segunda-feira, 6 de abril de 2015

Diálogos sobre a Homossexualidade


Era um jantar em família. Uma família tradicionalmente cristã - embora fosse só uma confissão nominal -, reúne-se em um restaurante para comemorar a Páscoa. Mais cedo já haviam trocados ovos de chocolate e todos estavam contentes. Dentre as várias pessoas que ali se encontravam, três nobres senhores [e o adjetivo certamente será subtraído a um deles, no decorrer do texto... fica aqui apenas como efeito retórico], com cosmovisões muito distintas, merecem nossa atenção. São parentes. Um é um homossexual, e o chamaremos de Sr. Rosa. Outro é um homofóbico que será denominado de Sr. Vermelho [até porque comunistas não se davam muito bem com homossexuais... mas pensamos na cor mais para simbolizar violência, sangue]. O terceiro e último homem é o Sr. Cristão, e trata-se de um bom cristão reformado (que acredita que os proponentes da Reforma Protestante estavam certos e que realmente remontaram a fé original, bíblica). Também, não haveria como não notá-los. Por 'força do destino', o assunto acabou rumando-se para aquelas questões polêmicas típicas que tumultuam um encontro desses e geralmente não são nada produtivas. O assunto era homossexualidade. O Sr. Rosa, suspeita do Sr. Vermelho e aproveita para, elegantemente, evocar a discussão diante dos presentes, o que lhe conferiria certa segurança e poderia angariar repúdio ao pensamento daquele que tanto lhe quer mal. Em certo sentido, era uma medida preventiva. E lhe doía o desprezo de seu parente, principalmente o que ele insistia em propagar aos demais familiares noutras ocasiões que não estava presente. Além disso, o parente que tinha menos contato, o sr. Cristão, possivelmente devia fazer o mesmo, embora os exemplos de Cristo pudessem torná-lo mais ameno. Seja como for, se ele coadunasse com o Sr. Vermelho, já seriam dois coelhos com uma cajadada só.

Sr. Rosa - Vocês explicam como, para vossos filhos, a respeito da relação entre coelho, ovo e chocolate?
Sr. Vermelho - Não precisamos explicar. Têm apenas que aceitar.
Sr. Rosa - Mas, então acham possível que convivam com essa besteira e não conseguem explicar que duas pessoas do mesmo sexo se amem?
Sr. Cristão - Não acredito que devemos chamar nem a um nem a outro de normal. Nada me obriga. Posso explicar para meus filhos que as coisas não são bem assim.
Sr. Vermelho - Além disso, uma coisa é um mito, uma lenda. É algo imaginativamente possível. Não tem que ver com conduta moral...
Sr. Rosa - O que dizem a vossos filhos sobre mim? - perguntou meio que para quem quisesse responder.
Sr. Vermelho - Que você faz algo muito errado! - respondeu, de prontidão, ainda que tentando se conter.
Sr. Rosa - Só isso? E eles acham que sou uma espécie de criminoso? - insistiu ao suspeitar que o Sr. Vermelho tivesse mais para falar.
Sr. Vermelho - Talvez, mas eu vos ensinei que não adiantaria prendê-los, pois poderiam apreciar o cárcere... - falou diminuindo um pouco o tom por perceber ter dito algo muito ofensivo, mas achava-se no dever de falar o que cria.
Sr. Rosa - E você, sr. Cristão, o que me diz. - disse, contendo-se, por ser educado, após ouvir o que achou uma barbaridade da parte do Sr. Vermelho.
Sr. Cristão - Em partes, penso como o sr. Vermelho. Acho que fazes algo muito errado. Entretanto...
