para com essa
informação: “Platão não pôde tampouco, acompanhar a Críton, Fédon, Apolidoro,
Cebes e Símias – os cinco amigos e discípulos, fiéis que participaram do
memorável encontro do último dia de Sócrates, cujo resultado Fédon, depois da
morte do mestre, foi contar a Echécatres e este referiu a Platão, que por sua
vez o imortalizou no diálogo que deu nome de Fédon” (PLATÃO, p. 10-11).
Ainda sobre as impressões que
o assassinato da democracia a Sócrates, temos duas citações interessantes de
serem feitas. Gaarder nota, de forma concisa que, “para Platão, a morte de
Sócrates deixou bem clara a contradição que pode existir entre as efetivas
relações dentro de uma sociedade e a verdade e o ideal” (GAARDER, p. 96). Ou
seja, a política parece estar sujeita à corrupção, e não age, necessariamente,
segundo o que é correto e verdadeiro. Sócrates havia demolido as acusações a
ele. Mas ainda assim foi condenado. Isso levaria Platão a passar sua vida
engendrando um projeto político muito definido, como nota Durant: “Aquilo o
enchera de tamanho desprezo pela democracia, tamanho ódio das massas, que nem
mesmo a sua linhagem e sua criação aristocráticas haviam despertado nele;
levara-o a uma decisão canônica de que a democracia precisava ser destruída,
para ser substituída pelo governo dos mais sábios e melhores. A preocupação da
sua vida passou a ser a procura de um método pelo qual os mais sábios e
melhores pudessem ser descobertos e, depois, habilitados e persuadidos a
governar” (DURANT, p. 33).
Pouco depois da morte do
mestre lá estava Platão publicando seu primeiro livro, como nos informa
Gaarder: “A primeira ação de Platão como filósofo foi a publicação do discurso
de defesa de Sócrates. Nele Platão torna público o que Sócrates havia dito ao
grande júri” (GAARDER, p. 96).
O VIAJANTE
Embora Platão não estivesse
sozinho com o seu desprezo à democracia, era minoria, e não era bom
enfrenta-la. Platão, de destaque, podia correr risco de vida. Então “seus
amigos insistiam que Atenas não era segura para ele e que aquele era um momento
admiravelmente propício para que ele corresse o mundo. E assim, naquele ano de
399 a. C., ele partiu. Para onde foi, não sabemos ao certo” (DURANT, p. 33)*3.
Há várias especulações, mas, como Durant é o historiador dentre nossas fontes,
preferimos registrar, aqui no texto, sua hipótese: “Parece que, primeiro, foi
ao Egito; e que ficou um tanto chocado ao ouvir, da classe clerical que
governava aquela terra, que a Grécia era um país infame, sem tradições
estabilizadoras ou uma cultura profunda e, portanto, ainda não podia ser levada
a séria por aquelas enigmáticas ‘autoridades’ do Nilo. Mas nada nos ensina
tanto quanto um choque; a lembrança daquela casta culta, governando
teocraticamente um estático povo agrícola permaneceu viva no pensamento de
Platão e representou seu papel quando ele escreveu sua Utopia. E depois, lá
seguiu ele para a Sicília e para a Itália; lá, entrou durante certo tempo para
a escola ou a seita que o grande Pitágoras havia fundado; e uma vez mais sua
mente sensível ficou marcada pela lembrança de um pequeno grupo isolado de
homens com a finalidade de ter sua erudição aproveitada e governar, vivendo uma
vida simples, apesar do poder que possuía. Durante doze anos ele perambulou,
bebendo avidamente sabedoria de todas as fontes, sentando-se em todos os
santuários, saboreando cada credo. Há também quem diga que ele foi à Judéia,
sendo influenciado, durante algum tempo, pela tradição dos profetas quase
socialistas; e, até, que chegou às margens do Ganges e aprendeu as meditações
místicas dos hindus. Não sabemos” (DURANT, p. 33)*4. A sua elaboração política,
como apontada, seria uma abstração das coisas que vira*5.