Sr. Rosa - Poderia dizer-me, pois, qual a diferença entre vocês dois? - interrompeu-o abruptamente, já um tanto quanto alterado emocionalmente diante de uma confissão assim, começando a sentir-se, inda que não numa dimensão perfeitamente consciente, malquisto por toda a família. - Afinal, não foi Jesus quem ensinou-vos amar ao próximo? Quando Jesus disse que devemos fazer aos outros o que queremos que nos façam, não inclui igualdade? Responda-me, sr. Cristão, pois sei que és interessado em teologia e vives a conversar sobre essas coisas. Não conheces esses textos?
Sr. Cristão - Bom, sr. Rosa, eu entendo seu estado emocional diante do que ouvistes. Mas quero assegurar-te, antes de mais nada, que não concordo que sejas um criminoso e que mereces algo pior do que o encarceramento...
Sr. Vermelho - Eu não disse 'algo pior'!
Sr. Cristão - Tudo bem, sr. Vermelho. Seja como for, no mínimo pareces dizer que os homossexuais merecem uma punição semelhante ao dos criminosos. Quero que saibam que eu não penso assim e estou persuadido de que não é a posição bíblica a esse respeito.
Sr. Vermelho - Veja que não sou cristão, mas sei que a Bíblia mandava apedrejar (ou algo assim) aos que faziam essas abominações.
Sr. Rosa - Perfeitamente, sr. Cristão. Como respondes a isso? A Bíblia, também, no mesmo momento que condena a homossexualidade - o que há bons intérpretes que discordam, mas não vem ao caso -, recomenda compra de escravos e até o formato da barba e corte de cabelo! Parece que o sr. não é tão coerente assim com esses deveres. Como excluis uns e não outros? E não venhas me dizer que aqueles que rejeita caducaram ao passo que os preceitos que aceita permanecem. Parece-me arbitrário arguir assim.
Sr. Cristão - Bom, temos que nos acalmar aqui. Estamos abrindo muitas pontas soltas e creio que não estão dispostos a me ouvir discursar demoradamente sobre esses temas.
Sr. Vermelho - Se te demoras é porque está nos enrolando.
Sr. Rosa - Não pode nos responder de forma resumida?
Sr. Cristão - Há questões complicadas que demandam explicações mais elaboradas. É a natureza do problema que determina sua complexidade.
Sr. Rosa - Pois tente um resumo, por favor! Quero muito entender-te. Prometo esforçar-me pare entendê-lo. Posso até pesquisar mais sobre. Sei como é não ser compreendido e ter muito a falar...
Sr. Vermelho - ...
Sr. Cristão - Bom. Deixa-me resumir da seguinte maneira. Existem critérios lógicos que os teólogos, no decorrer dos anos, elaboraram para explicar o fenômeno neotestamentário de abraçar algumas leis e rejeitar a outras. Afinal, os apóstolos e a igreja primitiva não andavam em conformidade com todas as prescrições do Pentateuco, i. é., dos livros de Moisés.
Existe uma noção muito popular que divide a 'Lei' (como é, também, chamado o Pentateuco - mas há momentos em que usamos o termo para o decálogo e outras para a lei moral) entre leis cerimoniais, leis civis e leis morais. As cerimônias e as leis civis tinham valores transitórios, para um momento específico da história da humanidade, especialmente voltadas para os judeus. As leis cerimoniais eram leis litúrgicas e não obrigavam a mais ninguém além dos judeus. E num regime teocrático, ou mesmo na monarquia hebreia, haveria uma rigidez muito grande para com as coisas santas...
Sr. Rosa - E nessas 'coisas santas' incluía a morte dos homossexuais?
Sr. Cristão - Sim, certamente. Mas, espere, não me interrompa ou então não compreenderás a questão. Da mesma forma que o homossexualismo era punido com morte, também o era o adultério, o estupro e até mesmo a rebeldia indomável de um jovem que se levanta contra seus pais. Era inadmissível que os valores celestiais não fossem estritamente observados num povo que portaria a descendência do Messias! Bom, essa é uma divisão útil, mas prefiro, ainda, uma outra divisão...