Segundo Sproul, na Sicília
Platão teve encrencas e teve de voltar para Atenas: “Durante essa viagem, diz a
lenda, ele foi sequestrado, colocado à venda como escravo, resgatado por um
amigo e enviado de volta a Atenas” (SPROUL, p.34). Nash refere-se à viagens à
Sicília após falar da sua volta a Atenas: “Platão parece ter feito várias
viagens à cidade-Estado de Sicacusa, na Sicília, em um esforço para influenciar
os líderes a executar suas ideias políticas” (NASH, p. 64). Sabemos que ele se
refere, pelo menos de forma inclusa, ao tempo em que Platão esteve viajando,
após a morte de Sócrates, pelas informações conferidas por Luc Brisson e
principalmente pela excelente ampliação fornecida pelo nosso filósofo e
historiador Will Durant: “Em 387 a. C., no retorno de sua primeira viagem pela
Magna Grécia (Itália do Sul) e pela Sicília – onde ele se dirigiu à corte de
Denys o Antigo, tirano de Siracusa, e tomou conhecimento de Dion” (PRADEAU, p.
43) e “No ano de 387 a. C., Platão recebeu um convite de Dionísio, rei da então
florescente e poderosa Siracusa, capital da Sicília, para transformar o seu
reino numa Utopia [...] Mas quando Dionísio descobriu que o plano exigia que
ele se tornasse um filósofo ou deixasse de ser rei, esquivou-se; o resultado
foi uma áspera discussão. Segundo dizem Platão foi vendido como escravo, para
ser salvo por seu amigo e discípulo Anicéris; quando os seguidores atenienses
de Platão quiseram reembolsá-lo pelo resgate que pagara, ele recusou-se a
receber, dizendo que eles não deveriam ser os únicos privilegiados a ajudarem a
filosofia” (DURANT, p. 55). Parece que o Denys de Brisson e o Dionísio de
Durant são as mesmas pessoas, ou será o tal ‘Dion’ mencionado no final da
citação? O fato é que Durant nos informa com mais detalhes o que Sproul
menciona no começo do parágrafo*6.
“Voltou para Atenas em 387 a.
C., um homem com quarenta anos de Idade [...]. Havia perdido um pouco dos ardentes
entusiasmos da juventude, mas ganhara uma perspectiva de pensamento [...]”
(DURANT, p. 33). Já estava muito mais capaz de realizar seus planos e dar
sucessão ao trabalho de seu mestre. “Ele tinha conhecimento e tinha arte; por
exceção, o filósofo e o poeta viviam numa só alma; e ele criou para si mesmo um
meio de expressão no qual a beleza e a verdade poderiam encontrar espaço e
trabalhar: o diálogo” (DURANT, p. 33).
AS OBRAS DE PLATÃO
Falando nos diálogos,
tanjamos na questão de suas obras. Alguns que lhe são atribuídos podem não ser
dele, conforme expõe, dentre outras coisas, Nash: “Conquanto aproximadamente
trinta e seis escritos sejam atribuídos a Platão, possivelmente seis ou sete deles
são falsificações que podem ter sido escritas por alguns seguidores de Platão,
da Academia. Todos os grandes escritos de Platão, incluindo Apologia, Fedon,
Eutífron, Menon, A República, Timeu e As Leis, são autênticos. Os escritos mais
antigos de Platão são geralmente mais curtos, concentrados em questões éticas e
são inconcludentes no sentido de que eles levantam mais questões do que
respostas” (NASH, p. 64).
Embora ele não tenha escrito
exclusivamente diálogos, o que nos foi legado foram eles. Agora, o mais
surpreendente é que, segundo Durant, eram escritos populares, versões
facilitadas, divulgações de suas ideias. Dissemos surpreendente pelo fato de
que são riquíssimos e, muitas vezes, difíceis de ler. Deixemos Durant falar:
“Esses diálogos, segundo nos informam, foram escritos por Platão para o público
leitor comum de sua época: pelo seu método coloquial, sua animada guerra de
prós e contras, e seu desenvolvimento gradativo e repetição frequente de cada
argumento importante, eles eram explicitamente adaptados (por obscuros que nos
possam parecer agora) à compreensão do homem que deve saborear a filosofia como
um luxo ocasional e que é obrigado, pela brevidade da vida, a ler como lê
aquele que corre” (DURANT, p. 34).
Nash trabalha um pouco mais
uma questão que já mencionamos quando dissertamos sobre Sócrates: a questão
sobre Platão ter ‘adulterado’ a figura histórica de Sócrates. “O uso que Platão
fez de Sócrates como interlocutor principal em muitos dos seus diálogos foi uma
maneira de honrar o grande homem responsável por ele mesmo ter se tornado um
filósofo. Em seus primeiros trabalhos, tais como Apologia e Críton, Platão
parece apresentar uma representação fiel do método e das crenças de Sócrates.
Nos escritos produzidos na sua maturidade, como Fedon, Menon e A República,
Platão geralmente coloca suas próprias crenças na boca de Sócrates. Os últimos
escritos de Platão ou deixam de fazer referência a Sócrates ou se utilizam dele
exclusivamente como porta-voz para teorias que o Sócrates histórico jamais
teve” (NASH, p. 64).
Por fim, notamos que
basicamente todos os textos dos pré-socráticos foram praticamente perdidos.
Sócrates não escreveu nada. Então, o que teria feito com que os escritos de
Platão não tivessem se perdido? Gaarder tem a resposta: “Quanto a Platão, temos
razões para crer que todas as suas obras mais importantes foram preservadas.
(Além do discurso de defesa de Sócrates, Platão escreveu também uma coletânea
de cartas e mais de trinta diálogos filosóficos. O número de diálogos atribuídos
a Platão ainda é discutido pelos historiadores).
A ACADEMIA
“O motivo de seus escritos
terem sido conservados para a posteridade pode ser atribuído também ao fato de
Platão ter fundado sua própria escola de filosofia nos arredores de Atenas, num
bosque que levava o nome do legendário herói grego Academos. Por causa disso, a
escola de filosofia de Platão recebeu o nome de Academia”*7 (GAARDER, p. 96-97).
Sim, a famosa Academia de Platão. Esse é o assunto desta seção.
Sproul, ao passo que Brisson
concorda com Gaarder (PRADEAU, p. 43), apresenta alguns dados conflitantes com essas
informações: “Aos quarenta anos fundou a Academia, pela qual ficou famoso.
[...] A academia recebeu esse nome porque Platão havia obtido um pedaço de
terra nos arredores de Atenas de um benfeitor chamado Academos. A Academia,
situada num jardim de oliveiras, deu origem à expressão ‘os jardins de
Academos’” (SPROUL, p. 34). Afinal, Academos era um herói grego ou um benfeitor
do qual Platão teria obtido uma porção de terra? Seria esse bem feitor o herói
grego? Infelizmente o autor deste artigo não tem, pelo menos ainda, informações
mais específicas sobre o assunto.
Brisson nos informa que “A
Academia [...], depois da morte de Platão, conheceu rapidamente um grande
sucesso e entrou logo em conflito com a escola de Isócrates (436 – 338 a. C.),
onde principalmente era ensinada a retórica” (PRADEAU, p. 43).
Para Gaarder os diálogos
surgiram não apenas como idealização pedagógica, didática, de Platão. Mui
provavelmente inspirado em Sócrates, a norma na Academia era o diálogo, o que
influenciaria a escrita de seu fundador: “Na academia de Platão ensinavam-se
filosofia, matemática e ginástica, embora ‘ensinar’ talvez não seja a melhor
palavra nesse contexto. Isto porque também na academia de Platão o diálogo vivo
era o que mais importava. Assim, não é por acaso que o diálogo foi a forma
escolhida por Platão para registrar por escrito sua filosofia” (GAARDER, p. 97)*8.
E, falando em matemática, é
interessante o que Sproul nota: “Uma placa colocada na entrada da Academia
dizia: ‘Somente para geômetras’. [...] A relação com a geometria é a seguinte:
tanto a matemática como a filosofia podem ser consideradas ciências formais
(relativas a forma ou essência), em distinção das ciências físicas ou
materiais. Platão sempre teve grande interesse pela matemática e sua relação
com as formas abstratas, tema central em seu pensamento” (SPROUL, p. 34). No
momento certo, a relação entre matemática (ou, mais especificamente geometria)
e sua filosofia será compreendida.