Sr. Rosa - Mas, sr. Cristão, as pessoas nascem homossexuais! Não é uma escolha!
Sr. Cristão - Sr. Rosa, insistes em me interromper. Assim não poderás compreender muito bem meus posicionamentos.
Sr. Rosa - É que não pensei que falavas tão a sério quando dizias que demorarias...
Todos dão algumas gargalhadas, quebrando um pouco da tensão. Algumas mordiscadas na comida que já esfriava e tornaram ao diálogo.
Sr. Rosa - Bom, sr. Cristão, acredito que já entendi o seu ponto. As normas se restringiam a uma determinada situação política ou para um determinado problema específico, como não comer carne de porco por não terem condições assépticas para evitar doenças na época...
Sr. Cristão - Algo nesse sentido.
Sr. Rosa - Mas, e quanto à escravidão?!
Sr. Cristão - É outro assunto que demanda uma dosagem de paciência... Bom, basicamente, os judeus humanizaram a prática social tão comum da antiguidade. Escravos sexuais seriam abomináveis. Os escravos deveriam ser tratados como pessoas, seres humanos que, por eventualidades, acabaram por chegar àquela situação social. Não poderiam trabalhar mais do que um trabalhador qualquer e deveriam ser tratados com amor. Muitos se apegavam à família a quem serviam. Haviam possibilidades múltiplas de alforriar-se mas mesmo assim alguns insistiam em continuar com seus amos. Não te estranhas que os profetas que fizeram tantos discursos sobre desigualdades e injustiças sociais não tenham se compadecido deles? O assunto não lhes era estranho. Eles foram escravos dos egípcios e foram tratados de forma muito ruim. No entanto, o escravo dos hebreus seria, inclusive, circuncidado e levado a cultuar a Deus junto a eles! Isso, para os judeus, era o reconhecimento maior de sua dignidade.
Sr. Vermelho - Não estou tão certo assim de que essa argumentação convence e entendo que naqueles tempos era comum tomar os povos vizinhos, conquistados nas guerras, como escravos...
Sr. Rosa - E achas que isso é certo agora?
Sr. Vermelho - É certo que não!
Sr. Rosa - Então admites que pode haver progresso social?
Sr. Vermelho - Sim. Mas não significa que toda novidade deva ser tomada como progresso.
Sr. Cristão - Perfeitamente, sr. Vermelho. Finalmente deras uma dentro nesta noite!
Sr. Rosa - Mas estou a rejeitar a modernidade, senhores! Por um acaso acreditam que devamos voltar a ter escravos? Devemos suprimir o sufrágio feminino?
Sr. Cristão - De modo algum! Mas você deve entender que apreciarmos uma cultura não implica em abraçarmo-la toda. E ao criticar uma parte não temos que rejeitá-la, igualmente, de forma integral.
Sr. Rosa - Mas não consideras a igualdade entre os homens como um progresso modernos?
Sr. Cristão - Isso depende muito do que queres dizer com igualdade.
Sr. Rosa - A aceitação do homossexualismo é uma expressão de igualdade. Se antes os homens eram bárbaros e agora podem pensar melhor sobre essa questão, então certamente estamos em condições mais adequadas. Ou não acreditas que o fim da discriminação - ao menos oficial - não constituiu progresso.
Sr. Cristão - Acredito! Mas não acredito que a causa gay o seja.
Sr. Rosa - Mas você tem que ver que é apenas um desdobramento natural da cultura que, em grande parte, foram vocês mesmos que construíram. Como, agora, decidem abandonar suas crias?
Sr. Cristão - Estais muito equivocado, sr. Rosa. Lembra-te que o homossexualismo era uma prática comum na sociedade romana, entre os espartanos e noutros momentos e situações históricas antigas. Há quem diga, inclusive, que os professores gregos, na antiguidade, praticavam sexo com seus alunos que não são, exatamente, o que chamaríamos hoje de maiores de idade. Nesse sentido, poderíamos dizer que estamos regredindo e não progredindo. Aliás, para que a prática fosse condenada no livro de levítico temos de concordar que fosse antiga. E por haver uma pontual crítica, na Torá (outro nome para o Pentateuco) aos costumes pagãos antigos, é de se presumir que esse era um costume de povos antigos pagãos.
Sr. Vermelho - Além disso, o homossexualismo é anti-natural! Até a Bíblia fala isso - e corrija-me se eu estiver equivocado, sr. Cristão!
Sr. Cristão - Está correto. Paulo, por exemplo, o diz em sua epístola aos Romanos.
Sr. Rosa - Pois eu já digo que é natural. Aliás, sr. Cristão, você não me respondeu o que fazer com essa questão pois, afinal, é congênito. Como poderíamos, pois, deixar de pecar?
Sr. Vermelho - Natural? Não mesmo!
Sr. Rosa - Isso não constitui uma refutação, sr. Vermelho. Só um esbravejamento, e ética não se elucubra com meras expressões subjetivas. Até, aliás, reformulo o que disse. Eu diria que o termo 'natural' é um tanto quanto polissêmico. O que querem dizer com isso?
Sr. Vermelho - Permita-me, primeiro, sr. Cristão?
Sr. Cristão - Sim, à vontade! Aproveito e como um pouco enquanto vos ouço.
Sr. Vermelho - Muito bem, sr. Rosa. Acredito que não podes negar que há males para a própria preservação da espécie se aceitarmos, como legítimo, o casamento gay, não é mesmo?
Sr. Rosa - Discordo. Se legitimarmos o casamento gay e coisas do tipo não estaremos, com isso, obrigando ou forçando as pessoas a se tornarem homossexual. Acredito, certamente, que muitos sentir-se-ão menos agrilhados e o que chamam por aí de 'sair do armário' tenderá a crescer.
Sr. Vermelho - Então concordas que a liberação acabará por influenciar a sociedade?
Sr. Rosa - Não determinantemente, e nem predominantemente. A maioria das pessoas continuam sendo heterossexuais nos lugares mais permissivos - se é que são mesmo, pois acredito que todos tenham alguma tendência...
Nesse momento o sr. Vermelho fez um movimento brusco e o sr. Rosa viu que exagerou.
Sr. Cristão - Sr. Rosa, se algum cristão o interpelasse dizendo que, no fundo, o senhor sente atração por mulheres, o senhor sentir-se-ia satisfeito?
Sr. Rosa - É evidente que não! Já entendi seu ponto. Perdoem-me. Mas pareces admitir que é congênito...
Sr. Cristão - Protelemos este ponto. Continuem de onde pararam.
Sr. Vermelho - Muito bem. É inegável que a aceitação da sociedade fará com que várias pessoas assumam-se gays. Muito mais do que agora. E muitos o farão, até mesmo, por moda. Isso minorará nossa capacidade procriativa.
Sr. Rosa - Bom, primeiro que, por esse raciocínio, terias de condenar tudo o mais que não procria.
Sr. Vermelho - Como assim?
Sr. Rosa - O celibato também teria de ser condenado, posto que atenta contra a preservação da espécie.
Sr. Vermelho - Talvez. Por que não? Fazes um ad baculum!
Sr. Rosa - Ok. E achas que o baculum não lhe atinge? Pois mostrarei que atinge...
Sr. Cristão - Permitam-me interrompê-los por um breve instante. Preciso salientar que não considero, como parece considerar o sr. Vermelho, a preservação da espécie como o valor supremo pelo qual se julga todas as demais coisas. E é evidente que não recrimino o celibato. Não em si, conforme as Escrituras... Mas, prossigam.
Sr. Rosa - Bom, sr. Vermelho, o senhor compactua com a ideia de que o os homossexuais agem contra a natureza por praticarem sexo que não é para a procriação?