ATÉ À MORTE
Na Academia Platão passou
seus últimos anos de forma bem feliz. Durant nos informa como se deu sua morte:
“Os últimos anos de sua longa vida devem ter sido bem felizes. Seus discípulos
haviam se espalhado em todas as direções, e seu sucesso o tornara venerado em
toda parte. Ele vivia em paz em sua Academia [...] seus discípulos o amavam
tanto quanto ele os amava; ele era tanto amigo deles quanto seu filósofo e guia.
Um de seus discípulos, enfrentando esse grande abismo chamado casamento,
convidou o Mestre para a festa de suas bodas. Platão foi, rico com os seus
oitenta anos, e uniu-se prazerosamente aos foliões. Mas à medida que as horas
passavam em meio à alegria, o velho filósofo retirou-se para um canto tranquilo
da casa e sentou-se numa cadeira para tirar uma soneca. Pela manhã, quando a
festa havia terminado, os exaustos convivas foram acordá-lo. Verificaram que,
durante a noite, tranquilamente, sem agitação, ele passara de um sono curto
para um sono interminável. Toda Atenas o acompanhou à sepultura” (DURANT, p.
56).
Vamos, pois, conhecer as
ideias desse brilhante filósofo!
[clique aqui e conheça o mundo das ideias]
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*1 Portanto, Platão nasceu em plena Guerra do Peloponeso e viveu durante o período conturbado que se seguiu após a vitória dos espartanos.
*2 Há uma controvérsia entre a data do nascimento e morte de Platão e, claro, isso influencia as demais datas dos acontecimentos de sua vida. Gaarder aqui fala de 29 anos para Platão quando Sócrates morreu. Mas Durant fala 28 anos: “Ele estava com 28 anos quando o mestre morreu” (DURANT, p. 33). Segundo Sproul, “morreu com oitenta anos de idade” (SPROUL, p. 34).
*2 Há uma controvérsia entre a data do nascimento e morte de Platão e, claro, isso influencia as demais datas dos acontecimentos de sua vida. Gaarder aqui fala de 29 anos para Platão quando Sócrates morreu. Mas Durant fala 28 anos: “Ele estava com 28 anos quando o mestre morreu” (DURANT, p. 33). Segundo Sproul, “morreu com oitenta anos de idade” (SPROUL, p. 34).
*3 Nash parece dizer que o
exílio de Platão teria sido uma iniciativa própria: “O assombro ante a execução
de Sócrates também o teria levado a se exilar em Atenas por muitos anos” (NASH,
p. 64). Sproul também não fala nada dessa iniciativa dos seus amigos: “Depois
da morte do seu mentor, Platão deixou Atenas e foi viajar pelo mundo” (SPROUL,
p. 34).
*4 Embora Nash vá fazer
algumas prolepses aqui, vale a pena citá-lo para comparação: “Conquanto tenha
passado muito tempo no Egito, Platão parece ter residido em colônias gregas no
lugar que hoje é o sudeste da Itália. Na Itália, ele entrou em contato com a
escola de pensamento conhecida como pitagorismo. Várias facetas do pitagorismo
aparecem preeminentes no pensamento maduro de Platão, incluindo o dualismo
mente-corpo, a imortalidade da alma e o interesse afetuoso pela matemática”
(NASH, p. 63-64). Percebam que Nash apenas sumariza a exposição de Durant. Já
Sproul nem mesmo menciona o Egito: “Na Sicília, conheceu os pitagóricos
(seguidores de Pitágoras)” (SPROUL, p. 34).
*5 Maria Lacerda é muito
semelhante a Durant em suas observações, e deixa claro que foi Dionísio quem
escravizou Platão: “Pôs-se a serviço de Dionísio, tirano de Siracusa. Não
entraram em acordo, com relação aos planos da realização da sua República, e
diz a história que Platão foi reduzido à condição de escravo, por Dionísio, o
que aliás honra Platão – que não estava disposto a se submeter à vontade do
tirano. Foi salvo, resgatado pelo amigo e discípulo Anicéris” (PLATÃO, p.