Sr. Vermelho - Até porque não podem, não é mesmo...
Sr. Rosa - Indubitavelmente que não. Mas não vem ao caso. Sei que não és católico também. Por isso, não tomas o sexo como se tivesse esse único fim.
Sr. Cristão - E diante de um católico, o que dirias?
Sr. Rosa - Diria que, se assim fosse, eles teriam de parar com uma série de outras práticas que parecem dar uma utilidade secundária para os vários órgãos que têm. Eles usam a boca para beijar, e ela parece ter sido feita para comer e falar. Usam as mãos para tocar violão, além de servirem para a obtenção de alimento. Além disso, teriam de proibir a masturbação e o sexo oral também.
Sr. Cristão - Argumentação interessante. Mas eles proíbem masturbação. Retires essa parte do argumento...
Sr. Rosa - Hum. Percebo. Enfim, o argumento se segue. Além disso, se corrermos para a ideia de que os órgãos estariam sendo usados para fins inapropriados, ou não naturais, estaríamos incorrendo em grandes dificuldades. Seria como se alguém tivesse pensado neles...
Sr. Vermelho - Já entendi o seu ponto.
Sr. Cristão - Noto que essa argumentação teria poder de convencimento somente sobre aquele que concorda com os teus pressupostos naturalistas. Se Deus existe e criou o homem, é perfeitamente razoável pensar que os órgãos foram criados para fins determinados e que usá-los para outros fins seria errado.
Sr. Rosa - Os olhos foram feitos para ver. Mas isso te impede de dar uma boa piscadela?
Sr. Cristão - Não. Mas as mãos foram feitas para vários fins, conforme a criatividade humana, que é dom de Deus. No entanto, elas podem ser usadas de forma inadequada para matar. E de fato foram.
Sr. Rosa - Mas não são vocês que defendem que existe guerra santa e coisas do tipo? Nesse caso, há um uso legítimo das mãos para causar dano.
Sr. Cristão - Como tu abres pontas, sr. Rosa! É bem possível que eu tenha deixado algum ponto sem responder por não conseguir me lembrar de todos, e não por não ter respostas. Pois bem, percebestes o meu ponto. Há momentos adequados e pessoas certas para usarmos nossos membros, órgãos e afins. E o sexo é destinado aos casais.
Sr. Vermelho - É fácil mostrar que é contra a natureza! Basta olharmos para a maioria esmagadora das pessoas sobre a terra. Logo será notado que é algo anormal.
Sr. Rosa - Irritar-te-ás, mas tenho que refutá-lo novamente. Se as coisas são decididas, assim, por estatística, então ser albino, que é 'anormal', é, também, errado.
Sr. Vermelho - Mas ser albino não é opção ou ação moral!
Sr. Rosa - E quem falou que ser gay o é?!
Sr. Cristão - Parece inevitável que entremos nessa questão, não é mesmo? Bom, para começo de conversa, sr. Rosa, crês que as condições biológica são indelevelmente determinantes?
Sr. Rosa - Bom, às vezes sim, às vezes não. Também acredito e admito no poder educativo. Mas acredito que a força mais determinante é a biológica.
Sr. Vermelho - Então acreditas que um psicopata também não tem escolha?
Sr. Rosa - Não é isso!
Sr. Cristão - Parece-me um corolário do que afirmas e pressupões, senhor Rosa. Aliás, parece-me enredá-lo também, sr. Vermelho.
Sr. Vermelho - E como tu vês isso?
Sr. Cristão - Acredito que existam fatores espirituais determinando as escolhas. Mas há cristãos que acreditam que as escolhas não são eficientemente determinadas, e outros que as vêem fortemente influenciadas. Não vem ao caso entrarmos nessa discussão prolongada da teologia agora, acredito eu.
Sr. Vermelho e Sr. Rosa - Não mesmo!