72-73).
*6 Portanto, não eram
idealizações, meras abstrações utópicas, como Durant observará doravante numa
citação que antecipa alguns pontos que abordaremos no decorrer do artigo; que
dá mais alguns detalhes de onde ele poderia ter ido e que, embora seja longa,
merece ser registrada integralmente: “Esses exemplos indicam que, dentro de
limites e com modificações, o plano de Platão é exequível; e realmente ele
mesmo o baseara, em grande parte, na prática observada em viagens que fizera.
Ele ficara impressionado com a teocracia egípcia: Ali estava uma grande e
antiga civilização governada por uma pequena classe sacerdotal; e em comparação
com as brigas, a tirania e a incompetência da Eclesia ateniense, Platão achou
que o governo egípcio representava uma forma de Estado muito mais elevada
(Leis, 819). Na Itália, ele ficara algum tempo com uma comunidade pitagórica,
vegetariana e comunista, que durante gerações havia controlado a colônia grega
na qual vivia. Em Esparta, havia visto uma pequena classe governante levando
uma vida dura e simples em comum, em meio a uma população submissa; comendo
juntos, restringindo as uniões sexuais para fins eugênicos e dando aos bravos o
privilégio de várias mulheres. Sem dúvida, ouvira Eurípides defender uma
comunidade de esposas, a liberação dos escravos e a pacificação do mundo grego
por uma liga helênica (Média, 230, Fragm., 655); sem dúvida, também, conhecera
alguns dos cínicos que haviam criado um forte movimento comunista entre o que
agora chamaríamos de Esquerda Socrática. Em suma, Platão deve ter sentido que,
ao propor seu plano, não estava fazendo uma melhoria impossível das realidades
que seus olhos haviam contemplado” (DURANT, p. 52).
*7 “Durante quase um milênio,
os textos de Platão foram lidos, recopiados, meditados e cuidadosamente
transmitidos por pessoas de alta cultura; é isto que explica a excepcional
qualidade dos nossos manuscritos dos diálogos e a imensa difusão do pensamento
platônico” (PRADEAU, p. 43).
*8 “...para Platão, talvez a
conversa a respeito de assuntos filosóficos seja a mais importante de todas as
atividades humanas. Essa ideia raramente é explicitada nos diálogos, ainda que
Sócrates talvez a esteja propondo quando, na Apologia, diz que a vida não
examinada não vale a pena ser vivida, e Platão a menciona na Carta Sete”
(ADLER, p. 292-293). Dessa forma, parece que Sócrates, o que concorda Platão,
entendia que a reflexão filosófica deveria fazer parte do diálogo das pessoas,
e assim tenha emoldurado seu projeto filosófico.
REFERÊNCIAS
BRISSON, Luc. Platão_
PRADEAU, François. História da Filosofia. Tradução de James Bastos
Arêas e Noéli Correia de Melo Sobrinho. Petrópolis: Vozes; Rio de Janeiro:
PUC-Rio. 2ª ed., 2012, 624p.
CHALITA, Gabriel. Vivendo
Filosofia. São Paulo: Atual, 2002, p. 304.
DURANT, Will. A
História da Filosofia. Tradução de Luiz Carlos do Nascimento Silva.
Rio de Janeiro/São Paulo: Editora Record. 4ª ed., 2001, 406p.
GAARDER, Jostein. O
mundo de Sofia: romance da história da filosofia. Tradução de João Azenha
Jr. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. 560 p.
NASH, Ronald H. Questões Últimas da vida: uma introdução à filosofia. Tradução de
Wadislau Martins Gomes. São Paulo: Cultura Cristã, 2008. 448 p.
PLATÃO. Apologia de
Sócrates. Tradução e Apêndice de Maria Lacerda de Moura; Introdução de
Alceu Amoroso Lima. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2011, 88p.
SPROUL, R. C. Filosofia
para iniciantes. Tradução de Hans Udo Fuchs. São Paulo: Vida Nova, 2002,
208 p.
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