Sr. Rosa - Muito bem, sr. Cristão, ainda quero tua apreciação. Como é que eu, que sinto atração natural por homens, poderia deixar de pecar?
Sr. Cristão - Na verdade é muito simples, mas como tudo que envolve conselhos sexuais, dado seu poder de nos mover, é difícil de aceitar. O que tens que entender é o seguinte. A Bíblia não condena as tendências homossexuais. A Bíblia condena as práticas homossexuais, e essa distinção é crucial!
Sr. Rosa - Mas seria legar-nos uma vida muito infeliz, sem poder amar!
Sr. Cristão - Na verdade, concebes a felicidade e a santificação de forma pobre, caro sr. Rosa. Para começo de conversa, a santificação demandada pelas Escrituras implica em abdicação da parte de todos. Alguns em maior grau, outros em menor. De alguns exige a castidade. Acredito que o mesmo se dê com os que têm tendências homossexuais. Por exemplo, condenamos a promiscuidade, a fornicação o adultério e demais pecados sexuais, e a prática homossexual está inclusa. Aliás, é possível até mesmo que alguém que não tenha tendências homossexuais resolva 'experimentar', o que seria condenável da mesma forma. Pessoas menos dotadas de beleza ou com alguma deficiência podem querer se rebelar e voltar-se a qualquer tipo de relacionamento que o Senhor desaprove. Entretanto, aquele é o fardo que fora destinado a elas. Podemos e devemos tentar ajudar de todas as formas possíveis, mas não podemos ceder que elas pequem para tentar aliviar suas dores.
Sr. Rosa - Algo ficou pendente! Como sei que essa norma que proíbe o homossexualismo não é mais uma daquelas obsoletas?
Sr. Cristão - Bom, praticamente porque a razão de ser dela não cessou. Não tornou-se natural...
Sr. Rosa - Novamente a questão do 'natural'...
Sr. Cristão - Mas veja que justifico minha teleologia. Além do mais, o fato de um homem e uma mulher conseguirem procriar parece-me, sim, um indício de que são o par natural.
Sr. Rosa - Falas como se fosse uma doença!
Sr. Cristão - Bom, certamente é um 'defeito', fruto do pecado no mundo, e que manifesta-se particularmente causando esse desregulamento.
Sr. Rosa - Se concebes que alguém com tendências naturais para crimes deves conter-se e agora parece falar da mesma forma a respeito do homossexualismo...
Sr. Cristão - Tens, tal como aqueles, que conter teus impulsos. Por mais desagradável que seja, é assim que tem que ser. E é assim para ti e para ele. Tens que admitir que dentro de um quadro teórico que toma os pressupostos bíblicos, as coisas são assim.
Sr. Rosa - Pois prossiga na explicação da Bíblia Sagrada.
Sr. Cristão - Bom, como era uma norma moral, que não cessou as razões para existir, e que é reiterada no Novo Testamento, então é fato de que é bíblico continuar a afirmar que é pecado a prática homossexual.
Sr. Rosa - Mas, então Deus quer que sejamos infelizes?
Sr. Cristão - Não, sr. Rosa. Certamente é possível que ele queira que tenhas vida casta. Mas estaria, apenas, privado de uma alegria, e não de todas, muito menos da principal, que é saciar a sede de tua alma com a água da vida. Além disso, há esperança. Eu mesmo conheço pessoas com tendências fortes ao homossexualismo que acabaram conseguindo superá-las e até namoram! Algumas relatam que perderam toda a atração para com o mesmo sexo! Mas só Deus sabe qual será teu destino. Uma coisa é certa, ele quer que te retraias.
Sr. Rosa - Percebo... mas não acredito no teu Deus!
Sr. Vermelho - Não precisa, retomemos a questão da preservação da espécie...
Sr. Rosa - Essa é fácil de responder, sr. Vermelho. Basta que os gays se reproduzam com barrigas de aluguel, inseminação in vitro e coisas do tipo... Entre os teus argumentos e os do sr. Cristão, é muito mais razoável acompanhá-lo.
Sr. Cristão - De fato, por um viés utilitarista, acho difícil condenar a prática homossexual. Ela parece-me tão ameaçadora quanto aquelas mentirinhas insignificante que as pessoas contam. Mentiras que não prejudicam a ninguém. Aparentemente, se são insignificantes nos resultados que produzem, são também para a moral em si. O problema é que, se existe um Deus, os valores existem objetivamente, e mesmo que as transgressões não produzam algum efeito ruim, elas são más em si. A propósito, uma cosmovisão cristã consistente, inclusive, admitiria que as coisas podem até estarem desequilibradas nesse mundo. Injustiças não são sempre castigadas, por exemplo. Mas isso se dá porque ainda estamos numa realidade de 'Queda'. O mundo não é o que deveria ser por causa de sua contaminação pelo pecado. Talvez seja por isso que as coisas não venham a dar tão errado para várias injustiças.
Sr. Vermelho - E o que respondes às questões a respeito de serem felizes, sr. Cristão? Sei que condenarias minha juventude também, mas estava apenas sendo feliz...
Sr. Cristão - Estaríamos entrando, talvez, para um outro assunto...
Sr. Rosa - Não, de forma alguma. É, ainda, sobre sexualidade.
Sr. Cristão - Bom, o problema é que estão tomando felicidade por hedonismo grosseiro. Nem é preciso ser cristão para saber que isso não traz, necessariamente, felicidade...
Sr. Rosa - Eu não estava encarando as coisas assim. Falava de amar de verdade...
Sr. Cristão - Bom, faríamos um looping eterno aqui, pois eu insistiria que a maior felicidade está em encontrar-se com Cristo e as outras coisas são, embora importantes, adendos.
Sr. Rosa - Ainda acho que furtam nossos direitos ao mesmo tempo que pregam igualdade. Parece, pois, que a Bíblia é incoerente.
Sr. Cristão - Bom, seria interessante salientarmos que os direitos de igualdade conquistados por mulheres e negros devem muito às investidas de cristãos... Mas, detenham-nos no que dissestes. Igualdade é o direito de toda pessoa poder se casar. Mas casamento, essencialmente, é, segundo as Escrituras, algo realizado entre um homem e uma mulher.
Sr. Rosa - Mas isso não limita o conceito de igualdade?
Sr. Cristão - E dirias que o conceito de liberdade é limitado quando eu digo que não podes intentar contra minha vida?
Sr. Rosa - Não mesmo!
Sr. Cristão - Pois bem, acredito que o fazes porque acredita que a liberdade é condicionada e cerceada por princípios. A igualdade também. Todo homem tem o direito a relacionar-se com uma mulher. Toda mulher tem o direito de relacionar-se com um homem. Quando se diz 'ter direitos iguais', queremos dizer que algumas coisas lhe são inerentemente pertencentes. A questão é discutir o que são essas coisas.
Sr. Rosa - Pois digo que é amar e ser amado por quem bem se entende.
Sr. Cristão - Inclui, pois pedofilia?
Sr. Rosa - Claro que não! A criança não pode consentir de forma não viciosa!
Sr. Cristão - Inclui, zoofilia?
Sr. Rosa - Também não!
Sr. Cristão - Com todo o respeito, mas não vejo com quais critérios elimina esses itens. E vou mais além, digo que dizes o que é certo e errado recorrendo a algum padrão absoluto de moralidade.
Sr. Rosa - Aonde queres chegar com isso?
Sr. Cristão - Que se o padrão disser que é errado fazer algo, não importa se as pessoas consentem ou se acreditam ter esses direitos.
Sr. Rosa - Tudo bem, mas e se eu não aceito esse padrão?
Sr. Cristão - Terás de justificar o padrão pelo qual decides...
Sr. Rosa - Combinado, mas deixemos essa discussão para outro momento. Por hora, eu diria que rejeito o teu Deus.
Sr. Cristão - Sim, todos já estão fartos. Eu concluiria que é o único jeito de continuares sustentando teu homossexualismo.
Sr. Vermelho - Bom, boa noite a todos. De ti, sr. Rosa, não quero nem amizade.
Sr. Cristão - Pois faço questão de devotar-lhe carinho e respeito, desde que mantenha o decoro e o pudor na frente de meus filhos e dos filhos dos outros, como demonstrastes hoje pela noite. No mais, serás tratado por mim com a misericórdia que trato meus amigos que vivem vidas desregradas. Entendo que continuas em rebeldia contra Deus e quero demovê-lo desse caminho.
Sr. Rosa - Pois aprecio muito sua postura, sr. Cristão. Espero que estreitemos os laços e tu possas me apresentar esses seus amigos que mudaram de vida para que eu veja com meus próprios olhos e ouça deles mesmos o que lhes aconteceu.
Sr. Cristão - Será um prazer!

4 comentários:

  1. Olá. Não li o texto ainda, mas gostaria de encontrar nele uma boa resposta a este desafio: Algo seríssimo para os cristãos, sobre o casamento igualitário, e que os cristãos poderiam facilmente aceitar, é QUE SER CONTRA O SEXO GAY NÃO IMPLICA EM SER CONTRA O CASAMENTO GAY NO DIREITO CIVIL: SER ERRADO MORALMENTE (AO MENOS EM TERMOS DE MORAL SECULAR, e suponho que um bom cristão aceita que em sociedades pluralistas e tolerantes temos de apelar, quanto à lei e ao Estado, para a moralidade secular - ou seja, não religiosa! - e não para a moral religiosa - por exemplo, usar o que é pecado para ser algo proibido pela lei), pois continuando, SER ERRADO MORALMENTE E SER ERRADO LEGALMENTE NÃO PODE SER CONFUNDIDO COM SER ERRADO RELIGIOSAMENTE. Ser pecado pode levá-lo a não praticar algo e a desaprovar que uma pessoa o pratique, mas não deveria ser razão SUFICIENTE para se impor tal desaprovação e proibição pela lei (proibir o casamento gay é uma forma de impor a falta do casamento gay, a obrigação do casamento hetero apenas) e pelo Estado: isso é algo parecido com a Cristandade autoritária do medievo, não? Na sociedade romana os cristãos tentaram impor pela lei o fim da homossexualidade? Ou pelo convencimento e apelo individual à conversão? Se foi da segunda maneira, querer proibir o casamento gay "porque é pecado" é usar a estratégia 1 (impor a virtude pela lei e pela força de César, ou seja, do Estado! "Convencimento" à força. Não parece conversão. O que acham? Mas vou ler quando puder e tirar minhas próprias conclusões. Valeu!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Vida Ética Hoje, é uma ótima questão, e confesso-te que não tenho uma resposta elaborada para esse ponto ainda. Eu já vi que, por exemplo, o Reinaldo Azevedo é a favor do direito ao casamento civil ser concedido aos gays. Não obstante, o texto tem o intuito apenas de discutir a questão de ser ou não pecado e como o cristão (ortodoxo) deve reagir diante de um homossexual. Adiante, noutra ocasião, posso pensar num artigo trabalhando essa questão, ou indicá-lo a alguém que tenha mais competência que eu para dissertar sobre.
      Obrigado pelo comentário! Espero tua apreciação ao texto. :)

      Excluir
    2. Não sei por que meu nome, Alcino Bonella, apareceu com o nome de um blog que fiz e que nem uso, vida ética hoje. Foi mal! abraço,

      Excluir
    3. Eu não entendo dessas questões cibernéticas... hehe
      Seja como for, está identificado! ^^ Não se incomode :)

      Excluir